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O GP é um bom negócio para São Paulo
PIERO GANCIA
especial para a Folha
O GP Brasil de Fórmula 1 é
um bom ou mau negócio para
São Paulo?
Em face dos flagelos que vêm
infernizando a vida do paulistano e da falta de dinheiro em
caixa alardeada pelo prefeito
Celso Pitta, há quem ache que
os US$ 11 milhões utilizados
neste ano para a reforma do
autódromo de Interlagos são
dinheiro mal gasto.
Como um dos responsáveis
por trazer o evento de volta à
cidade, considero o Grande
Prêmio não só um ótimo negócio como também uma forma
de aprimorar a imagem do
país no exterior.
O autódromo de Interlagos
foi o berço de pilotos de nível
internacional, entre eles três
campeões mundiais, que lá
iniciaram suas carreiras e
trouxeram para o Brasil nada
menos que oito títulos.
A cobertura televisiva do
Grande Prêmio Brasil atinge
114 países e 340 milhões de pessoas, e, segundo a indústria de
turismo, além das 1.600 pessoas pertencentes ao circo e
dos 400 jornalistas que cobrem
o evento, a Fórmula 1 atrai para a cidade cerca de 9.000 turistas de todo o país.
E é responsável pela arrecadação de US$ 20 milhões nos
setores de hotelaria, transporte, restaurante, prestação de
serviços, faturamento de comércio, serviço de saúde e telecomunicação.
Por que custam tão caro as
obras de Interlagos? A pergunta a ser feita não é essa. Deveria ser: por que toda a manutenção do autódromo é feita
apenas uma vez por ano, antes
do Grande Prêmio?
As reformas efetuadas às vésperas da prova de F-1 não
atendem apenas às exigências
do Grande Prêmio Brasil.
Nos fins-de-semana, Interlagos é palco de corridas de todos os tipos e categorias. E, durante a semana, a pista é utilizada para testes de montadoras, de pilotos e escolas de pilotagem.
Por que as categorias monomarcas (Fiat, GM etc) que
usam o autódromo ao longo
do ano não pagam um aluguel
adequado para permitir a manutenção da pista?
Privatizar ou não Interlagos
é questão irrelevante na discussão de o GP ser ou não um
bom negócio para a cidade.
Nada impede que o autódromo, privatizado, continue a
servir de palco para uma prova
da categoria máxima do automobilismo mundial, um evento que, assim como a Olimpíada, muitas cidades gostariam
de ter o direito de realizar.
Vale notar que a Prefeitura
do Rio gastou US$ 40 milhões
para trazer a etapa da Cart e
paga subvenção direta aos
promotores do evento, que tem
um público irrisório.
No início de 89, na qualidade de presidente da CBA, apresentei à então prefeita Luiza
Erundina a proposta de trazer
de volta o GP para São Paulo.
Dias antes, durante a reunião anual da FIA para estabelecer o calendário do ano, o
presidente Balestre me comunicara a intenção de cancelar
o GP Brasil, uma vez que o autódromo do Rio não tinha
mais condições de atender as
normas de segurança da F-1.
A prefeita analisou a proposta em profundidade, julgou-a
oportuna e deu seu aval: "São
Paulo é uma grande cidade e
merece esse grande evento".
Piero Gancia, 74, industrial, ex-presidente da
CBA (Confederação Brasileira de Automobilismo) e ex-membro do Conselho Mundial da FIA
(Federação Internacional de Automobilismo), é
campeão brasileiro (1966) e sul-americano
(1970) de automobilismo
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