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São Paulo, domingo, 12 de outubro de 2003

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FUTEBOL

Futebol de Butão

RODRIGO BUENO
DA REPORTAGEM LOCAL

Você deve se lembrar de uma tal ""outra final" em 2002 entre as seleções de Butão e Montserrat, uma partida no dia da decisão da Copa para saber quem era a pior seleção do mundo.
Bom, Butão venceu aquele jogo, disputado em casa, e apareceu efetivamente para o futebol mundial. A federação do país foi a 204ª filiada à Fifa, a última. E a caçula da ""família do futebol" agora ascende, com fé e a ajuda de todo o planeta, em campo.
Com aquela vitória épica, a primeira de Butão, time que havia perdido de 20 a 0 do Kuait, a seleção cresceu no ranking da Fifa. Pulou da posição 202 para a 199. Neste ano, o time ousou jogar um qualificatório para tentar chegar às eliminatórias da Copa da Ásia de 2004. Butão fez 6 a 0 em Guam e empatou com a Mongólia em 0 a 0. Passou pelo qualificatório e agora é a seleção 191 do planeta.
Terá a honra de jogar contra a Arábia Saudita, o Iêmen e a Indonésia. Em parte, graças a Buda.
Várias dificuldades atrapalham o futebol butanês, que, antes de qualquer partida, vê torcedores rezando pelos dois times, por um bom jogo. Falta de dinheiro, pouco intercâmbio, geografia (Himalaia) e cultura (a TV no país só foi liberada em 1998, por causa da Copa) são só alguns obstáculos.
Por isso um inglês chamado Matthew Guy decidiu ajudar Butão. Navegando na internet, ele descobriu o país e sua breve e bonita história futebolística. Com seus 30 anos, foi conhecer o lugar, criou um time lá, o Druk United, e, não satisfeito, lançou ainda uma fundação para ajudar o futebol butanês, a Balls for Bhutan.
""A ajuda é importante porque eles não tinham acesso a materiais esportivos. Sem essa ajuda, eles não poderiam praticar o jogo que amam. Butão é um país pobre, e o dinheiro deles é precioso demais para ser gasto com materiais", disse Guy à coluna.
O povo butanês vai trocando o tiro com arco pelo futebol como seu esporte predileto. Já há três divisões no país. A 1ª e a 2ª contam com nove times, e a Série C é formada basicamente por equipes juniores. A liga acontece durante oito semanas na metade do ano.
""Posso dizer que a liga tem potencial para produzir grandes jogadores no futuro. É um processo lento por causa da falta de equipamentos. Mas os butaneses são pessoas alegres e fazem o melhor uso do que têm. Eles também não podem viver só como atletas, pois há pouco dinheiro. Precisam se dedicar a outras coisas", diz Guy.
A maioria dos times joga na região da capital (Thimphu), mas existem algumas equipes que disputam torneios em outras regiões do país. Equipes passam dias fazendo viagens para atuar a mais de 5.000 m de altitude. O clima não deixa ter jogo todo o ano, e a seleção não tem como viajar.
A iniciativa de Guy ganha força. Muitos estão enviando materiais esportivos para ajudar equipes do Butão, cuja seleção pode se tornar a seleção de todo mundo. ""Vencer no Butão não é tudo. Eles são todos felizes por estarem jogando e recebem qualquer resultado como uma vitória. São budistas e têm grande humildade, respeito por todos", diz Guy.
No Butão, não há perdedores.

O craque
Wangay Dorji, atacante que atua na Índia, é o melhor do Butão.

O time
O DrukPol é o campeão, mas o Druk United, clube criado por Matthew Guy, já tem 11 jogadores nas seleções sub-17 e sub-19 do Butão.

A história
O épico duelo entre Butão e Montserrat virou filme: ""The Other Final". Está sendo exibido, no circuito alternativo, em alguns países.

A ajuda
Pessoas interessadas em ajudar com material esportivo o futebol de Butão podem enviar um e-mail (ballsforbhutan@hotmail.com).

E-mail rbueno@folhasp.com.br

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