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JUCA KFOURI
Mineiro, o Decidequieto
O jovem senhor tricolor joga tanto, mas tanto, e de uma maneira tão silenciosa que merece contrato inovador
AOS 31 ANOS , Carlos Luciano da
Silva, gaúcho de Porto Alegre,
Mineiro, o volante do São
Paulo, é o que se pode chamar de um
cidadão pacato, discreto, diria até
"low profile", não existissem, ainda
bem, palavras em português para
defini-lo.
O cartunista Ziraldo inventou o
personagem Mineirinho, o Comequieto, muito antes de Mineiro aparecer para o futebol, em 1997, no Rio
Branco de Americana.
A trajetória dele foi tão singela
quanto seu modesto 1,69 m, com
passagens pelo Guarani, pela Ponte
Preta e pelo São Caetano até chegar
ao São Paulo, no ano passado, e à Copa do Mundo deste ano, pela seleção
brasileira.
Provavelmente, se estivesse em
campo, não teria deixado Zinedine
Zidane pintar e bordar no jogo que
decretou, em Frankfurt, o fim do sonho do hexacampeonato.
E talvez Mineiro até tivesse marcado um gol.
Não que seja um artilheiro, do
mesmo modo que não é um volante
de dar pancada, tanto que jamais
saiu expulso de campo em dez campanhas em Campeonatos Brasileiros, embora seja um marcador vigilante e um passador eficiente. Ah, já
marcou 15 gols em Brasileiros.
Mas não só: de uns tempos para
cá, deu para fazer gols decisivos.
Como o do Mundial de Clubes,
contra o Liverpool.
Ou como o contra o Santos, domingo retrasado.
Ou como o contra o Goiás, ontem,
além do mais, belíssimo, de fora da
área, cheio de veneno.
Antes, havia marcado na terceira
rodada, contra o Santa Cruz, o terceiro da goleada por 4 a 0.
O São Paulo quer renovar seu contrato por mais quatro anos e informa que as negociações estão adiantadas e muito bem encaminhadas
para um final feliz.
Talvez haja uma proposta que liquide a questão e a torne definitivamente irrecusável para este chefe de
família de poucas palavras e jeito dócil: a de renovar por dez anos, até 2
de agosto de 2016, quando ele completará 41 anos, com mais duas Copas do Mundo nas costas, sabe-se lá
quantos títulos e gols em momentos
essenciais.
Porque Mineiro é desses jogadores raros que não se pode perder,
mesmo num time tetracampeão nacional cujo segredo parece ser não
ter nem um atleta que não saiba o
que fazer com a bola.
A TV e a FPF
O diário "Lance!" revelou que a
FPF ignorou uma proposta da TV
Record de R$ 70 milhões pelos direitos do campeonato estadual de
2008. E que a entidade anunciou,
numa reunião convocada para outros fins, a renovação do contrato
com a Rede Globo, por R$ 40 milhões. Parece mentira.
Mas não é. É possível até que a
proposta da Record seja daquelas
apenas para salgar a conta do concorrente, algo semelhante ao que
fez o SBT, em 1997, pelo Campeonato Brasileiro, embora a TV dos
bispos anuncie que esteja disposta
a registrá-la em cartório.
O inconcebível nisso tudo, no entanto, é mais uma vez constatar como são feitas as negociações em
nosso futebol, sem que as propostas sejam discutidas em salas iluminadas e na presença de todos.
Verdade que o modelo é o mesmo
da Fifa, que por Copas e Copas fechava com a hoje desaparecida ISL
sem levar em conta outras ofertas.
Mesmo que a investida da Record seja mera revanche por ter
saído da parceria com a Globo pelos direitos do Brasileiro, na qual
queria pagar bem menos que a parceira e ter o mesmo direito a jogos
exclusivos, o fato é que o tal do capitalismo moderno não comporta
dois comportamentos. Pagar menos e ter mais. E monopólio.
Sem livre concorrência não dá.
blogdojuca@uol.com.br
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