LILIAN CHRISTOFOLETTI
EDUARDO ARRUDA
DA REPORTAGEM LOCAL

O ex-ministro José Dirceu (PT-SP) teve seu telefone celular interceptado pela Polícia Federal com autorização da Justiça. O sigilo telefônico foi quebrado durante as investigações contra o empresário russo Boris Berezovski, que teria recorrido a petistas para conseguir asilo político (benefício concedido a perseguidos políticos) no Brasil.
Berezovski, que fugiu da Rússia, onde há uma ordem de prisão contra ele, tem asilo político na Inglaterra. Ele queria o mesmo benefício no Brasil.
O magnata foi um dos maiores beneficiados com as privatizações das estatais russas no governo de Boris Ieltsin.
No Brasil, Berezovski queria investir num estádio para o Corinthians e fazer negócios com o governo federal, injetando dinheiro em áreas como infra-estrutura e combustível.
"Houve ingerência do Corinthians para trazer o Berezovski. Para fazer isso, eles usaram todos os contatos possíveis, incluindo esse cidadão [Dirceu]", disse o procurador Sílvio Martins de Oliveira.
Ao aceitar a denúncia (acusação formal) contra o russo, o juiz federal Fausto de Sanctis relacionou conversas aleatórias de Dirceu e de outros petistas, como do chefe-de-gabinete de Lula, Gilberto Carvalho (PT), e do deputado federal José Genoino (PT-SP), com o grupo ligado a Berezovski.
Segundo a denúncia, as escutas telefônicas tiveram início no dia 30 de setembro de 2005.
Para o juiz, houve um "trabalho intenso" para permitir a vinda do russo ao país "com a possível participação de deputado estadual paulista". O deputado Vicente Cândido (PT), próximo de Dirceu, foi um dos interlocutores dele no país.
Nas conversas captadas entre dirigentes do Corinthians, o presidente Lula é citado várias vezes, sempre no sentido de buscar um encontro entre ele e o russo. Em nenhum momento, fala-se que isso ocorreu.
A conversa de Dirceu transcrita na decisão judicial aparentemente não tem conexão com o caso do russo. Informa o texto: "05.06.2007 - diálogo em que José Dirceu revelaria a solicitação para a intervenção de um senador junto ao Ministério da Agricultura em favor do frigorífico Minerva, relacionado à exportação para a Rússia, fato que já teria sido encaminhado a Reinhold".
A assessoria de Dirceu disse que o ex-ministro é advogado do frigorífico e não irá comentar o grampo por ter pouca informação sobre isso. O Ministério da Justiça informou que não houve nenhum pedido por parte de Berezovski para conseguir o asilo no Brasil.


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