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BEISEBOL
País, que só disputou competição em 1972 por convite, tem técnico japonês, auxiliar cubano e atletas "estrangeiros"
Salada de sotaques leva Brasil ao Mundial
MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL
O técnico dita ordens em um
quase japonês para o auxiliar cubano, que, em espanhol, orienta o
rebatedor radicado nos EUA.
Foi essa salada de sotaques que
levou a seleção brasileira de beisebol ao seu melhor momento na
história. Graças ao inédito quinto
lugar no Pan, o time conseguiu
pela primeira vez, por méritos
próprios, uma vaga no Mundial,
que começa hoje, em Cuba.
Há 31 anos, na Nicarágua, o Brasil foi pela última vez à competição, por convite. Tinha como arremessador principal Mitsuyoshi
Sato, 56, atual técnico da equipe,
no cargo desde 1983.
"Acho que os jogadores não têm
noção do feito que conseguiram.
Agora estamos andando com as
próprias pernas", diz o japonês
naturalizado brasileiro, que chegou ao país com dez anos, mas
ainda fala com um carregado sotaque e opta pela língua natal para
conversar com os conterrâneos.
No outro prato da balança, para
equilibrar com o estilo zen de Sato, estão os auxiliares cubanos Pedro Omar Carrero e Luiz Valdés.
"Queremos ensiná-los a jogar
com mais garra, a brigar em campo, serem aguerridos como nós,
cubanos. Eles têm técnica e potencial, mas precisam acreditar
mais", diz Valdés, 42, medalha de
ouro nos Jogos de Barcelona-92.
O cubano não verá o time estrear hoje contra o Panamá. Ele ficou na Academia de Beisebol em
Ibiúna (a 64 km de São Paulo)
com os times de base, que mantêm o Brasil entre os melhores do
mundo até a categoria júnior.
"Depois, os meninos crescem e
precisam estudar e trabalhar. Em
Cuba, você tem de estudar antes
de se tornar profissional. Eu só
comecei a jogar aos 20", diz Carrero, 54, três vezes campeão mundial, que será a voz cubana da seleção na ilha de Fidel Castro.
Ele chegou ao Brasil há nove
meses graças a um convênio
mantido entre a federação cubana
e a Confederação Brasileira de
Beisebol e Softbol. Carrero e Valdés recebem salário da CBBS.
Sob o comando da dupla nipo-caribenha no Mundial estarão nove atletas que atuam fora do país.
Sete deles decidiram se aventurar no Japão e jogam por universidades, empresas ou nos times inferiores dos clubes profissionais.
Os outros dois jogam nos EUA,
nas equipes de base da MLB (liga
profissional norte-americana).
"É difícil para a gente se adaptar.
Além de treinarmos menos lá
[nos EUA], a postura dos americanos é diferente. Aqui [na seleção] temos a presença muito forte
da cultura oriental", diz Marcel
Viana, arremessador do Atlanta.
Como Tiago Magalhães, rebatedor do Cincinatti, ele disputa cerca de 140 jogos de abril a setembro, a maioria à noite. E, depois
das partidas, sempre sai.
"Por sermos do time, temos regalias na balada", contra Magalhães, que, como os outros estrangeiros da seleção, foi descoberto por olheiros no Brasil.
A vida é mais resguardada no
Japão, mas a relação com o esporte é a mesma. No exterior, os atletas, quase desconhecidos no Brasil, são tratados como profissionais. "No Japão a gente tem fãs,
sai com os diretores da empresa
com tudo pago", contra Estevão
Sato, um dos três filhos do técnico
brasileiro que estão na seleção.
O jogador atuou por sete anos
no time da Mitsubishi. Foi contratado como funcionário comum, mas sua atribuição principal era jogar. "No fim das contas,
eu só batia cartão", conta.
Um exemplo do interesse das
empresas japonesas nos talentos
nacionais está na academia de
Ibiúna, construída em 1999 pela
Yakult ao custo de US$ 4 milhões.
O espaço, com três campos, piscina e refeitório, serve para treinos
e recebe campeonatos.
A venda de atletas, ainda incipiente, já rendeu dividendos. As
idas de Norberto Rocha e Vitor
Katayama ao Japão custaram US$
600 mil. Outra fonte de renda da
CBBS é a Lei Piva, verba oriunda
das loterias, que repassou neste
ano R$ 600 mil à entidade.
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