São Paulo, domingo, 13 de novembro de 2005

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CBF ignora norma da Fifa e limita mercado de agentes

Orientada a fazer duas provas anuais para empresários de jogadores, confederação realiza só uma; número de atletas no Brasil para cada representante é recorde no futebol mundial

CRISTIANO CIPRIANO POMBO
KLEBER TOMAZ
DA REPORTAGEM LOCAL

MARCUS VINÍCIUS MARINHO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A Confederação Brasileira de Futebol descumpre uma das normas da Fifa no que diz respeito a formar agente de atletas reconhecido pela federação internacional.
Há dois anos, a entidade chefiada por Ricardo Teixeira deixou de aplicar duas provas por ano para a seleção de novos agentes, contrariando o artigo 5º da circular 803 do Comitê Executivo da Fifa, de 10 de dezembro de 2000, que determina que as associações nacionais têm de fazer exames escritos para admissão de representantes em março e setembro.
Os testes são realizados em datas idênticas no mundo inteiro desde 2001. A CBF, porém, tem optado por realizá-lo só no início do ano. Em 11 de julho, a confederação publicou em seu site, sem qualquer explicação, que o teste a ser realizado em setembro acontecerá em março de 2006.
"A única razão para a CBF não realizar as duas provas seria não ter candidato. Será? Difícil crer. Ela adiou o concurso sem se justificar. Isso fere a regra da Fifa", diz o advogado Marcílio Krieger, especialista em direito esportivo.
A primeira conseqüência prática disso é o número restrito de agentes no país: 107, o menor dos grandes centros da bola. Itália (308), Inglaterra (284) e Espanha (276) somam mais que o dobro dos profissionais brasileiros nesse setor. França (151) e Alemanha (136) também estão à frente.
Contudo é devido ao tamanho do mercado brasileiro que a falta de novos agentes fica mais latente.
Com cerca de 13 mil jogadores, o futebol brasileiro registra hoje a proporção de um "tutor" profissional para um grupo de 122 atletas, o maior índice entre todos os países que já venceram a Copa mais Espanha e Portugal, que têm ligas bem desenvolvidas.
Quem chega mais perto disso é o Uruguai, que detém 1 agente para 111 atletas, num universo de mil jogadores profissionais.
Na Europa, mesmo somados, Portugal (1 agente para cada 46 atletas), Itália, Inglaterra (1 para cada 8), Alemanha, França e Espanha (1 para cada 7) não alcançam o número brasileiro.
O índice chama a atenção da Confederação Sul-Americana de Futebol. Segundo Néstor Benítez, diretor de comunicação da entidade, o número de agentes na região é considerado satisfatório, exceto por Brasil e Argentina (1 agente para cada 41 jogadores).
"Os agentes reconhecidos pela Fifa, quando seguem as regras dela, são bons. Quando há monopólio, é contraproducente. No Brasil e Argentina, pelo tamanho de seus mercados, o número de agentes é pequeno", diz Benítez.
Mesmo assim, a ação da CBF irá passar batida pela Fifa, que não prevê punição para quem descumpre a norma. Indagada pela Folha sobre o que aconteceria com um país que não obedecesse a regra, a entidade ignorou a determinação de seu Comitê Executivo e descartou uma punição.
"A Fifa obriga, mas não pune quem deixa de fazer duas provas, e isso permite que cada federação faça a seu modo", diz o advogado carioca Rogério Derbly.
A Associação Brasileira de Agentes Fifa, presidida por Leo Rabello e que abriga quase metade do quadro nacional, prefere não comentar a ação da CBF, mas considera 107 um bom número e diz que, antes das provas, era mais difícil ser representante.


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