São Paulo, sábado, 12 de setembro de 2009

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Chefe da Renault revida acusações

Briatore processa Nelsinho Piquet por calúnia e chantagem, critica seu desempenho e o classifica de "filhinho de papai"

Dirigente faz insinuações sobre a vida pessoal do brasileiro e ataca seu pai, o tricampeão Nelson; em nota, piloto diz nada temer

Robert Ghement/Efe
Flavio Briatore, chefe da Renault, que, segundo Nelsinho Piquet,
orientou-o a bater propositalmente no GP de Cingapura de 2008


TATIANA CUNHA
ENVIADA ESPECIAL A MONZA

Um dia após o depoimento de Nelsinho Piquet à FIA se tornar público, Flavio Briatore, seu ex-manager e ex-chefe na Renault, contra-atacou.
Além de entrar com um processo na Justiça francesa por calúnia e chantagem, o dirigente italiano se pronunciou pela primeira vez sobre o caso em que seu time é acusado de ter pedido ao brasileiro para bater o carro de propósito durante o GP de Cingapura de 2008 -e favorecer seu companheiro, o espanhol Fernando Alonso.
As acusações de Briatore, porém, não ficaram somente na esfera esportiva. O dirigente fez também insinuações sobre a vida pessoal de Nelsinho.
Dizendo-se chateado com o fato de apenas um lado da história ter sido revelado e o vazamento do depoimento de Nelsinho ter sido prejudicial à Renault, Briatore chamou a imprensa em Monza para se defender. A pedido do dirigente, pequenos grupos de repórteres, separados por idioma, foram chamados ao motorhome da equipe para entrevistá-lo.
"Para mim, tudo que dizia respeito a esta investigação da FIA era um segredo. Havíamos combinado que ninguém comentaria nada, mas, depois do que vimos nos jornais hoje [ontem], precisávamos falar, pois tenho certeza de que não fizemos nada do que somos acusados", declarou Briatore à imprensa brasileira e espanhola.
O chefe do time afirma possuir provas de que as acusações contra ele são falsas -segundo o depoimento de Nelsinho, o acidente foi combinado horas antes da corrida em reunião com Briatore e Pat Symonds, diretor técnico da Renault.
"Não posso entrar em detalhes porque esse caso será julgado pelo Conselho Mundial [no próximo dia 21, em Paris], mas antes daquele GP de Cingapura o Nelsinho teve 17 incidentes. Foram 17 incidentes", falou Briatore, sem especificar se eles foram só durante corridas -até aquela prova, a 15ª do piloto na F-1, Nelsinho não havia completado sete etapas, duas por problemas no carro.
O chefe da Renault falou que suas queixas contra o brasileiro são estritamente profissionais.
"A única coisa que tenho contra ele é o fato de não ter mostrado resultados. Eu sempre tentei ajudar o Nelsinho, mas a verdade é que ele é um filhinho de papai, um menino mimado, que sempre teve seu próprio time, sempre teve o pai lhe dando os melhores carros e, quando ele finalmente chegou numa competição de verdade [a F-1], perdeu a cabeça."
Ao ser questionado se esperava que seu ex-comandado fosse capaz de fazer uma acusação tão grave como a de planejar um acidente para que o outro piloto do time pudesse ser beneficiado, Briatore disparou.
"Nelsinho me acusa de ter rompido seu relacionamento com um amigo. Como não gosto de ser acusado de nada, digo que fiz isso porque o pai dele me pediu", falou. "Ele vivia com esse senhor, não se sabe que tipo de relação eles tinham, mas o pai estava muito preocupado com esse relacionamento dele com esse cara de 50 anos e pediu que eu interviesse", completou Briatore, para seguir.
"Proibi que esse senhor viesse às corridas e mudei o Nelsinho de Oxford para Londres. Coloquei-o no prédio em que eu moro para tê-lo sob controle. E, agora, Nelsinho me acusa de ter levado seus amigos."
O homem a quem o italiano se refere é Marc Cavezzale, antigo amigo da família Piquet e um dos patrocinadores de Nelsinho quando ele estava na F-3, que ofereceu a casa em Oxford para ajudar o piloto brasileiro.
Não contente em atacar apenas o filho, Briatore também fez críticas a Nelson Piquet. "Conheço muito melhor o pai do que o filho e sabemos que ele gosta de denegrir as pessoas. Ele sempre falou mal do [Ayrton] Senna, da mulher de Mansell, e por aí vai", disparou.
Nos EUA para assistir a uma corrida da Nascar, Nelsinho disse que não poderia comentar as declarações do italiano.
Mas, por meio de sua assessoria, emitiu um comunicado. "Como estou falando a verdade, não tenho nada a temer, seja a Renault [que também entrou com processo] ou o Briatore."
"Mesmo sabendo do poder e da influência daqueles que estão sendo investigados e dos enormes recursos que eles possuem, não serei novamente intimidado a tomar uma decisão da qual me arrependa."


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