São Paulo, segunda-feira, 13 de novembro de 2006

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JUCA KFOURI

Mineiro, o Decidequieto

O jovem senhor tricolor joga tanto, mas tanto, e de uma maneira tão silenciosa que merece contrato inovador

AOS 31 ANOS , Carlos Luciano da Silva, gaúcho de Porto Alegre, Mineiro, o volante do São Paulo, é o que se pode chamar de um cidadão pacato, discreto, diria até "low profile", não existissem, ainda bem, palavras em português para defini-lo.
O cartunista Ziraldo inventou o personagem Mineirinho, o Comequieto, muito antes de Mineiro aparecer para o futebol, em 1997, no Rio Branco de Americana.
A trajetória dele foi tão singela quanto seu modesto 1,69 m, com passagens pelo Guarani, pela Ponte Preta e pelo São Caetano até chegar ao São Paulo, no ano passado, e à Copa do Mundo deste ano, pela seleção brasileira.
Provavelmente, se estivesse em campo, não teria deixado Zinedine Zidane pintar e bordar no jogo que decretou, em Frankfurt, o fim do sonho do hexacampeonato. E talvez Mineiro até tivesse marcado um gol.
Não que seja um artilheiro, do mesmo modo que não é um volante de dar pancada, tanto que jamais saiu expulso de campo em dez campanhas em Campeonatos Brasileiros, embora seja um marcador vigilante e um passador eficiente. Ah, já marcou 15 gols em Brasileiros.
Mas não só: de uns tempos para cá, deu para fazer gols decisivos. Como o do Mundial de Clubes, contra o Liverpool.
Ou como o contra o Santos, domingo retrasado. Ou como o contra o Goiás, ontem, além do mais, belíssimo, de fora da área, cheio de veneno.
Antes, havia marcado na terceira rodada, contra o Santa Cruz, o terceiro da goleada por 4 a 0. O São Paulo quer renovar seu contrato por mais quatro anos e informa que as negociações estão adiantadas e muito bem encaminhadas para um final feliz.
Talvez haja uma proposta que liquide a questão e a torne definitivamente irrecusável para este chefe de família de poucas palavras e jeito dócil: a de renovar por dez anos, até 2 de agosto de 2016, quando ele completará 41 anos, com mais duas Copas do Mundo nas costas, sabe-se lá quantos títulos e gols em momentos essenciais.
Porque Mineiro é desses jogadores raros que não se pode perder, mesmo num time tetracampeão nacional cujo segredo parece ser não ter nem um atleta que não saiba o que fazer com a bola.

A TV e a FPF
O diário "Lance!" revelou que a FPF ignorou uma proposta da TV Record de R$ 70 milhões pelos direitos do campeonato estadual de 2008. E que a entidade anunciou, numa reunião convocada para outros fins, a renovação do contrato com a Rede Globo, por R$ 40 milhões. Parece mentira.
Mas não é. É possível até que a proposta da Record seja daquelas apenas para salgar a conta do concorrente, algo semelhante ao que fez o SBT, em 1997, pelo Campeonato Brasileiro, embora a TV dos bispos anuncie que esteja disposta a registrá-la em cartório.
O inconcebível nisso tudo, no entanto, é mais uma vez constatar como são feitas as negociações em nosso futebol, sem que as propostas sejam discutidas em salas iluminadas e na presença de todos.
Verdade que o modelo é o mesmo da Fifa, que por Copas e Copas fechava com a hoje desaparecida ISL sem levar em conta outras ofertas.
Mesmo que a investida da Record seja mera revanche por ter saído da parceria com a Globo pelos direitos do Brasileiro, na qual queria pagar bem menos que a parceira e ter o mesmo direito a jogos exclusivos, o fato é que o tal do capitalismo moderno não comporta dois comportamentos. Pagar menos e ter mais. E monopólio. Sem livre concorrência não dá.


blogdojuca@uol.com.br

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