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FUTEBOL
Futebol de Butão
RODRIGO BUENO
DA REPORTAGEM LOCAL
Você deve se lembrar de uma
tal ""outra final" em 2002 entre as seleções de Butão e Montserrat, uma partida no dia da decisão da Copa para saber quem
era a pior seleção do mundo.
Bom, Butão venceu aquele jogo,
disputado em casa, e apareceu
efetivamente para o futebol mundial. A federação do país foi a
204ª filiada à Fifa, a última. E a
caçula da ""família do futebol"
agora ascende, com fé e a ajuda
de todo o planeta, em campo.
Com aquela vitória épica, a primeira de Butão, time que havia
perdido de 20 a 0 do Kuait, a seleção cresceu no ranking da Fifa.
Pulou da posição 202 para a 199.
Neste ano, o time ousou jogar um
qualificatório para tentar chegar
às eliminatórias da Copa da Ásia
de 2004. Butão fez 6 a 0 em Guam
e empatou com a Mongólia em 0
a 0. Passou pelo qualificatório e
agora é a seleção 191 do planeta.
Terá a honra de jogar contra a
Arábia Saudita, o Iêmen e a Indonésia. Em parte, graças a Buda.
Várias dificuldades atrapalham
o futebol butanês, que, antes de
qualquer partida, vê torcedores
rezando pelos dois times, por um
bom jogo. Falta de dinheiro, pouco intercâmbio, geografia (Himalaia) e cultura (a TV no país só foi
liberada em 1998, por causa da
Copa) são só alguns obstáculos.
Por isso um inglês chamado
Matthew Guy decidiu ajudar Butão. Navegando na internet, ele
descobriu o país e sua breve e bonita história futebolística. Com
seus 30 anos, foi conhecer o lugar,
criou um time lá, o Druk United,
e, não satisfeito, lançou ainda
uma fundação para ajudar o futebol butanês, a Balls for Bhutan.
""A ajuda é importante porque
eles não tinham acesso a materiais esportivos. Sem essa ajuda,
eles não poderiam praticar o jogo
que amam. Butão é um país pobre, e o dinheiro deles é precioso
demais para ser gasto com materiais", disse Guy à coluna.
O povo butanês vai trocando o
tiro com arco pelo futebol como
seu esporte predileto. Já há três divisões no país. A 1ª e a 2ª contam
com nove times, e a Série C é formada basicamente por equipes
juniores. A liga acontece durante
oito semanas na metade do ano.
""Posso dizer que a liga tem potencial para produzir grandes jogadores no futuro. É um processo
lento por causa da falta de equipamentos. Mas os butaneses são
pessoas alegres e fazem o melhor
uso do que têm. Eles também não
podem viver só como atletas, pois
há pouco dinheiro. Precisam se
dedicar a outras coisas", diz Guy.
A maioria dos times joga na região da capital (Thimphu), mas
existem algumas equipes que disputam torneios em outras regiões
do país. Equipes passam dias fazendo viagens para atuar a mais
de 5.000 m de altitude. O clima
não deixa ter jogo todo o ano, e a
seleção não tem como viajar.
A iniciativa de Guy ganha força. Muitos estão enviando materiais esportivos para ajudar equipes do Butão, cuja seleção pode se
tornar a seleção de todo mundo.
""Vencer no Butão não é tudo. Eles
são todos felizes por estarem jogando e recebem qualquer resultado como uma vitória. São budistas e têm grande humildade,
respeito por todos", diz Guy.
No Butão, não há perdedores.
O craque
Wangay Dorji, atacante que atua na Índia, é o melhor do Butão.
O time
O DrukPol é o campeão, mas o Druk United, clube criado por Matthew Guy, já tem 11 jogadores nas seleções sub-17 e sub-19 do Butão.
A história
O épico duelo entre Butão e Montserrat virou filme: ""The Other Final". Está sendo exibido, no circuito alternativo, em alguns países.
A ajuda
Pessoas interessadas em ajudar com material esportivo o futebol de
Butão podem enviar um e-mail (ballsforbhutan@hotmail.com).
E-mail rbueno@folhasp.com.br
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