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MADE IN CHINA
Original de fábrica
LOJA SECRETA E ERRANTE EM BAIRRO CHIQUE DE PEQUIM DRIBLA POLÍCIA PARA OFERECER GRIFES FAMOSAS
E CONTRASTA COM ESTRATÉGIA CORPO A CORPO DAS VENDEDORAS DO CENTRO DE PIRATARIA DA CIDADE
RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM
Armanis, Pradas e Louis
Vuittons de qualidade, que não
parecem nada falsificados, são
a atração de uma secreta loja de
Pequim. Funciona em um
apartamento no 20º andar de
um edifício em um dos bairros
mais caros da cidade.
É conhecida como Frienda,
como alguns chineses sem
muito traquejo com o inglês se
referem à proprietária.
A "amiga" é uma mulher de
40 anos, vestida normalmente
com roupas de couro e botas de
cano longo, e que oferece dezenas de bolsas, ternos e sapatos
de grandes marcas, de qualidade bastante superior à dos mercadões de produtos piratas comuns na China.
A "loja" já mudou várias vezes de endereço, e "olheiros" ficam no térreo do prédio para se
adiantar a qualquer incursão da
polícia. Acredita-se que ela trabalhe com os fornecedores das
próprias grandes marcas estrangeiras -são produtos "desviados" das fábricas ou que foram descartados por algum pequeno defeito.
De empresários a diplomatas, turistas e curiosos, a Frienda vive cheia. Um terno Armani
pode sair pelo equivalente a R$
400, uma bolsa Chanel, por R$
150, e uma camisa Paul Smith,
por R$ 40.
Para entrar na "loja", é preciso convencer no interfone que
se é "amigo da Frienda". A primeira sala do apartamento de
250 m2 fica vazia -os funcionários precisam observar se o visitante não oferece perigo para
liberar o acesso a ele.
Loucos por consumo, os chineses criaram opções para todos os orçamentos. Nos 87
shoppings de Pequim, as marcas européias são onipresentes
- três lojas Giorgio Armani foram inauguradas só no último
mês. Com preços dignos de Europa, mais impostos.
Já no Mercado da Seda, o
mais conhecido centro de pirataria da cidade, camisas Polo
Ralph Lauren ou Lacoste piratas saem por R$ 20, no máximo
-mas são necessários uns 20
minutos de pechincha.
As vendedoras se viram em
inglês, espanhol, italiano e
qualquer outro idioma necessário e sempre pedem um preço dez vezes maior que o real. A
calça jeans Diesel fake, por
exemplo, será oferecida pelo
equivalente a R$ 300, quando
não vale mais de R$ 30.
Até para quem já freqüentou
mercados árabes, a experiência
choca. As vendedoras chinesas
são bem mais agressivas. Puxam o possível comprador pelo
braço, agarram se for necessário, e choram (ou gritam) se
acham a pechincha "ofensiva".
Vale até tapa no comprador para mostrar que elas não querem mais nenhum regateio.
Usar alguma palavra em chinês ajuda -se elas acham que o
estrangeiro está perdido, ficam
mais irredutíveis.
Há mercadões no estilo em
todos os gêneros -a Cidade da
Fotografia, o Buynow, de produtos eletrônicos, o Yashow, de
roupas. A maior parte deles
continua aberta em plena
Olimpíada, apesar de ambulantes com pirataria terem sumido das ruas e lojas com DVDs
falsos terem sido fechadas.
A pirataria na China é favorecida por dilema filosófico.
"Copiar bem é uma arte na
China, não é considerado algo
inferior. Pintores costumavam
reproduzir um mesmo trabalho de séculos atrás e eram celebrados por conseguirem uma
luz ou força diferentes", diz Sarina Tang, curadora e historiadora da arte. "Às vezes a cópia
era preferida à original."
Em um país de 1,35 bilhão de
habitantes e com escassos recursos naturais, a sobrevivência deixa mais elásticas as regras éticas.
A maior montadora chinesa,
a Chery, enfrentou diversas
acusações de copiar peça por
peça modelos da General Motors. Em 2003, a GM entrou
com uma ação na Justiça chinesa, que não considerou "exatamente" uma cópia.
Em 2005, a GM retirou o
processo e, no ano passado, fez
um acordo de distribuição com
a própria montadora que a pirateou. A Chery pertence ao
governo.
Não foi a única vez que a cópia descarada foi premiada. A
Lining, maior marca de material esportivo da China, adotou
um logotipo quase igual ao da
Nike, e seu slogan, "Anything is
possible", é decalcado do "Impossible is nothing", da Adidas.
Ainda assim, a Lining recebeu o maior merchandising indireto da Olimpíada de Pequim. Seu criador, Li Ning, ex-ginasta chinês que ganhou três
ouros em Los Angeles-84, foi o
homem que acendeu a tocha na
cerimônia de abertura.
Fazendo uma volta olímpica
nas alturas pelo estádio, suspenso por cabos, com a tocha
olímpica nas mãos, ele deixou
para trás a rival estrangeira
Adidas, que pagou US$ 100 milhões para ser patrocinadora
oficial dos Jogos de 2008.
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