São Paulo, sábado, 13 de setembro de 2008

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JOSÉ GERALDO COUTO

Hora do recreio


Com poucas exceções, a televisão brasileira encara o noticiário esportivo como brincadeira de crianças

P OR ALGUM motivo, com as raras exceções de praxe, a televisão brasileira trata o aficionado do esporte como uma criança de no máximo dez anos de idade.
Pode prestar atenção: nos telejornais da emissora hegemônica, quando vai falar de esportes, o locutor ou locutora abre o sorriso como se dissesse "hora do recreio, meninos".
Fátima Bernardes, por exemplo.
Depois de narrar com expressão tensa as desgraças do mundo, ela descontrai o rosto numa fração de segundo e diz: "E agora, o futebol". É a senha. Parece estar chamando o espectador para uma conversa amena sobre as traquinagens dos filhos.
Em seguida, entram repórteres engraçadinhos fazendo piadas e trocadilhos constrangedores. E os noticiários esportivos das outras emissoras, como sempre, copiam.
Reportagens investigativas, informações incômodas, questionamento do poder? Nem pensar. Melhor alimentar o culto à celebridade, promover enquetes tolas, esconder os problemas. Os profissionais envolvidos, a começar pela simpática e competente Fátima, não são evidentemente os responsáveis por isso.
Cumprem simplesmente uma orientação geral de suas empresas.
Nada contra o humor, muito pelo contrário. O "Cartão Verde", da TV Cultura, o "Rock Gol", da MTV, e as incursões esportivas da turma do "CQC", da Bandeirantes, costumam ser muito engraçados.
A diferença, a meu ver, é que o humor desses programas "periféricos" é crítico, independente, muitas vezes iconoclasta. O que irrita é o humor oficial, a favor, que nunca deixa de ser pueril.
O esporte tem, inegavelmente, um aspecto de refresco em meio às catástrofes do planeta. Mas isso não impede que seja tratado de forma adulta, crítica e inteligente.
Mas talvez o problema seja mais amplo. Na nossa TV aberta, já faz tempo que o jornalismo como um todo é um mero ramo do entretenimento. A informação é secundária.
A reflexão, quase uma ofensa.
Na cobertura esportiva, essa sorridente tendência obscurantista só se exacerba. É mais atual do que nunca a frase do Millôr: "Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados".

Ainda Dunga
Juca Kfouri deu anteontem aqui uma merecida paulada nos comentaristas que se renderam a Dunga por causa da vitória de domingo contra o Chile. Ainda bem que essa carapuça não me serve. Quando escrevi, na segunda, que o treinador poderia ter dito após o jogo "Vocês vão ter que me engolir", não estava sugerindo que ele tinha razão e muito menos que "calou os críticos" ou coisa parecida. Acho que ficava claro no resto do texto -e naquilo que venho escrevendo há tempos sobre o assunto- que Dunga se viu de repente numa situação favorável. Era uma avaliação de forças políticas. Mesmo agora, depois do broxante empate com a Bolívia, dificilmente Dunga vai perder o posto, pois o Brasil segue em segundo na classificação das eliminatórias. Ainda que aos trancos, a seleção se classificará. E, quanto mais avança a competição, mais delicada fica a opção de trocar Dunga por outro. Simples -e triste- assim.

jgcouto@uol.com.br



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