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"Não renunciei ao
cargo; se quisesse,
poderia até voltar"
Folha - Sua saída da Federação
Paulista de Futebol não ficou muito bem explicada...
Eduardo José Farah - Muita gente
faz confusão, diz que a minha saída foi tomada num impulso, só
que não foi nada disso.
Quando estava terminando
meu mandato, resolvi chamar
meus companheiros, quer dizer,
pessoas que na época eram meus
companheiros, e disse a eles que
eu não seria candidato à reeleição.
Fui administrando para ver
quem seria meu sucessor entre os
dois que lá estão [Marco Polo e
Reynaldo Carneiro Bastos]. Encontrei alguma dificuldade para
definir isso, então avisei que eu seria candidato, mas que não estaria
mais fisicamente na federação no
mandato seguinte.
Fizemos a eleição, ganhamos
por unanimidade, e em 15 de janeiro de 2003 eu me licenciei. Voltei em 5 de agosto e no mesmo dia
anunciei meu afastamento da
presidência. Mas nunca renunciei
ao mandato, o mandato que lá está é o mandato Farah.
Folha - O sr., então, pode voltar à
presidência da FPF?
Farah - Não pretendo voltar
atrás, mas poder eu até poderia.
Saí por cansaço, mas deixei uma
federação em ordem, uma federação que foi muito perseguida em
razão da CPI, de alguns atos, para
mim, inconstitucionais.
Adoro futebol, adoro a sede da
federação, tenho um carinho
muito grande pelo trabalho que
realizamos ao longo de todos esses anos. Mas eu entendo que parar é uma arte. Ganhar a eleição
não é tão difícil quanto você dispor dela, e foi isto que resolvi fazer. Só que você tem que ter a sorte de escolher pessoas adequadas
e que tenham palavra. Dirigente
só é bom quando a palavra dele é
mais importante do que o documento que assina.
Você tem que tomar uma certa
precaução na escolha dos amigos,
porque você tem o amigo do poder e o seu amigo particular, que é
uma coisa raríssima. É muito difícil encher a palma da mão com
amigos de verdade.
Folha - O sr. só percebeu isso depois que deixou a federação?
Farah - Quando fui passar o cargo de presidente, havia estabelecido documentalmente que estaria
na minha sala até o dia 30 de junho de 2004. Mas eu consegui detectar que, quando a pessoa não
assume o que fala, é difícil assumir o que escreve.
O que me fez enjoar de futebol
foram os próprios dirigentes, a
deslealdade, um dá golpe no outro, não há mais confiança, vivemos uma das safras menos iluminadas da história do futebol. Se
você pensar que já tivemos um
Henri Aidar, os dois Facchinas,
Vicente Matheus, Oswaldo Teixeira Duarte, houve retrocesso.
Se eu te pedir três nomes para
indicar para a presidência da CBF,
com certeza você vai encontrar
dificuldades enormes. Há dez
anos não encontraria tantas.
Folha - Quem é um bom dirigente
do futebol para o sr.?
Farah - Hoje eu considero o
Marcelo Portugal Gouvêa um
bom dirigente, mas ele não é popular, não é um cara de massa.
Folha - O novo presidente da FPF
tem afastado pessoas ligadas à sua
administração, inclusive seus filhos. Ele o traiu?
Farah - Sobre o trabalho dele,
não posso fazer críticas porque
ainda não o vi, ele não gerou nenhum centavo de receita para a federação. O dirigente que chega e
diz que vai cortar despesas age
dentro da necessidade, mas deveria pensar primeiro numa receita.
Quanto a demissões, meu pai
mesmo dizia: quando você assume o poder em algum lugar, troque os móveis. É um direito dele.
E repito: não confundir amizade do poder com amizade particular. Eu nunca fui à casa do Marco Polo aqui em São Paulo.
Folha - Ele tinha ciência da situação da FPF?
Farah - O vice do Marco Polo
[Reynaldo Carneiro Bastos] é o
meu vice dos últimos dez anos e
foi o vice de finanças, sabe cada
vírgula que existe na federação.
Eu conversei com ele e com o Reynaldo para dar uma panorâmica
da federação e ver se eles queriam
assumir. Como os dois quiseram,
a reforma estatutária foi feita. Eles
que fizeram, não eu. O único jeito
de manter a administração Farah
com Pedro ou com Paulo foi fazer
a reforma, mas faltou dizer que o
vice seria indicado pelo presidente que se afastava.
Folha - O Reynaldo seria o nome
indicado?
Farah - Não sei. Eu tinha dúvidas. Eu acho, quer dizer, achava,
prefiro colocar no passado, que os
dois se comportariam. Mas quem
deve achar são os clubes.
Folha - Uma das combinações
quando de sua saída da federação
foi que seu escritório faria consultoria para a entidade.
Farah - Ficou mais na palavra do
que no papel, mas não é o mais
importante. O que interessa é que
eu torço para a federação ir bem.
Mas como vai ser dirigida, quem
vai ser demitido, se querem tentar
apagar a imagem do Farah...
Tenho visto isto na televisão, todo dia, sem querer me comparar,
quando falam no salário mínimo,
sempre falam no Getúlio Vargas,
vão falar da Inglaterra, falam no
Churchill, vão falar da China, é o
Mao, se forem falar da Fifa, lembram o Havelange, é difícil eliminar uma marca, são coisas que você fez em 15, 20 anos e estão aí.
Folha - E quais suas expectativas
para o primeiro Paulista depois da
era Farah?
Farah - Certamente não será o
melhor torneio já realizado pela
federação. Você organizar um
torneio com 21 clubes é demais,
acho que 16 é o ideal. Mas, mesmo
assim, dá para ser um bom campeonato estadual porque o público estava ávido pelo Paulistão.
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