São Paulo, terça-feira, 13 de junho de 2006

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Blitz da Austrália derruba Zico

Guus Hiddink lança time ao ataque, surpreende Japão do técnico brasileiro e já sonha com 2ª fase

Tim Cahill marca primeiro gol australiano em Copas do Mundo e dá início à virada em oito minutos no jogo de estréia do grupo do Brasil


GUILHERME ROSEGUINI
ENVIADO ESPECIAL A KAISERSLAUTERN

Parecia dia de Zico.
O brasileiro evocou a tradição guerreira dos japoneses, driblou com criatividade uma norma que proibia seu intérprete de prestar auxílio no gramado e contou com a ajuda do árbitro para ficar à frente do marcador em quase todo o jogo.
Mas foi dia de Guus Hiddink.
Em desvantagem, o técnico usou emoção para contagiar os australianos no intervalo, lançou sua seleção ao ataque sem medir conseqüências, conseguiu uma imponente virada e vibrou como se tivesse conquistado um título ao final do primeiro jogo do Grupo F da Copa, o mesmo do Brasil.
"Fez-se justiça", declarou o holandês após o 3 a 1 de ontem, em Kaiserslautern.
Famoso por ter chegado às semifinais dos dois últimos Mundiais -em 1998, com seu país natal, e em 2002, com a Coréia do Sul -, ele também passa para a história da Austrália, que nunca havia vencido ou balançado as redes na competição. A seleção estava fora do torneio desde 1974.
Os gols, aliás, acabaram anotados a partir dos 39 minutos da etapa final. Todos por atletas que estavam no banco de reservas. A Tim Cahill, meia de vocação ofensiva, coube a honra dos dois primeiros tentos. John Aloisi, atacante, marcou o terceiro, já nos acréscimos.
"No vestiário, fiz os jogadores acreditarem que poderíamos voltar e mudar tudo. Lembrei tudo o que havíamos passado até ali. Eles foram guerreiros", afirmou Hiddink.
Zico também queria esse espírito de luta em seus jogadores. A prova estava nas faixas exibidas pela torcida no Fritz-Walter-Stadion. Uma delas com frase de Zico, em bom português, dizia: "Que a força dos samurais ajude o Japão a escrever grandes histórias."
A ajuda, na verdade, veio do árbitro egípcio Essam Abd El Fatah, que não viu uma falta de Takahara no goleiro Schwarzer. Naquele lance, Nakamura tentou um cruzamento e, sem ninguém para interceptá-lo, acabou abrindo o marcador.
Após o jogo, pediu desculpas pelo erro, segundo o arqueiro australiano. "Ele disse depois do jogo que Deus estava do lado dele, porque o resultado veio para nosso lado."
Revoltado, Hiddink buscou um monitor para rever o lance. Um oficial da Fifa tentou conter sua investida. Os dois por pouco não trocaram sopapos.
Depois, deu empurrão em um auxiliar da seleção japonesa que se aproximou dele.
Enquanto isso, Zico se vestiu com a mesma roupa de seu tradutor Kunihiro Suzuki para driblar a norma da Fifa que proíbe intérpretes na área técnica. Ambos usavam calças sociais em tom cinza-escuro, sapatos pretos e camisas claras.
Quando precisava dar alguma instrução urgente, Zico recuava até o banco, conversava com Suzuki e mandava-o à beira do campo. Ninguém percebia a diferença, e o tradutor atuava sem ser importunado.
Nada do que o brasileiro ou seu intérprete falavam, contudo, fazia o Japão aproveitar os espaços deixados pela Austrália no segundo tempo. "Nós poderíamos ter acabado com o jogo. Erramos muito", analisou o brasileiro, que tem histórico azarado em Copas. Ele participou de quatro, como atleta (78, 82 e 86) e coordenador (98), mas não venceu nenhuma.
Não à toa, Zico levou as mãos à cabeça quando o juiz encerrou o jogo. Sua missão agora é espinhosa. Precisa bater a Croácia e tentar a classificação contra o Brasil, no último jogo.
Do outro lado, Hiddink gritava e socava o ar. Com três pontos, o holandês já vê como concreta a possibilidade de levar a Austrália até os mata-matas.
Aproveitando a confiança demonstrada pelo comandante, um jornalista perguntou se não houve uma pitada de sorte na virada tão espetacular. Hiddink não negou, mas explicou: "A sorte só aparece para quem busca a vitória."


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