São Paulo, domingo, 12 de novembro de 2006

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TOSTÃO

Vai valer quase tudo

Algum torcedor atravessará o campo de joelhos, e outros ficarão decepcionados com seus santos nesta reta final

FALTAM QUATRO rodadas para terminar o Brasileiro, e quase todos os times lutam por um objetivo. Será que vamos ter surpresas nesta reta final? Nada é impossível. A única lógica do futebol é não ter nenhuma lógica.
Há ainda a guerra nos bastidores. Costuma valer tudo. Por mais irreal que seja uma teoria de conspiração, ela não é impossível de acontecer. É preciso ficar atento.
O número de promessas vai aumentar bastante nesses dias. Certamente, algum torcedor vai atravessar o campo de joelhos. Outros ficarão decepcionados com seus santos. Torcedor muda de santo, mas não muda de time.
Muitos maus cidadãos farão promessas para ajudar os pobres. Assim funciona também parte dos que formam a hipócrita elite econômica. Criam projetos sociais, entretanto lutam com todas as forças para que não sejam aprovadas no Congresso leis que diminuam seus lucros e beneficiem a população.
Nesses momentos, os motivadores, especialistas em discursos óbvios, ficam sobrecarregados de trabalho, principalmente os mais famosos. Existe até motivador com currículo de títulos conquistados no futebol.
Palestras de celebridades costumam dar os mesmos resultados que a dos motivadores. Melhor ainda se o famoso for torcedor do clube e craque nas palavras. Mesmo com essas qualidades, não adiantou muito a palestra do Pedro Bial para os jogadores do Fluminense, que teria ocorrido antes do jogo contra a Ponte Preta, um 0 a 0 no Maracanã.
Contra o Cruzeiro, teoricamente um adversário mais difícil, dizem que o Fluminense vai reforçar o seu time com a palestra de outro tricolor ilustre e de peso, Jô Soares.
Nem a presença de um padre nessa semana foi suficiente para o Fluminense ganhar da fortíssima Ponte Preta, que atuou com dez jogadores durante todo o segundo tempo.
Não se deve confundir a psicologia esportiva com os motivadores.
A psicologia, mesmo quando feita por profissionais competentes, utilizando teorias e práticas cientificas, realizadas a médio e longo prazo e com sucesso, não fascina tanto os jogadores, técnicos e dirigentes quanto os motivadores.
A atual e imediatista sociedade do espetáculo está atrás de palavras mágicas, de milagres, do que parece ser, e não do que é.
Algumas vezes, por sugestionar, iludir e despertar nos atletas a onipotência do pensamento, de que eles, se quiserem, podem tudo, essas palestras têm bons resultados.
A fé remove montanhas, já dizia minha avó.
Os motivadores sempre existiram, mas no passado tinham menos prestígio no futebol do que os pais-de-santo. Os resultados eram os mesmos.
O Cruzeiro tinha um pai-de-santo que recebia até prêmio pelas vitórias. Ele ganhava de "bicho" o mesmo que o cracaço Dirceu Lopes.
A superstição também vai entrar em campo nesta reta final do Brasileiro.
Tudo o que já deu certo é repetido, como usar a mesma cor da camisa ou beijar a medalhinha 499 vezes antes do jogo. Se forem 500 ou 498, não dá certo.
Antes do Mineirão, quando o Cruzeiro era mais pobre, o time se concentrava em um hotel no centro, perto da zona boêmia de Belo Horizonte. Havia na equipe um centroavante matador, que saía todas as noites na véspera do jogo para encontrar a sua parceira. Ele voltava mais tarde, dormia feliz e fazia os gols. O técnico descobriu, proibiu a sua saída, e ele deixou de marcar. Fizemos um pedido ao treinador, o matador retornou aos braços de sua amada e tudo voltou ao que era, para a alegria de todos.


tostao.folha@uol.com.br

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