São Paulo, quarta-feira, 13 de agosto de 2008

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GUERRA FRIA

CHINA >> RAUL JUSTE LORES

Loucos por carros

NOS PRÓXIMOS dez anos, quase 100 milhões de novos carros devem ser vendidos na China. A motorização empurra a alta do preço do petróleo no mundo e polui ainda mais o país asiático, mas essas preocupações passam longe de qualquer concessionária chinesa.
Condenados a pedalar com velhas bicicletas por décadas, o sonho chinês do carro próprio é recente. Embora a propriedade de automóvel tenha sido permitida em 1978, só em 1994 o governo estimulou a compra.
Em 1990, a China produzia apenas 40 mil veículos por ano. Em 2008, serão 10 milhões - o segundo maior mercado do mundo. Há 50 milhões de veículos no país de 1,3 bilhão de habitantes, o que mostra o quanto ainda dá para crescer.
80% dos compradores são motoristas de primeira corrida. Ninguém na sua família dirigiu antes, com exceção de poucos afortunados. Nota-se. Os motoristas dirigem lentamente e muitos se negam a conversar enquanto estão no volante, colados na direção.
Com exceção das revendedoras de bairros chiques de Pequim, o normal é que o comprador pague à vista e em dinheiro, levando sacolas com centenas de notas. Carros populares são vendidos ao equivalente a R$ 10 mil, mas a venda de carros de luxo é a que mais cresce. Foram vendidos no ano passado 18 mil Mercedes e 50 mil Audis, a marca favorita dos membros do Partido Comunista.
Em uma sociedade louca por status, depois de décadas de igualitarismo e miséria forçados, quem compra um automóvel tem privilégios.
Avenidas de doze faixas são abertas regularmente e pobre de quem tentar atravessar a pé. Lei de trânsito não cola nem em temporada olímpica. Carros e ônibus param em cima da faixa de pedestres, cruzam à esquerda, à direita, fecham cruzamentos, estacionam nas calçadas e, principalmente, empurram ciclistas e pedestres, os perdedores da nova China.


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