São Paulo, sexta-feira, 12 de setembro de 2008

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Remédios e água atormentaram Jade

Ginasta diz ter sofrido com vômitos na Olimpíada devido a altas doses de medicação para minimizar dores no punho

Atleta carioca afirma que, devido à proibição imposta por técnicos sobre a água, fez com que até usasse o chuveiro para matar a sede


Marcelo Régua/Agência O Dia
Jade Barbosa, que não pode fazer exercícios de força com o punho, exercita-se no Flamengo sob os olhares de Daniele Hypólito

CRISTIANO CIPRIANO POMBO
DA REPORTAGEM LOCAL

Maior promessa da ginástica artística feminina do país na Olimpíada, Jade Barbosa, 17, diz que competiu no sacrifício em Pequim devido a erros médicos da CBG (Confederação Brasileira de Ginástica).
Isso porque a atleta carioca afirma ter feito uso antes e durante os Jogos de medicamento cuja venda estava suspensa pela Anvisa e em dosagem muito acima da recomendada por médicos consultados pela Folha.
Conseqüência disso, Jade diz que vomitava muito e que se sentia fraca a maior parte do tempo. "Tomava os remédios por causa da dor no punho. Eu até melhorava um pouco da dor, mas, depois, tinha muitos vômitos, não conseguia treinar direito e tinha a sensação de estar sem força nas pernas."
O remédio dado à atleta pelo médico Mário Namba foi o Prexige (do laboratório Novartis), antiinflamatório que foi tirado do mercado em julho sob suspeita de causar efeitos colaterais -o medicamento, que não é dopante, já havia sido vetado na Austrália no ano passado.
A atleta relata que começou a tomar um comprimido de 400 mg por dia em fevereiro, orientada por Namba. Já no Japão, em julho, durante o período de aclimatação para a Olimpíada, passou a tomar dois comprimidos e, já em Pequim, três ao dia.
Essa dosagem foi o que mais surpreendeu médicos ouvidos pela Folha. "Pelo peso da Jade [46 kg], creio que o Prexige foi ministrado mais como analgésico, para a dor, do que antiinflamatório. Mas três comprimidos de 400 mg é quantidade excessiva e não recomendada", diz o médico Wagner Castropil. A bula do remédio relata que, na dosagem de 400 mg, deve-se tomar só uma cápsula por dia.
Tanta dosagem fez até o médico ortopedista Ricardo Laranjeira, que trata a atleta, evitar o uso de medicamentos agora. "A Jade tomou doses excessivas, agora é preciso um descanso. O punho exige cuidados, pois tem necrose e problemas de vascularização."
O remédio, que Jade diz ter identificado pela embalagem, é contra-indicado para pacientes com disfunções renais. E problema nos rins é outro ponto em que a atleta ataca a CBG.
"Não podíamos tomar água. Era proibição dos técnicos. Podíamos no máximo dar borrifadas de uma garrafinha com spray na boca, tentar refrescar o corpo, mas, ainda assim, isso era feito escondido."
Para ela, a medida, que vigora desde que chegou à seleção em 2005, pode ter desencadeado seu problema de pedras no rim. "Quando tive crise renal e pedras nos rins, fui orientada pelo médico a tomar 1,5 litro de água por dia, mas tive restrições e tinha que ouvir piadas: "Lá vai a Jade tomar a agüinha". E, se pedia água, davam quente, esquentada no microondas, e eu não conseguia tomar. No Japão, no desespero, porque fechavam o registro do filtro, tomei a água do chuveiro. Hoje tenho cinco pedras nos rins."
A atleta diz que só decidiu falar após constatar que o estafe da CBG omitiu a gravidade de sua lesão, que fará com que perca a finalíssima da Copa do Mundo (dezembro) e pode até encurtar sua carreira. O pai da atleta já disse que irá processar a entidade por "negligência".
Procurada, a CBG disse que irá falar sobre o caso hoje, assim como Namba, em coletiva de imprensa em Curitiba.


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