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Análise
Futebol é mais que um jogo para croatas
IVANA PREISS
ESPECIAL PARA A FOLHA
Verão de 98. É raro encontrar um croata cujos olhos
não brilhem e que não emita
um suspiro profundo quando convidado a relembrar
aquele momento mágico.
Poucos esqueceram as bandeiras nas casas e nas mãos
de milhares de croatas unidos nas ruas do país, sentindo uma felicidade que só poderia ser relacionada a um
exemplo semelhante do passado: o dia em que os croatas
puderam se declarar croatas.
É difícil explicar de que
maneira a vitória em um jogo
de futebol pode ser comparada com um momento tão
crucial e inesquecível na história de um país como a criação de um Estado autônomo.
Por ser um pequeno país, a
Croácia precisava encontrar
um jeito de reforçar sua credibilidade e ganhar espaço
no cenário mundial como
um rival de respeito: futebol.
Um croata orgulhoso, temperamental e agressivo correu pelo gramado com a determinação de um Davi contra Golias. E fez o gol que tirou o país da sombra. Davor
Suker virou herói, a personificação das visões de um povo que não muitos anos antes
combatera em campo aberto
para tornar essa vitória possível. Para os croatas, o futebol é mais do que um jogo.
Oito anos mais tarde, caminho pelas ruas da capital,
respirando o ar perfumado
de lembranças de 98. Falta
pouco para o mais importante jogo da Copa para os croatas: a partida contra o Brasil.
Só recentemente eles sentiram o sabor de encarar os
virtuoses do futebol. Mostraram seu respeito pelo rival
com uma cerimônia de boas-vindas que só vira igual no
país na visita do papa João
Paulo 2º. Jogaram, não venceram, mas empataram.
Um empate é uma potencial vitória, e é fácil motivar
os croatas. Nem a declaração
de Ronaldinho de que jamais
esteve em forma física melhor desanima a torcida
croata (ainda que 50% dos
homens do país tenham dito
que prefeririam tomar uma
cerveja com Ronaldinho a fazer sexo com suas mulheres).
A atmosfera no país é única. Locais de trabalho estão
vazios, e muitos cogitam viajar a Berlim hoje. Por sorte,
não é muito longe, de modo
que há meios alternativos de
transporte caso não haja
vôos para a capital alemã.
Um deles é representado por
50 fanáticos que estão indo
de bicicleta. Estima-se que
93% da população da Croácia
verá o jogo, em casas, bares e
cafés ou diante de telões.
As lojas de TV colocaram
aparelhos à venda por metade do preço. E mais: ofereceram devolver o dinheiro aos
compradores caso a Croácia
perca. Eles sabem que não
têm um Ronaldinho, mas ostentam espírito de equipe, o
ponto forte da Croácia e que
não deve ser subestimado.
A maior parte dos croatas
não acredita em vitória. O
que espera é uma reprise de
98, para ter uma vez mais a
atenção do mundo, nem que
por um curto período. Precisa disso. Nada no mundo motiva mais que a vitória. E, repito, é fácil motivar os croatas. Ainda que a seleção tenha caído em amistosos, um
croata diz que "estamos
guardando nossa força para
alguém capaz de nos derrubar". O Brasil pode. Resta definir quem vencerá.
IVANA PREISS , 23, é fotógrafa croata, vive
entre Zagreb e Praga, onde estuda direitos
humanos, e tem uma tataravó brasileira
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