São Paulo, terça-feira, 13 de julho de 2010

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Bálsamo

Seleção da Espanha é recebida pela família real e pelo presidente, leva 1 milhão às ruas de Madri e anestesia um país em crise

Dominique Faget/France Faget
Milhares de espanhóis na recepção em Madri aos campeões mundiais

LUISA BELCHIOR
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE MADRI

"Bem-vindos a uma Espanha mais feliz." A frase, numa grande faixa no aeroporto de Madri, foi a primeira homenagem que os campeões da Copa receberam na volta para a casa, onde tiveram tratamento de autoridade.
O time ganhou cumprimentos do rei Juan Carlos 1º e da família real, encontrou-se com o presidente José Luis Zapatero e foi ovacionado por mais de um milhão de pessoas, que bloquearam as principais ruas da capital.
A frase ainda resume como o título da Copa vem sendo usado como válvula de escape para a crise econômica, política e até social em que a Espanha está mergulhada.
"Esta vitória é um bálsamo durante um tempo. Permitirá que fiquemos mais contentes e unidos, ainda que dure só uma semana e as pessoas depois se lembrem de que têm que pagar a hipoteca ou buscar trabalho, como eu", disse o historiador Antonio Hernandez, 24, que está desempregado há seis meses.
Ontem, ele tirou "folga" para ver o desfile do time em Madri, em maratona que começou às 14h30, no horário local, e foi até a madrugada.
Após a chegada a Barajas, em avião da Iberia pintado de amarelo e vermelho, o time foi ao Palácio Real de Madri. Lá, como chefes de Estado, os atletas foram recebidos pela família real: o rei Juan Carlos 1º e a rainha Sofia em primeiro plano, seguidos dos príncipes e do resto da família. "Vocês são exemplo de esportividade, de comportamento", disse Juan Carlos.
Já Zapatero, que vive sua maior crise de popularidade, tentou capitalizar no Palácio de Moncloa. Ele ergueu a taça e pulou com a seleção, em cerimônia que, por ordem sua, foi vista por plateia composta só por funcionários públicos e seus familiares. Mas, no discurso, ouviu vaias e pedidos de "Vicente [del Bosque, técnico] presidente".
De terno e gravata, Del Bosque, conhecido por ser frio, sorria muito e acenava para a "plateia", termômetro para o que viria em seguida -a multidão, calculada pela polícia de Madri em pouco mais de um milhão de pessoas, que assistiu ao desfile em carro aberto da seleção.
Além das bandeiras e de bonecos do polvo Paul, o meia Iniesta, autor do gol do título, foi muito festejado. "Minha geração é descrente da seleção, mas neste ano surpreenderam, e Iniesta é exemplo disso", dizia, entre lágrimas, Estanislau Millan.
Desempregado, ele pôs mulher, filha e sobrinhos no carro e dirigiu mais de 500 km para ver o ídolo.
Tímido, Iniesta iniciou os festejos se escondendo. Depois de mais de quatro horas de desfile -encaradas pelos atletas com latas de cerveja- , a maratona acabou em show a céu aberto com a seleção no palco. E com Del Bosque, enfim, sem terno.


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