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TOSTÃO
Vai valer quase tudo
Algum torcedor atravessará o campo de joelhos, e outros ficarão decepcionados com seus santos nesta reta final
FALTAM QUATRO rodadas para
terminar o Brasileiro, e quase
todos os times lutam por um
objetivo. Será que vamos ter surpresas nesta reta final? Nada é impossível. A única lógica do futebol é não
ter nenhuma lógica.
Há ainda a guerra nos bastidores.
Costuma valer tudo. Por mais irreal
que seja uma teoria de conspiração,
ela não é impossível de acontecer. É
preciso ficar atento.
O número de promessas vai aumentar bastante nesses dias. Certamente, algum torcedor vai atravessar o campo de joelhos. Outros ficarão decepcionados com seus santos.
Torcedor muda de santo, mas não
muda de time.
Muitos maus cidadãos farão promessas para ajudar os pobres. Assim
funciona também parte dos que formam a hipócrita elite econômica.
Criam projetos sociais, entretanto
lutam com todas as forças para que
não sejam aprovadas no Congresso
leis que diminuam seus lucros e beneficiem a população.
Nesses momentos, os motivadores, especialistas em discursos óbvios, ficam sobrecarregados de trabalho, principalmente os mais famosos. Existe até motivador com
currículo de títulos conquistados no
futebol.
Palestras de celebridades costumam dar os mesmos resultados que
a dos motivadores. Melhor ainda se
o famoso for torcedor do clube e craque nas palavras.
Mesmo com essas qualidades, não
adiantou muito a palestra do Pedro
Bial para os jogadores do Fluminense, que teria ocorrido antes do jogo
contra a Ponte Preta, um 0 a 0 no
Maracanã.
Contra o Cruzeiro, teoricamente
um adversário mais difícil, dizem
que o Fluminense vai reforçar o seu
time com a palestra de outro tricolor
ilustre e de peso, Jô Soares.
Nem a presença de um padre nessa semana foi suficiente para o Fluminense ganhar da fortíssima Ponte
Preta, que atuou com dez jogadores
durante todo o segundo tempo.
Não se deve confundir a psicologia
esportiva com os motivadores.
A psicologia, mesmo quando feita
por profissionais competentes, utilizando teorias e práticas cientificas,
realizadas a médio e longo prazo e
com sucesso, não fascina tanto os jogadores, técnicos e dirigentes quanto os motivadores.
A atual e imediatista sociedade do
espetáculo está atrás de palavras
mágicas, de milagres, do que parece
ser, e não do que é.
Algumas vezes, por sugestionar,
iludir e despertar nos atletas a onipotência do pensamento, de que
eles, se quiserem, podem tudo, essas
palestras têm bons resultados.
A fé remove montanhas, já dizia
minha avó.
Os motivadores sempre existiram, mas no passado tinham menos
prestígio no futebol do que os pais-de-santo. Os resultados eram os
mesmos.
O Cruzeiro tinha um pai-de-santo
que recebia até prêmio pelas vitórias. Ele ganhava de "bicho" o mesmo que o cracaço Dirceu Lopes.
A superstição também vai entrar
em campo nesta reta final do Brasileiro.
Tudo o que já deu certo é repetido,
como usar a mesma cor da camisa
ou beijar a medalhinha 499 vezes
antes do jogo. Se forem 500 ou 498,
não dá certo.
Antes do Mineirão, quando o Cruzeiro era mais pobre, o time se concentrava em um hotel no centro,
perto da zona boêmia de Belo Horizonte. Havia na equipe um centroavante matador, que saía todas as
noites na véspera do jogo para encontrar a sua parceira. Ele voltava
mais tarde, dormia feliz e fazia os
gols. O técnico descobriu, proibiu a
sua saída, e ele deixou de marcar. Fizemos um pedido ao treinador, o
matador retornou aos braços de sua
amada e tudo voltou ao que era, para
a alegria de todos.
tostao.folha@uol.com.br
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