São Paulo, terça-feira, 13 de junho de 2006

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Astro dos anos 70, Mequinho triunfa após três décadas

Aos 54, principal nome da história do xadrez brasileiro ganha torneio na Itália, superando 70 rivais, de 23 países

Jogador, que quase morreu em 1979, ganha título no exterior pela 1ª vez em 30 anos; meta agora é Mundial para provar "cura divina"


TALES TORRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL

Nos anos 70, ele dividia o Olimpo do esporte brasileiro com Pelé e Emerson Fittipaldi. Caiu no ostracismo. No final daquela década, quase morreu, vítima de uma doença neuromuscular, a miastenia gravis.
Curou-se e, agora, retoma o caminho das conquistas que não conhecia há 30 anos.
Henrique da Costa Mecking, 54, o Mequinho, ganhou anteontem o Torneio de Lodi, na Itália, onde superou 70 enxadristas (entre eles, oito Grandes Mestres), de 23 países.
Ele terminou a competição com sete pontos em nove rodadas, contra 6,5 do ucraniano Sergey Fedorchuk, o segundo.
É o primeiro título de Mequinho no exterior desde 1976, quando faturou seu mais importante torneio, o Interzonal de Manila, nas Filipinas. Chegou a ser terceiro no ranking mundial em 1978, atrás só das lendas soviéticas Anatoly Karpov e Viktor Korchnoi.
Foi tema até de música. Raul Seixas, em "Super-Heróis", do álbum "Gita", de 1974, cantava: "Quem é que no Brasil não reconhece o grande trunfo do xadrez? / Saí pela tangente disfarçando uma possível estupidez / Corri para um cantinho para dali sacar o lance de mansinho / Advinha quem era? / Mequinho!", em canção escrita em conjunto com Paulo Coelho.
Emocionado com o triunfo, Mequinho recorreu ao passado para explicar sua nova fase.
"Nós, brasileiros, podemos ser campeões dos pés à cabeça", disse o enxadrista, se referindo à Copa do Mundo e repetindo uma frase que tornou-se célebre na voz do presidente Emílio Garrastazu Médici -que chegou a empregar Mequinho como seu assessor.
O enxadrista fala ainda com certa dificuldade. Sua voz é rouca e frágil, mas ele garante que está livre da miastenia gravis, doença que paralisou seus músculos. Mequinho tem um objetivo fixo: "Quero ser campeão mundial para provar que Deus me curou", diz ele, que é formado em teologia e filosofia.
Depois de um retorno fracassado na década de 90 e resultados discretos nos últimos anos, ele atribuiu seu título na Itália às aparições de Nossa Senhora de Medjugorje na Bósnia, para onde foi após o triunfo em Lodi.
Mequinho agora se prepara para retomar sua rotina no Brasil. Para acordar todos os dias às 6h30 em sua pequena casa em Taubaté, onde mora sozinho. Para treinar caratê, correr pelas ruas, ir às missas e, quando precisar de um carro, usar seu Fusca branco ano 1980.
"Não tenho do que reclamar. Eu sentia dores terríveis. Precisava de ajuda até para levantar da cama e escovar os dentes."


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