São Paulo, domingo, 13 de novembro de 2005

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FUTEBOL

Controvérsias

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Os dois melhores jogadores do campeonato brasileiro, Tevez e Petkovic, são estrangeiros. Voto no Tevez.
Outros que também brilham no Brasileirão -como Nilmar, Roger, Amoroso, Gamarra, Juninho Paulista e Júnior- não eram titulares ou não eram destaques em outros países antes de retornarem ao Brasil.
Com exceção das contratações milionárias do Corinthians, a maior parte dos jogadores que atua no Brasil está no início de suas carreiras ou voltou do exterior por falta de mercado. Ou são atletas medianos que não interessam aos clubes de fora.
Mesmo assim, por causa da rápida renovação, o Campeonato Brasileiro está empolgante, equilibrado, com alguns excelentes jogos e muitos gols.
Os maiores craques do mundo estão em poucas equipes da Espanha, da Itália e da Inglaterra. É injusto. Os menos craques e/ou menos famosos, mas também bons ou excelentes, se espalham pelas médias equipes da Europa. A grande maioria é de jogadores medianos e/ou que têm bons empresários, do Brasil e de outros países pobres, que jogam em pequenos times de todo o mundo.
É impossível evitar essa saída por causa das diferenças econômicas. Porém ela poderia ser atenuada se houvesse no Brasil clubes mais bem administrados e calendários organizados.
Há também uma supervalorização em todo o mundo, inclusive no Brasil, de jogadores medianos europeus. É o nosso complexo de inferioridade, de colonizados. Por outro lado, existe no Brasil, por desinformação e/ou ufanismo, o conceito de que só nós temos craques. Falam até que o Beckham é apenas um produto de marketing.
Para avaliar os times e os jogadores europeus e brasileiros que atuam na Europa, basta vê-los pela televisão. Mas é preciso assistir aos 90 minutos da maioria dos jogos, e não apenas aos melhores momentos e aos gols -ou só repetir o que outros disseram.
Existem muitas dúvidas na comparação dos campeonatos da Europa e do Brasil e na avaliação das qualidades dos jogadores que atuam lá e cá.
Seria a má qualidade dos times brasileiros a razão de muitos jogadores que não estavam bem no exterior brilharem em nosso campeonato? Os atletas brasileiros precisam se destacar na Europa para receber um atestado de qualidade? Parreira está certo em dar preferência aos atletas que jogam na Europa? A goleada sofrida pelo Internacional contra o Boca Juniors e mais a eliminação da Copa Sul-americana do Fluminense e do Corinthians, mesmo desfalcados, são mais uma evidência de que as equipes brasileiras não são lá essas coisas?
Há bastantes perguntas, poucas respostas e muitas controvérsias.

Boleiros x acadêmicos
Joel Santana, que tem uma história de vitórias no futebol carioca, é um treinador folclórico, de frases interessantes e engraçadas, que servem para valorizá-lo nas vitórias e para ironizá-lo nas derrotas. Após a virada sobre o Botafogo, o lateral Leonardo Moura repetiu para os repórteres as instruções do técnico no intervalo: se cada um der 5% do que pode, a soma será de 100%. Entendeu?
Se o Flamengo não cair, o que é provável, a diretoria promete fazer uma estátua do técnico. Ela terá de ter um nariz e uma barriga proeminentes, óculos para baixo como o de um pseudo-intelectual, a famosa prancheta em uma mão e uma goiabada com queijo na outra.
Essa expressão, goiabada com queijo, foi dita pelo Joel para enfatizar que ele fala uma linguagem simples e que todos os jogadores entendem. É o estilo boleiro, em oposição ao estilo acadêmico e formal de outros técnicos (estilos Titês e Lazaronês).
Qual é o melhor? Há também controvérsias.

Empresários
Além de parentes nas comissões técnicas, cada dia aumenta no futebol brasileiro a presença de empresários, que são parentes de ex-jogadores, de ex-técnicos e de diretores de clubes. Eles participam ativamente da contratação e da venda de jogadores profissionais e das categorias de base, como foi noticiado recentemente no Fluminense.
Essa presença maciça de empresários em todos os clubes, que se acentuou recentemente, como no Flu, prejudica bastante o trabalho humano e psicológico que é feito há muitos anos em Xerém com os garotos do clube.


E-mail: tostao.folha@uol.com.br

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