São Paulo, sexta, 13 de março de 1998

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O GP é um bom negócio para São Paulo

PIERO GANCIA
especial para a Folha

O GP Brasil de Fórmula 1 é um bom ou mau negócio para São Paulo?
Em face dos flagelos que vêm infernizando a vida do paulistano e da falta de dinheiro em caixa alardeada pelo prefeito Celso Pitta, há quem ache que os US$ 11 milhões utilizados neste ano para a reforma do autódromo de Interlagos são dinheiro mal gasto.
Como um dos responsáveis por trazer o evento de volta à cidade, considero o Grande Prêmio não só um ótimo negócio como também uma forma de aprimorar a imagem do país no exterior.
O autódromo de Interlagos foi o berço de pilotos de nível internacional, entre eles três campeões mundiais, que lá iniciaram suas carreiras e trouxeram para o Brasil nada menos que oito títulos.
A cobertura televisiva do Grande Prêmio Brasil atinge 114 países e 340 milhões de pessoas, e, segundo a indústria de turismo, além das 1.600 pessoas pertencentes ao circo e dos 400 jornalistas que cobrem o evento, a Fórmula 1 atrai para a cidade cerca de 9.000 turistas de todo o país.
E é responsável pela arrecadação de US$ 20 milhões nos setores de hotelaria, transporte, restaurante, prestação de serviços, faturamento de comércio, serviço de saúde e telecomunicação.
Por que custam tão caro as obras de Interlagos? A pergunta a ser feita não é essa. Deveria ser: por que toda a manutenção do autódromo é feita apenas uma vez por ano, antes do Grande Prêmio?
As reformas efetuadas às vésperas da prova de F-1 não atendem apenas às exigências do Grande Prêmio Brasil.
Nos fins-de-semana, Interlagos é palco de corridas de todos os tipos e categorias. E, durante a semana, a pista é utilizada para testes de montadoras, de pilotos e escolas de pilotagem.
Por que as categorias monomarcas (Fiat, GM etc) que usam o autódromo ao longo do ano não pagam um aluguel adequado para permitir a manutenção da pista?
Privatizar ou não Interlagos é questão irrelevante na discussão de o GP ser ou não um bom negócio para a cidade.
Nada impede que o autódromo, privatizado, continue a servir de palco para uma prova da categoria máxima do automobilismo mundial, um evento que, assim como a Olimpíada, muitas cidades gostariam de ter o direito de realizar.
Vale notar que a Prefeitura do Rio gastou US$ 40 milhões para trazer a etapa da Cart e paga subvenção direta aos promotores do evento, que tem um público irrisório.
No início de 89, na qualidade de presidente da CBA, apresentei à então prefeita Luiza Erundina a proposta de trazer de volta o GP para São Paulo.
Dias antes, durante a reunião anual da FIA para estabelecer o calendário do ano, o presidente Balestre me comunicara a intenção de cancelar o GP Brasil, uma vez que o autódromo do Rio não tinha mais condições de atender as normas de segurança da F-1.
A prefeita analisou a proposta em profundidade, julgou-a oportuna e deu seu aval: "São Paulo é uma grande cidade e merece esse grande evento".


Piero Gancia, 74, industrial, ex-presidente da CBA (Confederação Brasileira de Automobilismo) e ex-membro do Conselho Mundial da FIA (Federação Internacional de Automobilismo), é campeão brasileiro (1966) e sul-americano (1970) de automobilismo



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