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Astro dos anos 70, Mequinho triunfa após três décadas
Aos 54, principal nome da história do xadrez brasileiro
ganha torneio na Itália, superando 70 rivais, de 23 países
Jogador, que quase morreu
em 1979, ganha título no
exterior pela 1ª vez em 30
anos; meta agora é Mundial
para provar "cura divina"
TALES TORRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL
Nos anos 70, ele dividia o
Olimpo do esporte brasileiro
com Pelé e Emerson Fittipaldi.
Caiu no ostracismo. No final
daquela década, quase morreu,
vítima de uma doença neuromuscular, a miastenia gravis.
Curou-se e, agora, retoma o
caminho das conquistas que
não conhecia há 30 anos.
Henrique da Costa Mecking,
54, o Mequinho, ganhou anteontem o Torneio de Lodi, na
Itália, onde superou 70 enxadristas (entre eles, oito Grandes Mestres), de 23 países.
Ele terminou a competição
com sete pontos em nove rodadas, contra 6,5 do ucraniano
Sergey Fedorchuk, o segundo.
É o primeiro título de Mequinho no exterior desde 1976,
quando faturou seu mais importante torneio, o Interzonal
de Manila, nas Filipinas. Chegou a ser terceiro no ranking
mundial em 1978, atrás só das
lendas soviéticas Anatoly Karpov e Viktor Korchnoi.
Foi tema até de música. Raul
Seixas, em "Super-Heróis", do
álbum "Gita", de 1974, cantava:
"Quem é que no Brasil não reconhece o grande trunfo do xadrez? / Saí pela tangente disfarçando uma possível estupidez /
Corri para um cantinho para
dali sacar o lance de mansinho /
Advinha quem era? / Mequinho!", em canção escrita em
conjunto com Paulo Coelho.
Emocionado com o triunfo,
Mequinho recorreu ao passado
para explicar sua nova fase.
"Nós, brasileiros, podemos
ser campeões dos pés à cabeça",
disse o enxadrista, se referindo
à Copa do Mundo e repetindo
uma frase que tornou-se célebre na voz do presidente Emílio
Garrastazu Médici -que chegou a empregar Mequinho como seu assessor.
O enxadrista fala ainda com
certa dificuldade. Sua voz é
rouca e frágil, mas ele garante
que está livre da miastenia gravis, doença que paralisou seus
músculos. Mequinho tem um
objetivo fixo: "Quero ser campeão mundial para provar que
Deus me curou", diz ele, que é
formado em teologia e filosofia.
Depois de um retorno fracassado na década de 90 e resultados discretos nos últimos anos,
ele atribuiu seu título na Itália
às aparições de Nossa Senhora
de Medjugorje na Bósnia, para
onde foi após o triunfo em Lodi.
Mequinho agora se prepara
para retomar sua rotina no Brasil. Para acordar todos os dias
às 6h30 em sua pequena casa
em Taubaté, onde mora sozinho. Para treinar caratê, correr
pelas ruas, ir às missas e, quando precisar de um carro, usar
seu Fusca branco ano 1980.
"Não tenho do que reclamar.
Eu sentia dores terríveis. Precisava de ajuda até para levantar
da cama e escovar os dentes."
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