São Paulo, domingo, 13 de junho de 2010

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Na Venezuela, Copa é pelo celular

Bares e cinemas se agitam no país em que 27% da torcida quer ver o Mundial no telefone

FLÁVIA MARREIRO
DE CARACAS

Quem passeia pelas ruas de Caracas nestes dias se pergunta: este não era o país do beisebol, que nunca participou de uma Copa do Mundo?
Sim, é, mas isso não impede que as referências ao futebol estejam por todos os bares, que penduram bandeirinhas de todos os países participantes, nas praças onde se trocam figurinhas de jogadores e até nos cinemas.
As salas de uma das maiores redes de cinema do país, os Cines Unidos, transmitirão várias partidas (o ingresso para a tela premium custa o equivalente a R$ 16). As cinco administrações que formam a capital também disputam quem instala os melhores telões em praças.
A paixão crescente pelo futebol encontra outra fixação recente venezuelana: os celulares BlackBerry.
Segundo pesquisa da consultoria de mercado Nielsen, a Venezuela tem a maior porcentagem de torcedores do continente que dizem que vão acompanhar a Copa pelo celular (27%, contra 21% no Brasil e 10% na Argentina).
"Baixei um programa que tem a tabela e um canal para receber notícias", declara Brian Finchel, 22, exibindo a tela do seu celular.
Torcedor do Brasil, ele é um dos responsáveis pela instalação do telão na praça de Sebucán, bairro nobre da cidade. "A cada Copa cresce o número de venezuelanos que gostam de futebol", diz.
O aplicativo baixado gratuitamente por ele já é um sucesso. No país de 28 milhões de habitantes, que tem duas vezes mais BlackBerries que a média da região (o quarto maior mercado do mundo, depois de EUA, Canadá e Japão), 720 mil pessoas já têm o programa desenvolvido pela empresa venezuelana S42.
"Deixamos de contar [anteontem a quantidade de downloads realizada] porque o sistema estava a ponto de colapsar", declara Rafael Hernández, da S42.

"BRASILEIROS"
Com a camisa do Brasil, o vendedor Daniel Patrón, 38, assistia a África do Sul x México no telão de Sebucán. "Os venezuelanos torcem pelo Brasil, mas há os que gostam da Argentina e também colônias de espanhóis e portugueses, que são grandes."
"[O presidente Hugo] Chávez já "encadeou" o país três vezes nesses dias, mas acho que não vai fazer isso na hora das partidas. Quem não tem TV a cabo estaria perdido."
"Encadear", em "venezuelanês", quer dizer convocar cadeia obrigatória de rádio e TV, o que o presidente faz com frequência. Anteontem, uma transmissão obrigatória cortou parte da cerimônia de abertura da Copa do Mundo.
Mas Chávez já mostrou que não quer problemas com os torcedores. Também anteontem, ele anunciou o fim dos cortes programados de energia, entre outros motivos, para não afetar a transmissão das partidas da Copa.


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