São Paulo, domingo, 13 de agosto de 2006

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Exército faz israelense frear carreira

Shahar Peer, tenista número 25 do mundo, troca participações em torneios por serviço militar obrigatório em seu país

Nos quartéis desde outubro, jogadora de 19 anos teme pela segurança da família, mas diz que abrirá mão da carreira se o país precisar


TALES TORRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL

As atividades do Exército de Israel no Líbano devem tirar das quadras uma das principais promessas do tênis mundial.
Shahar Peer, 19, escalou 158 posições no ranking mundial nos últimos dois anos e hoje ocupa o 25º lugar na lista da WTA, entidade que controla o esporte. Israelense, ganhou três títulos neste ano, na República Tcheca, na Turquia e na Tailândia. Teve convincente atuação em Roland Garros, quando caiu nas oitavas. Faturou mais de US$ 500 mil (cerca de R$ 1,1 milhão) na carreira.
Apesar de passar boa parte do tempo em treinos nos Estados Unidos, Peer não quis escapar do serviço militar obrigatório de seu país. Desde outubro do ano passado, é obrigada a cumprir carga horária específica a atletas no quartel de Tel Hashomer, na região de Tel Aviv. Só estará livre do Exército em outubro do ano que vem.
Sempre quando não está competindo, passa três horas diárias desempenhando funções administrativas. Atende a telefonemas e atualiza programas de computador. E corre o risco de ter parte da carreira sacrificada para atender aos interesses do Exército no mais delicado momento militar do país nas últimas décadas. Peer garante não se importar.
"Estou preparada para fazer o que meu país precisar", disse a tenista à Folha na última semana, enquanto se preparava para jogar o Torneio de Los Angeles -foi eliminada nas oitavas pela russa Elena Dementieva, número seis do mundo.
Peer tem autorização para viajar e participar de torneios, mas a quantidade de competições é limitada pelo Exército. Tal exigência faz com que ela jogue menos que rivais diretas no ranking -a atleta que vem logo a seguir na lista, a francesa Marion Bartoli, disputou 21 torneios na temporada, quatro a mais que a israelense.
Os acontecimentos em seu país, porém, têm feito com que a tenista enfrente dificuldades nas quadras. "Vivi dias duros nas últimas semanas. Tenho um primo lutando no Líbano, onde estão também alguns colegas de Exército. É duro se concentrar enquanto tem tanta gente morrendo lá", falou.
"Ligo para casa quase todos os dias. Os conflitos não são novidade em Israel, mas a crise tem tomado proporções que nunca vivi. É preocupante."
Peer não é obrigada a lutar. Mas foi treinada no período mais extensivo de sua integração ao Exército, quando passou duas semanas e meia no quartel. "Aprendi a mexer em armas. Hoje em dia, sou uma das melhores atirando. Tem sido uma experiência diferente."
Para quem desde os seis anos sonha em ser uma número um do mundo, "como Monica Seles, por quem eu era maluca", Peer sabe que seu inusitado trabalho pode trazer mais prejuízos que lucros. Mas nega qualquer intenção prévia de escapar do serviço militar obrigatório. "Nunca pensei em alguma tática para escapar do Exército. Meus pais sempre me apoiaram nesta decisão, mesmo sendo a filha caçula. Nunca ninguém questionou o fato de eu ter sempre pensado no serviço militar. Minha mãe acha lindo e fica emocionada."


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