São Paulo, quarta-feira, 13 de agosto de 2008

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opinião

Estados Unidos já têm o seu garoto de ouro

RICARDO PRADO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Nessa Olimpíada, quem rouba a cena durante os poucos segundos em que aparece, com certeza, é Michael Phelps.
Como comentarista de natação, está difícil eu tomar café na padaria sem ter de explicar a algum desconhecido as performances dele. Comentam comigo do suposto tamanho dos pés dele (enormes, dizem, "como pés-de-pato!") até o fato de só ele conseguir nadar tão à frente da linha do recorde mundial, que a TV mostra nas provas.
Tudo isso seria fácil de entender se esse rapaz de 23 anos só agora tivesse despontado para o mundo, mas não é o caso.
Já em Atenas-2004, ele monopolizou as atenções da mídia quando se propôs a conseguir sete medalhas de ouro tal como o também americano Mark Spitz fez em Munique-1972. Phelps foi o grande destaque, somando seis ouros e dois bronzes.
Ele é talentoso e extremamente versátil. Domina todas as distâncias e estilos, ainda que demandem estratégias de treinamento absolutamente distintas: de 100 m livre (prova de velocidade) aos 400 m medley (prova de fundo dos quatro estilos).
Mas o que motiva alguém como Michael Phelps? Medalhas de ouro, claro, mas também a difícil tarefa de fazer da natação um esporte mais valorizado em seu país.
Os americanos são mal acostumados. Há décadas dominam a natação, mas esse esporte sequer recebe uma fração da atenção ou dos salários de astros do basquete, do beisebol ou do futebol americano.
O cidadão americano médio só ouve falar de natação durante a Olimpíada. Ou seja: Michael Phelps se expõe na mídia anunciando que seu objetivo é superar o maior vencedor olímpico da história não para si, mas para toda uma modalidade pouco reconhecida. É mole? Os americanos já ganharam mais de 450 medalhas na natação. Os nadadores merecem ser amados.
Se Michael Phelps conseguirá ou não superar o feito de Mark Spitz, sete medalhas de ouro em uma única edição dos Jogos, ainda não sabemos. Mas que a natação americana já tem o seu menino dourado, muito mais do que os que o antecederam, capaz de monopolizar as atenções de países distantes, isso eles já têm!


Ricardo Prado é ex-nadador e foi prata nos 400 m medley em Los Angeles-1984


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