|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Torcedor são-paulino morre no DF
Médico que acompanhou caso diz que coronhada desferida por policial militar, e não tiro, foi provável causadora da morte
Inquérito militar apurará o envolvimento de sargento sob a ótica de homicídio e investigará a ação de PMs no jogo Goiás x São Paulo
LARISSA GUIMARÃES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Morreu ontem, em Brasília, o
torcedor são-paulino Nilton
César de Jesus, 26 anos, atingido por uma bala e por uma coronhada no domingo, antes da
partida Goiás x São Paulo, no
estádio Bezerrão (DF).
Poucas horas após a confirmação da morte de Nilton, um
dos médicos que acompanharam o caso afirmou que foi a coronhada, e não o disparo feito
pelo policial militar, a "provável causa" da lesão que vitimou
o rapaz. Nilton teve traumatismo craniano e edema cerebral.
A causa da morte será determinada pelo IML de Brasília.
Imagens de TV divulgadas no
início da semana mostraram
que a arma do sargento José
Luiz Carvalho disparou no momento em que o rapaz levava
uma coronhada dada pelo PM.
O chefe da neurocirugia do
Hospital de Base de Brasília,
Carlos Silvério Almeida, disse
que a lesão "menos significativa" foi a provocada pela bala.
"Ele teria ficado na mesma situação se não houvesse o disparo", avaliou. "A fratura foi provocada pela coronhada."
O médico relatou que a bala
não penetrou o crânio do rapaz.
"Tanto que de início não foi necessária nenhuma cirurgia. A
bala deve ter pegado parte do
pavilhão auricular", disse.
Na manhã de ontem, Nilton
teve uma série de paradas cardiorrespiratórias, até que as
tentativas de reanimação não
deram mais resultado. A família decidiu doar as córneas de
Nilton, que deixa um filho de
um ano e cinco meses.
"O estado era grave desde o
início e se tornou gravíssimo
logo depois, com coma profundo. Fizemos tudo o que poderia
ser feito", avaliou o diretor do
hospital, Luiz Carlos Schimin.
O comandante-geral da Polícia Militar, coronel Antônio José de Oliveira Cerqueira, disse
ontem que a corporação irá agir
em duas frentes. O inquérito
militar irá apurar o envolvimento do sargento, sob a ótica
de homicídio, e também investigará a ação dos policiais que
trabalharam na segurança do
jogo Goiás x São Paulo.
O PM também será submetido a um conselho de disciplina,
que decidirá se o sargento ficará ou não na corporação.
O coronel afirmou que o sargento está afastado, sob acompanhamento psicológico. "Ele
se encontra em uma situação
que necessita de acompanhamento. Trata-se de uma pessoa
que tem sentimentos."
O sargento havia sido preso
no domingo por lesão corporal
grave, mas foi solto na segunda-feira após obter habeas corpus.
A advogada do sargento José
Luiz Carvalho, Alessandra Camarano, disse que o PM está
abalado desde domingo. "Ele
não tem condições psicológicas
de falar sobre o assunto", disse.
A família de Nilton César de
Jesus foi procurada pela reportagem, mas preferiu não se manifestar. Na última terça-feira,
familiares divulgaram uma nota classificando a ação do policial como "brutal, inoportuna e
irresponsável".
Texto Anterior: Ação: Mais mulheres, menos homens Próximo Texto: Fora da UTI: Fã baleado em SP melhora Índice
|