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ARTIGO
Operários pagam o preço da Olimpíada
Chineses que ergueram instalações esportivas são expulsos de Pequim sem salário e sem emprego
TAO RAN
ESPECIAL PARA A FOLHA
Há três meses, quando eu fazia uma pesquisa em um vilarejo rural a mais de 300 km de Pequim, tive uma surpresa ao descobrir que todos os trabalhadores migrantes das províncias vizinhas, que até então trabalhavam nas obras do povoado, tinham acabado de partir.
Quando indagado sobre o
porquê disso, o chefe do povoado respondeu que, para garantir uma boa qualidade do ar para a Olimpíada, a maioria das
empresas poluentes teve que
ser fechada, mesmo as que ficam distantes de Pequim.
O que me surpreendeu mais
ainda foi a resposta à seguinte
pergunta: "Por que vocês interromperam pela metade a construção da rodovia do povoado?"
O que me foi dito foi que o
preço do cascalho -pedras
quebradas usadas na superfície
das estradas- acabara de dobrar. Sendo assim, a verba para
a pavimentação da estrada já
não era suficiente, e a obra teve
que ser suspensa. "Por que o
preço do cascalho dobrou?",
perguntei. A resposta ainda foi:
"A Olimpíada". Para garantir
plenamente a segurança durante os Jogos, o uso de explosivos tinha sido controlado rigidamente ou proibido por completo em muitas pedreiras próximas a Pequim. Por conta disso, faltava cascalho.
O que testemunhei naquele
povoado é só uma parte pequena do impacto dos Jogos sobre
as vidas dos chineses comuns.
Antes mesmo de os Jogos começarem, muitas pessoas aqui
na China já falavam sobre o
conceito de economia olímpica. Não há dúvida de que a
Olimpíada renderá benefícios
significativos, já que o número
de turistas estrangeiros e chineses deve aumentar durante e
após o evento. Os Jogos também podem ajudar a gerar muitas outras oportunidades de
negócios que, neste momento,
ainda são difíceis de mensurar.
Mas quero chamar a atenção
a outro efeito colateral das
Olimpíadas que talvez não seja
menos importante: a deseconomia olímpica.
Para reduzir a poluição do ar,
metade dos 3,3 milhões de automóveis de Pequim foi tirada
das ruas entre 20 de julho e 20
de setembro. Muitas fábricas
poluidoras foram fechadas, não
apenas em Pequim mas também nas cinco províncias vizinhas. Fábricas químicas, usinas
elétricas e fundições autorizadas a continuar operando tiveram que reduzir em 30% suas
emissões de gases.
Isso significa que a maioria
dos operários, que fizeram uma
contribuição grande para a
construção das instalações esportivas da Olimpíada, foi obrigada a deixar a capital por pelo
menos dois meses, recebendo
pouco ou nenhum pagamento
durante esse período.
Como parte de uma campanha pela segurança alimentar
durante os Jogos, o governo
também fechou restaurantes
de Pequim que não satisfazem
os critérios sanitários básicos.
Apesar de tudo isso, a maioria das pessoas com quem conversei aqui em Pequim sente
orgulho da Olimpíada. Para a
maioria dos moradores da cidade, os Jogos serão o melhor palco para mostrar ao mundo a
prosperidade da China.
Como o show precisa ser de
alta qualidade, há um preço a
ser pago. Mas a maior parte
desse preço será pago pelos trabalhadores migrantes que antes trabalhavam na construção
e nos restaurantes de Pequim,
mas que ficaram desempregados durante os Jogos.
Tao Ran é PhD em economia pela Universidade
de Chicago e, atualmente, reside em Pequim
Tradução de Clara Allain
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