São Paulo, domingo, 12 de novembro de 2006

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Clubes usam raio-x para achar "gatos"

Radiografias de pulso, coluna vertebral e bacia são as mais precisas para identificar a idade dos atletas e evitar fraudes

Segundo especialistas, as chamadas "linhas de crescimento", presentes em todos os ossos do corpo, somem depois dos 18 anos


JULYANA TRAVAGLIA
DA REPORTAGEM LOCAL

Um simples exame de raio-x pode ajudar a evitar que novos casos como o de Carlos Alberto voltem a aparecer, pelo menos enquanto os jogadores estiverem nas categorias de base.
A técnica, geralmente adotada por grandes clubes em clínicas particulares, parte de uma radiografia do punho, da coluna vertebral ou da bacia. O exame revela a idade óssea da pessoa -nível de maturação dos ossos- e dá pistas valiosas sobre o potencial de crescimento.
Na última terça, a Folha revelou que Carlos Alberto, volante do Figueirense e um dos destaques da equipe no Brasileiro, adulterou seus documentos em cinco anos. O "gato" tem 28 anos, e não 23, como dizia.
"Dependendo da linha de crescimento, você determina a idade. Até os 14 anos, elas são conservadas. Depois, começam a se consolidar", explica Joaquim Grava, médico do Santos. A linha aparece no raio-x, na extremidade do osso. Quanto mais "larga" ela estiver, mais jovem é a pessoa. Após os 18 anos, vai sumindo até tornar-se quase imperceptível. Depois dos 30, a linha praticamente desaparece da radiografia.
"Quando você tem o seu crescimento ósseo parado, não crescerá mais na estatura", afirma. Ele explica que a radiografia do punho é a mais precisa porque, além da linha de crescimento, permite a especialistas a análise do tamanho dos oito ossos da região.
Apesar de ser uma técnica simples e de custo não muito elevado -uma radiografia custa, em média, R$ 50-, o exame de idade óssea é feito somente em um caso específico: quando existe alguma desconfiança de que o atleta não tem a idade que declara nos documentos.
"Não é uma regra dentro do clube. Esse exame é feito mais para que tenhamos um controle do crescimento e do desenvolvimento do atleta", afirma Turíbio Leite de Barros Neto, fisiologista do São Paulo.
Ele diz que a dúvida não surge a partir do rendimento do jovem atleta em campo, mas sim no momento em que o garoto é submetido às avaliações médicas, quando será registrado no clube. "Suponha que um garoto tenha 13 anos no documento, mas apresente características físicas de puberdade [fase de transição entre a infância e a idade adulta] ou maturação sexual [período de desenvolvimento dos testículos, órgãos de reprodução e caracteres sexuais secundários]", exemplifica. "Se existir esse tipo de dúvida, o menino passará pelo exame."
Além dessas características biológicas, outro ponto que leva os clubes a realizar o exame é a origem do atleta, como afirma Rodrigo Caetano, coordenador das categorias de base do Grêmio. Ele diz que os Estados campeões em "gatos" estão no Norte e no Nordeste.
Para ele, o fato de muitos garotos oriundos dessas regiões serem pobres faz com que acabem alterando as idades apresentadas nos documentos. "Isso é cada vez mais corriqueiro. A ânsia familiar e os empresários, que não medem esforços para burlar as leis, fazem com que isso aconteça. Por isso, nós acabamos até fazendo pesquisas em cartórios de registros e escolas, além do exame ósseo", justifica.
Embora haja uma tentativa de fiscalização, Caetano acredita que as entidades são "vítimas" dessa situação. "Nós não somos polícia. Não tem como virarmos órgão fiscalizador. Somos vítimas de pessoas que querem se aproveitar dos garotos para conseguir dinheiro."


Colaborou RENAN CACIOLI, da Reportagem Local

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