São Paulo, domingo, 13 de maio de 2007

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Último "galáctico" espera ano melhor

Único remanescente da era MSI no Corinthians, Marcelo Mattos fala dos erros que presenciou entre clube e parceira

Jogador mostra mágoa com estrelas que saíram cedo demais e afirma que disputa entre Kia e Alberto Dualib atrapalhou o 2006 da equipe

PAULO GALDIERI
ENVIADO ESPECIAL A ÁGUAS DE LINDÓIA

Quando chegou ao Corinthians para a temporada de 2005, Marcelo Mattos era só um primeiro reforço -e dos mais modestos- de uma parceria que começava ambiciosa.
Hoje, às 18h10, diante do Juventude, no Morumbi, o volante de 23 anos faz sua terceira estréia em Brasileiros pelo clube. Mas agora é o único remanescente dos chamados "galácticos" contratados pela MSI.
Em entrevista à Folha, Mattos diz ter ficado chateado com a maneira como Tevez e Mascherano, as estrelas da parceria, deixaram o clube. E lembra que a turbulência política, sobretudo a disputa Kia Joorabchian/MSI x Alberto Dualib, atrapalhou e ainda atrapalha o rendimento do clube. "Time precisa ter cabeça boa."

 

FOLHA - Esta é sua terceira temporada no Corinthians e a primeira sem outros jogadores contratados pela MSI. Qual é a diferença?
MARCELO MATTOS
- A primeira: em 2005, havia grandes jogadores. Em 2006, saíram vários jogadores da MSI. E agora só sobrou eu. A esperança é que este ano, a partir de agora, seja bem melhor. Se a gente conseguir fazer o que o técnico pede, dá para fazer um ano melhor.

FOLHA - Você chegou como coadjuvante e se firmou rapidamente. A que atribui isso?
MATTOS
- Cheguei, não tinha nome. E, para um primeiro volante aparecer... Não acontece. Sabia que ia ter que ralar muito para achar meu espaço. Mas entrei num momento com grandes jogadores, e isso facilitou. Entrar agora seria mais difícil. Chegar e disputar para não cair é mais complicado.

FOLHA - Você esperava que o time cheio de jogadores badalados fosse se tornar o atual Corinthians?
MATTOS
- Se a MSI tivesse saído, e os jogadores que ficaram ou chegaram depois dessem certo, a coisa estaria melhor. Isso não aconteceu. Mas todos os jogadores de nome tiveram um começo. Um dia já foram desconhecidos. O problema é que o grupo agora é jovem e precisa de resultados para se firmar.

FOLHA - Por que só restou você dos jogadores da MSI?
MATTOS
- Eu cheguei para ajudar, independentemente se foi a MSI que me trouxe. Nunca tive problema com jogador, com diretoria, com ninguém. Acho que por isso estou até agora.

FOLHA - Você pensa em sair?
MATTOS
- Não estou preparado para ir embora agora. Meu filho vai nascer no mês que vem. Mas pode aparecer uma proposta irrecusável. A gente nunca sabe. Agora, antes de sair, eu quero voltar àquela fase alegre.

FOLHA - Como é o seu relacionamento com Kia Joorabchian?
MATTOS
- Não sou de ser muito amigo de diretor. Mas ele foi meu padrinho de casamento. Depois que ele se foi, a gente teve pouco contato. Conversamos umas três vezes. Ele pergunta como estou, como vai o Corinthians...

FOLHA - Por que um time repleto de estrelas não deu certo?
MATTOS
- A Libertadores de 2006 complicou bastante. Depois, a coisa ficou ruim. Até antes do jogo com o River [Plate] no Pacaembu, a gente estava no céu. Depois, com pressão, não teve mais como dar seqüência. O Corinthians ficou muito focado naquela Libertadores.

FOLHA - Se o time tivesse se classificado, mas perdido mais adiante, teria sido diferente?
MATTOS
- Acho que seria pior. A expectativa de ser campeão ia crescer muito. E aí a decepção seria ainda maior.

FOLHA - Então a turbulência do Corinthians atrapalha o rendimento do time...
MATTOS
- Você fica sabendo das coisas pela imprensa. É Kia que briga com Dualib, é o Kia que vai embora e não volta mais... Como você vai treinar assim? Time precisa ter cabeça boa. Concentração decide jogo.

FOLHA - A alta rotatividade de técnicos no clube influencia no mau desempenho também?
MATTOS
- No Brasileiro de 2005, ainda bem que deu certo. Troca de técnico é mais para dar uma motivação a mais para os jogadores. Fica naquela expectativa de que, se mudar o modo de trabalho, melhora.

FOLHA - Com qual dos treinadores você se deu melhor? E pior?
MATTOS
- Dificuldade não houve com ninguém. O Tite era quem me cobrava mais, mas era para o meu bem. Mas o que mais me marcou foi o Passarella. Ele me deu oportunidade de ser o capitão do time logo que cheguei. Ele me deu a confiança necessária para me firmar.

FOLHA - Você presenciou muitos problemas de relacionamento entre os jogadores no Corinthians?
MATTOS
- O grupo de agora é tranqüilo. No ano passado, foi mais difícil. Alguns jogadores achavam que tinham que cobrar, que outros poderiam render mais.

FOLHA - A disparidade salarial no elenco causou discórdias?
MATTOS
- Não. Não teve essa. Nunca chegou a isso. Cada um, cada jogador, tem que lutar pelo que tem direito.

FOLHA - Por que o Corinthians não obteve todos os títulos que almejava quando fez a parceria com a MSI?
MATTOS
- É difícil dizer o que houve. No Brasileiro de 2005, tudo foi felicidade. Mas as disputas políticas, Kia, Dualib, diretoria, isso às vezes mexe com o jogador.

FOLHA - O Tevez e o Mascherano fizeram certo ao deixarem o Corinthians? Eles foram "traíras"?
MATTOS
- Cada um busca o que é melhor para si. Eles não estavam felizes no Corinthians, foram buscar a felicidade em outro lugar. Mas claro que a gente ficou chateado de eles saírem num momento difícil.

FOLHA - Eles chegaram a se despedir do elenco?
MATTOS
- De outros eu não sei, mas de mim, não. E, depois que saíram, eu nunca mais cheguei a falar com eles.


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