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São Paulo, terça-feira, 13 de maio de 2003

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BASQUETE

Suco dos laranjas

MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE

"Para mim, é fácil resumir o bom basquetebol. É o ataque da NBA e a defesa do [campeonato] universitário norte-americano." A frase de Zé Boquinha, técnico do Uberlândia, a melhor campanha do Nacional, lavou a alma do colunista.
Não por expressar o que penso, pois já considero mais sofisticada também a defesa dos profissionais. Mas por proporcionar um "gancho" à discussão que há tempos me aflige -e que leitores, como o mineiro Diogo "Carmelo" Antonio, cobram neste espaço.
Não sei como surgiu. Talvez tenha sido efeito das transmissões dos jogos da NBA, dos genuínos "Dream Teams". Ou do dólar barato, que multiplicou as viagens para a Disney. Talvez tenha sido a simples cristalização da idéia de que o brasileiro não tem, e nunca teve, vocação para defender. Ou, ainda, o complexo de vira-latas.
O fato é que, entre os times de elite e entre os garotos que engatinham nas quadras, entre quem torce e entre quem reporta a partida, o brasileiro passou a reverenciar a marcação individual. Nessa apologia cega ao modelo norte-americano, desaprendeu o jogo.
Se a equipe aperta o adversário, é -ele diagnostica- porque passou a fazer a defesa homem a homem, "como na NBA". Se o oponente arremessa à vontade, é -assevera- porque a marcação por zona é assim mesmo, frouxa.
Com o recém-conquistado título da NCAA, principal organização amadora do esporte nos EUA, a Universidade de Syracuse pode ajudar a desfazer esses equívocos.
Quem acompanhou a maratona pela TV paga viu que os "Orangemen" tomaram o torneio de surpresa com um sistema defensivo de antanho: a zona 2-3.
Os dois armadores colocam-se, a um braço de distância um do outro, dois passos à frente da linha do lance livre. O pivô posta-se no meio do garrafão, escoltado pelos alas, um em cada lado da quadra. Assim, designa-se uma área para cada jogador proteger.
Mas isso não implica uma marcação estática. A área atacada pela bola deve ser acossada ferozmente pelo respectivo "guardião", enquanto os quatro colegas se movem, qual um girassol, a fim de fechar os espaços para infiltrações e passes -e de se posicionar para o contra-ataque em bloco.
O desenho definitivo do 2-3 foi consagrado em 1959, quando Pete Newell, já retratado aqui, levou a Universidade da Califórnia ao troféu com um grupo de jogadores baixos e pouco talentosos.
Syracuse não só retomou a intensidade idealizada pelo revolucionário técnico como a levou a um novo patamar. Tudo graças ao biótipo dos "Orangemen". Os de perímetro, incluindo o fantástico Carmelo Anthony, têm em média 1,98 m, com braços longos, capazes de zelar por grandes espaços, bloquear passes e contestar tiros de longa distância.
A zona 2-3 compacta, boa solução para equipes em desvantagem física, está de volta com tudo na América. Só que no Brasil, terra de jogadores pouco atléticos (e pouco treinados), ainda resulta em uma defesa inerte, que vê morfética o rival construir jogadas, à espera de um erro.
Por quê? Ai, que preguiça!

Defesa 1
Shaq e Kobe sempre carregaram o ataque. Os Lakers patinaram em San Antonio porque as lesões de Rick Fox e Devean George abriram a frágil defesa californiana aos contra-ataques. Brian Shaw, 37, mano a mano contra Manu Ginóbili, 25? É implorar para tomar bandejas.

Defesa 2
O time menos vazado ganhou três títulos desde 1970: New York (73), Seattle (79) e Detroit (90). O mais prolífico, cinco: Milwaukee (71), Lakers (72), Golden State (75) e Chicago (96 e 97). Detroit, melhor defesa, e Dallas, ataque, seguem no páreo este ano na NBA.

Defesa 3
O árbitro Renatinho avisa que deixou de trabalhar para o COC. Boa.

E-mail melk@uol.com.br


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