São Paulo, terça-feira, 13 de janeiro de 2004

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"Não renunciei ao cargo; se quisesse, poderia até voltar"

Folha - Sua saída da Federação Paulista de Futebol não ficou muito bem explicada...
Eduardo José Farah -
Muita gente faz confusão, diz que a minha saída foi tomada num impulso, só que não foi nada disso.
Quando estava terminando meu mandato, resolvi chamar meus companheiros, quer dizer, pessoas que na época eram meus companheiros, e disse a eles que eu não seria candidato à reeleição.
Fui administrando para ver quem seria meu sucessor entre os dois que lá estão [Marco Polo e Reynaldo Carneiro Bastos]. Encontrei alguma dificuldade para definir isso, então avisei que eu seria candidato, mas que não estaria mais fisicamente na federação no mandato seguinte.
Fizemos a eleição, ganhamos por unanimidade, e em 15 de janeiro de 2003 eu me licenciei. Voltei em 5 de agosto e no mesmo dia anunciei meu afastamento da presidência. Mas nunca renunciei ao mandato, o mandato que lá está é o mandato Farah.

Folha - O sr., então, pode voltar à presidência da FPF?
Farah -
Não pretendo voltar atrás, mas poder eu até poderia. Saí por cansaço, mas deixei uma federação em ordem, uma federação que foi muito perseguida em razão da CPI, de alguns atos, para mim, inconstitucionais.
Adoro futebol, adoro a sede da federação, tenho um carinho muito grande pelo trabalho que realizamos ao longo de todos esses anos. Mas eu entendo que parar é uma arte. Ganhar a eleição não é tão difícil quanto você dispor dela, e foi isto que resolvi fazer. Só que você tem que ter a sorte de escolher pessoas adequadas e que tenham palavra. Dirigente só é bom quando a palavra dele é mais importante do que o documento que assina.
Você tem que tomar uma certa precaução na escolha dos amigos, porque você tem o amigo do poder e o seu amigo particular, que é uma coisa raríssima. É muito difícil encher a palma da mão com amigos de verdade.

Folha - O sr. só percebeu isso depois que deixou a federação?
Farah -
Quando fui passar o cargo de presidente, havia estabelecido documentalmente que estaria na minha sala até o dia 30 de junho de 2004. Mas eu consegui detectar que, quando a pessoa não assume o que fala, é difícil assumir o que escreve.
O que me fez enjoar de futebol foram os próprios dirigentes, a deslealdade, um dá golpe no outro, não há mais confiança, vivemos uma das safras menos iluminadas da história do futebol. Se você pensar que já tivemos um Henri Aidar, os dois Facchinas, Vicente Matheus, Oswaldo Teixeira Duarte, houve retrocesso.
Se eu te pedir três nomes para indicar para a presidência da CBF, com certeza você vai encontrar dificuldades enormes. Há dez anos não encontraria tantas.

Folha - Quem é um bom dirigente do futebol para o sr.?
Farah -
Hoje eu considero o Marcelo Portugal Gouvêa um bom dirigente, mas ele não é popular, não é um cara de massa.

Folha - O novo presidente da FPF tem afastado pessoas ligadas à sua administração, inclusive seus filhos. Ele o traiu?
Farah -
Sobre o trabalho dele, não posso fazer críticas porque ainda não o vi, ele não gerou nenhum centavo de receita para a federação. O dirigente que chega e diz que vai cortar despesas age dentro da necessidade, mas deveria pensar primeiro numa receita.
Quanto a demissões, meu pai mesmo dizia: quando você assume o poder em algum lugar, troque os móveis. É um direito dele.
E repito: não confundir amizade do poder com amizade particular. Eu nunca fui à casa do Marco Polo aqui em São Paulo.

Folha - Ele tinha ciência da situação da FPF?
Farah -
O vice do Marco Polo [Reynaldo Carneiro Bastos] é o meu vice dos últimos dez anos e foi o vice de finanças, sabe cada vírgula que existe na federação. Eu conversei com ele e com o Reynaldo para dar uma panorâmica da federação e ver se eles queriam assumir. Como os dois quiseram, a reforma estatutária foi feita. Eles que fizeram, não eu. O único jeito de manter a administração Farah com Pedro ou com Paulo foi fazer a reforma, mas faltou dizer que o vice seria indicado pelo presidente que se afastava.

Folha - O Reynaldo seria o nome indicado?
Farah -
Não sei. Eu tinha dúvidas. Eu acho, quer dizer, achava, prefiro colocar no passado, que os dois se comportariam. Mas quem deve achar são os clubes.

Folha - Uma das combinações quando de sua saída da federação foi que seu escritório faria consultoria para a entidade.
Farah -
Ficou mais na palavra do que no papel, mas não é o mais importante. O que interessa é que eu torço para a federação ir bem. Mas como vai ser dirigida, quem vai ser demitido, se querem tentar apagar a imagem do Farah...
Tenho visto isto na televisão, todo dia, sem querer me comparar, quando falam no salário mínimo, sempre falam no Getúlio Vargas, vão falar da Inglaterra, falam no Churchill, vão falar da China, é o Mao, se forem falar da Fifa, lembram o Havelange, é difícil eliminar uma marca, são coisas que você fez em 15, 20 anos e estão aí.

Folha - E quais suas expectativas para o primeiro Paulista depois da era Farah?
Farah -
Certamente não será o melhor torneio já realizado pela federação. Você organizar um torneio com 21 clubes é demais, acho que 16 é o ideal. Mas, mesmo assim, dá para ser um bom campeonato estadual porque o público estava ávido pelo Paulistão.


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