Em um jogo entre Espanha e Brasil, qual time seria mais como o Barcelona, o rei da posse de bola?

UM JORNALISTA do britânico "Sun" -o tabloide diário obsceno, sensacionalista e de maior circulação no mundo ocidental- fez a Carlos Alberto Parreira uma pergunta tipicamente provocativa em uma entrevista coletiva depois da partida inaugural da Copa do Mundo, entre África do Sul e México.
O jogo terminou 1 a 1, mas o México foi claramente a melhor equipe, e a África do Sul, treinada pelo muito viajado Parreira, afastou qualquer ideia que a população local superentusiástica poderia ter sobre suas chances de ganhar a competição. O time é animado, mas não muito bom.
A não ser que todos os feiticeiros da África unam forças, que os juízes deem toda decisão duvidosa desavergonhadamente a favor da África do Sul, que as vuvuzelas destruam as células cerebrais de todos os times rivais antes do intervalo e que Deus se revele sul-africano, os Bafana Bafana não vão chegar às quartas de final, quanto menos vencer a Copa do Mundo.
O jornalista do "Sun" perguntou a Parreira sobre um comentário que ele tinha feito alguns dias antes sobre as semelhanças entre sua atual equipe e a brasileira. Parreira estava tranquilo e alegre até aquele momento na entrevista coletiva, grato por ter conseguido um ponto e continuar vivo na competição. Mas então seu humor mudou. Ele viu a malícia na pergunta e ficou irritado, na defensiva. "Eu nunca disse isso. Eu nunca disse que nós jogamos como os brasileiros...
Eu apenas disse que, como no Brasil, a posse da bola é o princípio do nosso time."
Se eu fosse tão mal-intencionado quanto o jornalista do "Sun", poderia ter feito a Parreira uma pergunta na mesma linha. A posse de bola ainda é o princípio dominante da seleção brasileira? Ou é um mito, construído sobre bases históricas sólidas, que hoje deixou de ter qualquer relação com os fatos?
Se a Espanha jogar contra o Brasil, qual equipe jogará mais como o Barcelona -indiscutíveis reis mundiais da posse de bola- e qual mais como a Inter de Milão, que desdenha a bola e coloca a vitória acima de qualquer outro princípio na vida?
Mas não fiz a pergunta porque ainda não tenho o grau de malícia necessário para trabalhar no jornal de maior vendagem do mundo ocidental.