São Paulo, terça-feira, 13 de junho de 2006

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Clóvis Rossi

Vale o que for escrito

O TÉCNICO Carlos Alberto Parreira tem uma boa resposta sempre que lhe pedem para comparar a atual seleção brasileira, a mais badalada desde, pelo menos, a Copa de 1982, com as grandes equipes campeãs em 1958 e 1970: "Este time precisa provar na Copa [seu valor]. Os outros já provaram". À primeira vista, a resposta parece uma platitude, uma obviedade. Afinal, os times de 1958 e de 1970 de fato já jogaram suas Copas -e venceram. O de 2006 começa hoje a jogar -portanto, não venceu coisíssima alguma. Mas a obviedade começa a se tornar menos óbvia quando se percebe que até jornalistas estrangeiros pensam na atual seleção como um extraordinário sucesso de crítica, antes até de ela se transformar em sucesso de fato no campo de jogo de uma Copa. Aliás, as frases de Parreira acima transcritas foram em resposta a um jornalista britânico, ainda por cima com uma camisa pólo da seleção inglesa, o que acho particularmente inadequado. Jornalista é jornalista, torcedor é torcedor. De volta a Parreira. O fato é que, pelas memórias de Juca Kfouri, relatadas outro dia, o ambiente prévio à estréia na Copa de 1982 era parecido, talvez igual. Deu no que deu. Deu aliás em uma mistura cruel: ao mesmo tempo em que se exalta a "seleção de Telê Santana", como se fez recentemente, quando ele morreu, se diz que foi uma geração brilhante mas fracassada porque não conquistou títulos (Sócrates, Falcão, Cerezo, Zico etc). É, no futebol como na vida, a história é escrita pelos vencedores. Poucos têm dúvidas de que os quatros jogadores citados foram bem melhores que os que ganharam a Copa de 1994, mas a mediocridade vencedora recebe mais atenção que o talento derrotado. Como superstição e futebol são irmãos siameses, muita gente fica tremendo de medo de que 2006 repita 1982. Em um torneio em que, depois da primeira fase, entra-se no mata-mata, tudo pode acontecer. Se Brasil e Itália jogassem dez outras vezes, com as mesmas formações de 1982, o Brasil ganharia nove e empataria a outra, pela lógica. Sempre pela lógica, não desfilou até agora, pelos campos da Alemanha, uma única seleção capaz de dar corda à superstição. Mas o nível do torneio está bem razoável, e superstição dispensa corda.

crossi@uol.com.br


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