UOL


São Paulo, domingo, 13 de abril de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

EXCLUSIVO

Costurado acordo para inchar a Copa de 2006

FERNANDO MELLO
DO PAINEL FC

A proposta da América do Sul de inchar a Copa do Mundo de 2006 foi encampada pela Uefa, a entidade que rege o futebol europeu, e, a menos que seja vetada por alguma comissão da Fifa, deve ser aprovada em 3 de maio.
A Folha teve acesso a correspondência entre os presidentes da Uefa, Lennart Johansson, e da Conmebol, Nicolás Leoz, segundo a qual o sueco elogia a proposta sul-americana e insinua que a Europa votará em peso na proposta de aumento do número de seleções já em 2006.
O inchaço de 32 para 36 seleções interessa principalmente à CBF. Pela primeira vez na história, o campeão mundial não tem garantida vaga na próxima edição da Copa. E a seleção brasileira, assim como outros cerca de 200 países filiados à Fifa, terão que passar por eliminatórias para chegar à Alemanha, único país garantido.
Na correspondência, enviada no último dia 10 de março, Johansson felicita Leoz pela escolha da América do Sul como sede da Copa de 2014 e informa seu apoio à proposta de inchaço. "Você deve estar bem-humorado por saber que há sinais de que sua proposta sobre distribuição de vagas para cada confederação na Copa vai alcançar aprovação da maioria", escreveu o presidente da Uefa.
Na carta, Jonhansson mostra intimidade com o presidente da Conmebol, que sofrera cirurgia cardíaca dias antes: "Fiquei espantado e preocupado ao saber de sua operação. (...) Sei que sua amável mulher e seus filhos ficaram apreensivos, mas acredito que eles estão felizes por saber que tudo passou bem. Eles cuidarão bem de você e verão se você seguirá as ordens médicas".
Se realmente votar em peso pela mudança, a Europa garantirá a vitória da proposta da Conmebol, que ganharia mais uma vaga no qualificatório que começa em setembro -o número de classificados passaria de quatro para cinco.
A Folha apurou que, além da carta, Johansson informou por telefone a Leoz a decisão da entidade européia de apoiar o inchaço no Mundial -o continente também seria beneficiado, tendo na Alemanha 16 representantes, contra os 14 pelo sistema em vigor.
No Comitê Executivo da Fifa, o órgão que deliberará sobre a proposta no mês que vem, a Europa tem peso importante. Possui oito dos 24 votos -a aprovação é obtida com 12 votos favoráveis.
A América do Sul entra com outros três votos -Ricardo Teixeira (CBF), Julio Grondona (Argentina) e Nicolás Leoz (CSF).
A Ásia tem quatro lugares no comitê. A África, que também estaria inclinada a apoiar a proposta, tem outros quatro votos, um a mais que a Concacaf, entidade das Américas Central e do Norte.
A CBF, por intermédio de sua assessoria, declarou que Ricardo Teixeira, presidente da entidade, está "otimista" para a votação.

Cabo eleitoral
Presidente do Comitê Organizador da Copa-2006, Franz Beckenbauer já aprovou publicamente o inchaço no segundo Mundial a ser realizado na Alemanha.
"Não seria um problema em termos de organização", disse. Segundo a proposta da Conmebol, seria necessária a adoção de uma 13ª sede na Alemanha, para abrigar mais seis jogos. O país-anfitrião informou que investirá cerca de 1,4 bilhão para construção e modernização de estádios.
A anuência de Beckenbauer seria mais um indício de que a Uefa votará em bloco. Dificilmente o ex-capitão se pronunciaria sem antes conversar com os dirigentes da Federação Alemã de Futebol.
Nem a opinião do presidente da Fifa, Joseph Blatter, que se disse contra o inchaço, preocupa os sul-americanos. O suíço só é chamado a votar se houver empate entre os 23 representantes do órgão.
Se sacramentada a proposta, o Comitê Executivo repetirá a política de João Havelange, o brasileiro que iniciou o inchaço do principal torneio da bola no planeta.
Depois de quase meio século com 16 participantes (as exceções foram Uruguai-30 e Brasil-50), o Mundial começou a aumentar a partir do momento em que o cartola assumiu o cargo, no meio da década de 70. A primeira grande modificação aconteceu em 1982, na Espanha, quando 24 seleções disputaram a competição.
Os principais beneficiados foram africanos e asiáticos, aliados de Havelange. A Copa-82 teve duas seleções da África, uma da Ásia e outra da Oceania. Depois disso, a Fifa manteve as 24 vagas por mais três edições. Pouco antes de se aposentar, Havelange bancou novo inchaço, na Copa-98.



Texto Anterior: Painel FC
Próximo Texto: Caminho no Mundial pode ficar mais difícil
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.