São Paulo, Quinta-feira, 12 de Agosto de 1999
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Como ganhar no futebol de hoje (3)

MATINAS SUZUKI JR.
da Equipe de Articulistas

Vimos, nas duas semanas anteriores, as questões relativas à necessidade de um grande (em número e em qualidade) elenco, da preparação das categorias mais jovens, as amplas e complexas atividades médicas e de preparação física, tudo isso para se montar uma equipe vencedora no futebol de hoje.
Vimos também as questões relacionadas aos aspectos psicológicos da preparação. Terminamos, na semana passada, tocando no tema da formação do ""grupo", como se diz aqui no Brasil.
Muitos treinadores acham que o comportamento e a atitude dos jogadores está mesmo acima de suas habilidades técnicas.
Wanderley Luxemburgo tem se mostrado assim.
Louis van Gaal, ex-Ajax e atual Barcelona, controla rigorosamente o horário de seus jogadores e chegou até mesmo a proibir os jogadores do time de Amsterdã a usar chuteiras coloridas.
Já o igualmente holandês Johann Cruyff, no Barcelona, liberou Romário dos treinamentos, porque queria o atacante feliz e fazendo gols. Coincidência ou não, Romário teve a sua melhor fase naquele período.
Relacionada a essa questão está o que se chama modernamente de ""construção do time" (""team building", em inglês).
O primeiro grande formulador desse conceito talvez tenha sido técnico holandês Rinus Michels, o criador da famosa ""laranja mecânica" da década de 70.
Aí reside o principal desafio para técnicos e managers de futebol hoje em dia -e esse trabalho demanda tempo, planejamento e paciência, três atributos que faltam ao futebol brasileiro de uma maneira geral.
Para Michels, embora o trabalho psicológico seja importantíssimo, o fundamental é a ""construção" do time em campo em termos táticos. Esse trabalho envolve três fases:
1) Organização. É o que chamaríamos de piloto automático. Um time não tem tempo para pensar em campo. Precisa reagir automaticamente a cada nova situação de jogo -e para isso precisa de muito treino e de muita disciplina tática.
2) Estratégia. É a escolha fundamental. Seu time vai ser um time de ação ou de reação. Ele vai se impor aos adversários ou vai adotar uma estratégia de contra-atacar?
3) Tática. É como vai enfrentar cada adversário em determinada partida. Sob esse aspecto é preciso avaliar o esquema e os jogadores da outra equipe, sua posição na tabela, se o jogo é dentro ou fora de casa etc.
Essas escolhas precisam sempre levar em consideração que o futebol é dinâmico, e todos os dias um técnico se depara com fatores internos e externos que o obrigam a mudar a escalação do time, a tática e, muitas vezes, até a estratégia.
Mais difícil de mudar são alguns valores perenes que ele pode criar no time. Vamos continuar no assunto.


Matinas Suzuki Jr. escreve às quintas e é diretor-editorial adjunto da Abril S.A.

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