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São Paulo, domingo, 13 de abril de 2003

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FUTEBOL

Clubes da Rússia recebem injeção financeira de poderosas empresas e escancaram as portas para os estrangeiros

Brasileiros lucram no capitalismo russo

RODRIGO BUENO
DA REPORTAGEM LOCAL

A situação do futebol russo já não está mais tão russa.
O mercado na maior dissidência da ex-União Soviética está mais aberto do que nunca. Os clubes do país experimentam o apogeu do capitalismo selvagem e escancaram as portas para estrangeiros, especialmente brasileiros.
Em janeiro, mais de 80 jogadores foram contratados pelos times russos, quase todos privatizados após a queda do comunismo.
Mais da metade dos atletas contratados são estrangeiros. Cerca de 30 saíram da América do Sul.
Roni, Souza, Alberto, Géder, Bóvio, Da Silva, Robert, Marcelinho Souza, Calisto, Moisés...
A nova onda para os jogadores brasileiros é jogar na Rússia. Mais de 20 atuam na primeira divisão do país, turbinada recentemente -nasceu a Russian Premier League, nos moldes da liga inglesa.
Os clubes, bancados por poderosas empresas, pagam aos seus principais atletas até mais de US$ 1 milhão por uma temporada.
Jogadores de outros países também se rendem ao dinheiro russo.
O tcheco Jiri Jarosik foi comprado pelo CSKA por cerca de US$ 6 milhões na maior transação da história do futebol do país. Neste ano, dois italianos, Pasoni e Del Canto, trocaram a Udinese pelo Uralan Elista, clube que participou de torneio no Brasil em 2000.
O CSKA, o time do Exército Vermelho, está nas mãos do magnata Yevgeny Giner. O Dinamo, que era ligado ao Ministério do Interior, agora é mantido pela Lukoil, uma potência petrolífera.
O Krylya Sovetov é controlado pela Sibirsky Aluminium. E o tradicional Torpedo, ex-braço da montadora estatal de veículos, virou Torpedo Luzhniki após ser adquirido por essa empresa.
Um braço do Torpedo, criado para jogar a quarta divisão na Rússia, foi comprado pelo grupo Norilsk Nickel, forte no setor de metalurgia, e está na elite com o nome de Torpedo-Metallurg.
""A Rússia era conhecida por vender jogadores. Agora, isso mudou", diz Yuri Belous, o presidente do Torpedo-Metallurg.
A situação começou a mudar mesmo após 1998, ano em que a Rússia sofreu com uma grave crise econômica. Hoje, a Russian Premier League negocia direitos de TV com a rede RTR por US$ 18 milhões -os principais times ficam com US$ 4 milhões.
""Foi a realização de um sonho jogar na Europa. Aqui, eles pagam bem e em dia. Os prêmios são muito bons. Meu time contratou argentino, peruano, africano. E o material esportivo é todo da Nike [empresa americana"", disse Géder, ex-zagueiro vascaíno que hoje veste a camisa do Saturn Ren TV. ""O clube é da televisão."
O Lokomotiv, que conta com o atacante Júlio César, é o atual campeão nacional e teve uma boa participação na Copa dos Campeões, arrancando até empate com o Real Madrid na Espanha.
O Spartak, clube mais rico do país (tendo como um de seus patrocinadores a Lukoil, dominou o futebol russo no final do século 20), e o Chernomorets têm cinco jogadores brasileiros cada um.
""O futebol russo é muito diferente do brasileiro. Aqui, o jogo tem mais contato. Além disso, os campos são bem ruins. A neve danifica o gramado. O curioso é que o campo do Torpedo é de grama sintética", disse Ricardo Bóvio, volante do Chernomorets.
"A solidão é difícil de ser superada, mas, pelo menos, estou em uma equipe com outros quatro brasileiros", completou.



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