São Paulo, sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

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Torcedor são-paulino morre no DF

Médico que acompanhou caso diz que coronhada desferida por policial militar, e não tiro, foi provável causadora da morte

Inquérito militar apurará o envolvimento de sargento sob a ótica de homicídio e investigará a ação de PMs no jogo Goiás x São Paulo


LARISSA GUIMARÃES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Morreu ontem, em Brasília, o torcedor são-paulino Nilton César de Jesus, 26 anos, atingido por uma bala e por uma coronhada no domingo, antes da partida Goiás x São Paulo, no estádio Bezerrão (DF).
Poucas horas após a confirmação da morte de Nilton, um dos médicos que acompanharam o caso afirmou que foi a coronhada, e não o disparo feito pelo policial militar, a "provável causa" da lesão que vitimou o rapaz. Nilton teve traumatismo craniano e edema cerebral. A causa da morte será determinada pelo IML de Brasília.
Imagens de TV divulgadas no início da semana mostraram que a arma do sargento José Luiz Carvalho disparou no momento em que o rapaz levava uma coronhada dada pelo PM.
O chefe da neurocirugia do Hospital de Base de Brasília, Carlos Silvério Almeida, disse que a lesão "menos significativa" foi a provocada pela bala. "Ele teria ficado na mesma situação se não houvesse o disparo", avaliou. "A fratura foi provocada pela coronhada."
O médico relatou que a bala não penetrou o crânio do rapaz. "Tanto que de início não foi necessária nenhuma cirurgia. A bala deve ter pegado parte do pavilhão auricular", disse.
Na manhã de ontem, Nilton teve uma série de paradas cardiorrespiratórias, até que as tentativas de reanimação não deram mais resultado. A família decidiu doar as córneas de Nilton, que deixa um filho de um ano e cinco meses.
"O estado era grave desde o início e se tornou gravíssimo logo depois, com coma profundo. Fizemos tudo o que poderia ser feito", avaliou o diretor do hospital, Luiz Carlos Schimin.
O comandante-geral da Polícia Militar, coronel Antônio José de Oliveira Cerqueira, disse ontem que a corporação irá agir em duas frentes. O inquérito militar irá apurar o envolvimento do sargento, sob a ótica de homicídio, e também investigará a ação dos policiais que trabalharam na segurança do jogo Goiás x São Paulo.
O PM também será submetido a um conselho de disciplina, que decidirá se o sargento ficará ou não na corporação.
O coronel afirmou que o sargento está afastado, sob acompanhamento psicológico. "Ele se encontra em uma situação que necessita de acompanhamento. Trata-se de uma pessoa que tem sentimentos."
O sargento havia sido preso no domingo por lesão corporal grave, mas foi solto na segunda-feira após obter habeas corpus.
A advogada do sargento José Luiz Carvalho, Alessandra Camarano, disse que o PM está abalado desde domingo. "Ele não tem condições psicológicas de falar sobre o assunto", disse.
A família de Nilton César de Jesus foi procurada pela reportagem, mas preferiu não se manifestar. Na última terça-feira, familiares divulgaram uma nota classificando a ação do policial como "brutal, inoportuna e irresponsável".


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