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CBF ignora norma da Fifa e limita mercado de agentes
Orientada a fazer duas provas anuais para empresários de jogadores, confederação realiza só uma; número de atletas no Brasil para cada representante é recorde no futebol mundial
CRISTIANO CIPRIANO POMBO
KLEBER TOMAZ
DA REPORTAGEM LOCAL
MARCUS VINÍCIUS MARINHO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A Confederação Brasileira de
Futebol descumpre uma das normas da Fifa no que diz respeito a
formar agente de atletas reconhecido pela federação internacional.
Há dois anos, a entidade chefiada por Ricardo Teixeira deixou de
aplicar duas provas por ano para
a seleção de novos agentes, contrariando o artigo 5º da circular
803 do Comitê Executivo da Fifa,
de 10 de dezembro de 2000, que
determina que as associações nacionais têm de fazer exames escritos para admissão de representantes em março e setembro.
Os testes são realizados em datas idênticas no mundo inteiro
desde 2001. A CBF, porém, tem
optado por realizá-lo só no início
do ano. Em 11 de julho, a confederação publicou em seu site, sem
qualquer explicação, que o teste a
ser realizado em setembro acontecerá em março de 2006.
"A única razão para a CBF não
realizar as duas provas seria não
ter candidato. Será? Difícil crer.
Ela adiou o concurso sem se justificar. Isso fere a regra da Fifa", diz
o advogado Marcílio Krieger, especialista em direito esportivo.
A primeira conseqüência prática disso é o número restrito de
agentes no país: 107, o menor dos
grandes centros da bola. Itália
(308), Inglaterra (284) e Espanha
(276) somam mais que o dobro
dos profissionais brasileiros nesse
setor. França (151) e Alemanha
(136) também estão à frente.
Contudo é devido ao tamanho
do mercado brasileiro que a falta
de novos agentes fica mais latente.
Com cerca de 13 mil jogadores,
o futebol brasileiro registra hoje a
proporção de um "tutor" profissional para um grupo de 122 atletas, o maior índice entre todos os
países que já venceram a Copa
mais Espanha e Portugal, que têm
ligas bem desenvolvidas.
Quem chega mais perto disso é
o Uruguai, que detém 1 agente para 111 atletas, num universo de mil
jogadores profissionais.
Na Europa, mesmo somados,
Portugal (1 agente para cada 46
atletas), Itália, Inglaterra (1 para
cada 8), Alemanha, França e Espanha (1 para cada 7) não alcançam o número brasileiro.
O índice chama a atenção da
Confederação Sul-Americana de
Futebol. Segundo Néstor Benítez,
diretor de comunicação da entidade, o número de agentes na região é considerado satisfatório,
exceto por Brasil e Argentina (1
agente para cada 41 jogadores).
"Os agentes reconhecidos pela
Fifa, quando seguem as regras dela, são bons. Quando há monopólio, é contraproducente. No Brasil
e Argentina, pelo tamanho de
seus mercados, o número de
agentes é pequeno", diz Benítez.
Mesmo assim, a ação da CBF irá
passar batida pela Fifa, que não
prevê punição para quem descumpre a norma. Indagada pela
Folha sobre o que aconteceria
com um país que não obedecesse
a regra, a entidade ignorou a determinação de seu Comitê Executivo e descartou uma punição.
"A Fifa obriga, mas não pune
quem deixa de fazer duas provas,
e isso permite que cada federação
faça a seu modo", diz o advogado
carioca Rogério Derbly.
A Associação Brasileira de
Agentes Fifa, presidida por Leo
Rabello e que abriga quase metade do quadro nacional, prefere
não comentar a ação da CBF, mas
considera 107 um bom número e
diz que, antes das provas, era mais
difícil ser representante.
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