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opinião
Estados Unidos já têm o seu garoto de ouro
RICARDO PRADO
ESPECIAL PARA A FOLHA
Nessa Olimpíada, quem
rouba a cena durante os
poucos segundos em que
aparece, com certeza, é
Michael Phelps.
Como comentarista de
natação, está difícil eu tomar café na padaria sem
ter de explicar a algum
desconhecido as performances dele. Comentam
comigo do suposto tamanho dos pés dele (enormes, dizem, "como pés-de-pato!") até o fato de só
ele conseguir nadar tão à
frente da linha do recorde
mundial, que a TV mostra
nas provas.
Tudo isso seria fácil de
entender se esse rapaz de
23 anos só agora tivesse
despontado para o mundo,
mas não é o caso.
Já em Atenas-2004, ele
monopolizou as atenções
da mídia quando se propôs
a conseguir sete medalhas
de ouro tal como o também americano Mark
Spitz fez em Munique-1972. Phelps foi o grande
destaque, somando seis
ouros e dois bronzes.
Ele é talentoso e extremamente versátil. Domina todas as distâncias e estilos, ainda que demandem estratégias de treinamento absolutamente distintas: de 100 m livre (prova de velocidade) aos 400
m medley (prova de fundo
dos quatro estilos).
Mas o que motiva alguém como Michael
Phelps? Medalhas de ouro, claro, mas também a
difícil tarefa de fazer da
natação um esporte mais
valorizado em seu país.
Os americanos são mal
acostumados. Há décadas
dominam a natação, mas
esse esporte sequer recebe
uma fração da atenção ou
dos salários de astros do
basquete, do beisebol ou
do futebol americano.
O cidadão americano
médio só ouve falar de natação durante a Olimpíada. Ou seja: Michael
Phelps se expõe na mídia
anunciando que seu objetivo é superar o maior vencedor olímpico da história
não para si, mas para toda
uma modalidade pouco
reconhecida. É mole? Os
americanos já ganharam
mais de 450 medalhas na
natação. Os nadadores
merecem ser amados.
Se Michael Phelps conseguirá ou não superar o
feito de Mark Spitz, sete
medalhas de ouro em uma
única edição dos Jogos,
ainda não sabemos. Mas
que a natação americana
já tem o seu menino dourado, muito mais do que os
que o antecederam, capaz
de monopolizar as atenções de países distantes,
isso eles já têm!
Ricardo Prado é ex-nadador e foi prata
nos 400 m medley em Los Angeles-1984
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