São Paulo, segunda-feira, 12 de novembro de 2001

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FUTEBOL

Dia de fazer perguntas

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

O Palmeiras, quem diria, está seriamente ameaçado de não ir à próxima fase do Brasileirão. Uma pergunta para a "turma do amendoim" do Parque Antarctica: não era o Celso Roth que era burro?
O Santos goleia o Cruzeiro com dois gols de Viola (mais um de Marcelinho e outro de Elano) e entra na briga por uma vaga. Uma pergunta para a turma que invadiu o CT santista: não era para o Viola deixar a Vila?

O São Caetano voltou à liderança isolada num jogo morno contra o Corinthians. Nenhum dos times mostrou grande coisa, mas o alvinegro merecia pelo menos empatar, pois dominou a maior parte do jogo. E os abnegados que enfrentaram chuva para ir ao Pacaembu mereciam coisa melhor.

Contra o Vasco, o Atlético-MG perdeu muitos gols e contou com uma ajuda da arbitragem, que anulou um gol legítimo de Romário. Mas um lance bastou para mostrar por que o Galo é um dos melhores times do país: a jogada do segundo gol de Guilherme.
Marques recebeu lançamento na direita, disputou corrida com o zagueiro e cruzou de primeira, sem olhar. Perto da marca do pênalti, Guilherme cabeceou para as redes. Velocidade, técnica e entrosamento, eis o segredo de polichinelo do Atlético de Levir Culpi.

Algumas perguntas sobre a seleção brasileira:
1. Já estão elegendo Luizão como salvador da pátria no jogo contra a Venezuela. Por que sempre tem de haver um messias?
2. Se era para valorizar a posse de bola contra a Bolívia e esperar o momento certo de dar o bote, por que não foram convocados jogadores capazes de fazer isso, como Ricardinho, Zinho, Alex ou Juninho Pernambucano?
3. Juan virou reserva por causa de um escorregão? Então, troca o time todo.
Muitas explicações taxativas para o fracasso brasileiro têm sido apresentadas por torcedores, comentaristas e boleiros. "Falta amor à camisa", "faltou convocar Fulano e Beltrano", "falta treino", falta isso e falta aquilo. De fato, falta tudo.
Desconfio, entretanto, que a melhor pista para entendermos o que se passa com a seleção é a reportagem de Paulo Cobos publicada ontem neste caderno, comprovando que, desde a conquista da Copa-94, a equipe está sendo usada como máquina caça-níqueis, vitrine publicitária e instrumento político, em detrimento da qualidade de sua preparação.
Na opinião de muitos torcedores, essa situação só vai mudar se o Brasil ficar de fora da próxima Copa. Sempre discordei dessa tese, argumentando que uma eventual desclassificação só nos lançaria na depressão e na apatia.
Hoje confesso que já não tenho tanta certeza. O fato é que a atual seleção brasileira não merece se classificar e não está à altura do futebol que se pratica no país. Se estivesse disputando uma chave eliminatória mais dura, como as européias, já estaria fora da disputa faz tempo, dada sua péssima performance.
Não gostaria de ver, pela primeira vez, o Brasil fora da Copa. Mas não me anima a idéia de chegar lá aos trancos (com uma possível ajuda da Fifa), muito menos a de passar um vexame no Oriente. Como Sócrates (o filósofo), só sei que nada sei.

Despedidas
Parabéns à ESPN Brasil, que transmitiu "de enfiada", no sábado, as despedidas de Raí e Maradona. Elas foram condizentes com os homenageados. A de Raí foi discreta e elegante. A de Maradona, melodramática e um tanto circense. Foi bonito, no Parc des Princes, ver craques de diversas gerações, como Júnior, George Weah, Amoroso e o próprio Raí, tratar a bola com um carinho cada vez mais raro. Em "La Bombonera" houve um misto de "marmelada" e novela mexicana, mas não deixou de ser comovente constatar a identificação do povo argentino com seu ídolo maior. Em campo, de quebra, uma legião de brilhantes "bad boys": Stoichkov, Suker, Cantona, Valderrama e o palhaço Higuita. Ponto para Pelé, que foi lá para aplaudir seu maior rival. Vaias para o São Paulo, que perdeu para o PSG a chance de homenagear seu craque.

E-mail: jgcouto@uol.com.br


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