|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
BASQUETE
Suco dos laranjas
MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE
"Para mim, é fácil resumir o
bom basquetebol. É o ataque da NBA e a defesa do [campeonato] universitário norte-americano." A frase de Zé Boquinha, técnico do Uberlândia, a melhor campanha do Nacional, lavou a alma do colunista.
Não por expressar o que penso,
pois já considero mais sofisticada
também a defesa dos profissionais. Mas por proporcionar um
"gancho" à discussão que há tempos me aflige -e que leitores, como o mineiro Diogo "Carmelo"
Antonio, cobram neste espaço.
Não sei como surgiu. Talvez tenha sido efeito das transmissões
dos jogos da NBA, dos genuínos
"Dream Teams". Ou do dólar barato, que multiplicou as viagens
para a Disney. Talvez tenha sido a
simples cristalização da idéia de
que o brasileiro não tem, e nunca
teve, vocação para defender. Ou,
ainda, o complexo de vira-latas.
O fato é que, entre os times de
elite e entre os garotos que engatinham nas quadras, entre quem
torce e entre quem reporta a partida, o brasileiro passou a reverenciar a marcação individual. Nessa
apologia cega ao modelo norte-americano, desaprendeu o jogo.
Se a equipe aperta o adversário,
é -ele diagnostica- porque passou a fazer a defesa homem a homem, "como na NBA". Se o oponente arremessa à vontade, é
-assevera- porque a marcação
por zona é assim mesmo, frouxa.
Com o recém-conquistado título da NCAA, principal organização amadora do esporte nos EUA,
a Universidade de Syracuse pode
ajudar a desfazer esses equívocos.
Quem acompanhou a maratona pela TV paga viu que os
"Orangemen" tomaram o torneio
de surpresa com um sistema defensivo de antanho: a zona 2-3.
Os dois armadores colocam-se,
a um braço de distância um do
outro, dois passos à frente da linha do lance livre. O pivô posta-se
no meio do garrafão, escoltado
pelos alas, um em cada lado da
quadra. Assim, designa-se uma
área para cada jogador proteger.
Mas isso não implica uma marcação estática. A área atacada pela bola deve ser acossada ferozmente pelo respectivo "guardião",
enquanto os quatro colegas se
movem, qual um girassol, a fim de
fechar os espaços para infiltrações
e passes -e de se posicionar para
o contra-ataque em bloco.
O desenho definitivo do 2-3 foi
consagrado em 1959, quando Pete
Newell, já retratado aqui, levou a
Universidade da Califórnia ao
troféu com um grupo de jogadores baixos e pouco talentosos.
Syracuse não só retomou a intensidade idealizada pelo revolucionário técnico como a levou a
um novo patamar. Tudo graças
ao biótipo dos "Orangemen". Os
de perímetro, incluindo o fantástico Carmelo Anthony, têm em
média 1,98 m, com braços longos,
capazes de zelar por grandes espaços, bloquear passes e contestar
tiros de longa distância.
A zona 2-3 compacta, boa solução para equipes em desvantagem física, está de volta com tudo
na América. Só que no Brasil, terra de jogadores pouco atléticos (e
pouco treinados), ainda resulta
em uma defesa inerte, que vê
morfética o rival construir jogadas, à espera de um erro.
Por quê? Ai, que preguiça!
Defesa 1
Shaq e Kobe sempre carregaram o ataque. Os Lakers patinaram em
San Antonio porque as lesões de Rick Fox e Devean George abriram
a frágil defesa californiana aos contra-ataques. Brian Shaw, 37, mano
a mano contra Manu Ginóbili, 25? É implorar para tomar bandejas.
Defesa 2
O time menos vazado ganhou três títulos desde 1970: New York (73),
Seattle (79) e Detroit (90). O mais prolífico, cinco: Milwaukee (71),
Lakers (72), Golden State (75) e Chicago (96 e 97). Detroit, melhor
defesa, e Dallas, ataque, seguem no páreo este ano na NBA.
Defesa 3
O árbitro Renatinho avisa que deixou de trabalhar para o COC. Boa.
E-mail melk@uol.com.br
Texto Anterior: Doping: COB anuncia 1º caso positivo antes do Pan Próximo Texto: Futebol - José Roberto Torero: De volta à era do rádio Índice
|