São Paulo, sábado, 13 de novembro de 2010

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RITA SIZA

O melhor do mundo


Pacquiao é, para qualquer filipino, o que Pelé é para qualquer brasileiro: ícone e orgulho

UM DOS MEUS vizinhos em Washington era um filipino fanático por futebol que, à boa maneira dos americanos, tinha a cabeça cheia de estatísticas e factoides desportivos. Durante a Copa da África do Sul, de cada vez que o encontrava no corredor, perdia sempre no mínimo uns 20 minutos a ouvi-lo dizer como admirava o Cristiano Ronaldo.
Ele sabia tudo o que havia para saber da seleção e dos jogadores portugueses e eu, ignorante, tinha que ficar calada, incapaz de produzir uma única opinião sobre o futebol filipino. Para não ficar tão mal, fazia sempre a mesma pergunta: E então, que tal o Pacquiao?
Manny Pacquiao é, para qualquer filipino, o que Pelé é para qualquer brasileiro: um orgulho, um ícone, um herói nacional. E eles têm sempre coisas para dizer sobre o seu homem, a primeira de todas que ele é o melhor "boxeur" do mundo, melhor do que todos, incluindo o Ali.
O Pacman, como eles lhe chamam, é um talismã para todos os filipinos forçados a deixar o seu país em busca de trabalho e uma vida melhor, milhões deles para os Estados Unidos da América.
Ele viveu em extrema pobreza e teve de desistir da escola e sair de casa aos 14 anos. Para sobreviver nas ruas de Manila, começou a lutar boxe.
Agora, ele tem uma mansão em Beverly Hills e priva com as estrelas do esporte, da música e do cinema em Hollywood. Mas a sua vida não é de deslumbramento com a fama e o estrelato. Ele é um incansável advogado da causa da luta contra a pobreza e é também um empenhado agente político nos Estados Unidos, onde apoia o Partido Democrata, mas sobretudo nas Filipinas, onde se tornou o primeiro esportista a ser eleito para o Congresso. Uma das suas primeiras iniciativas legislativas: uma nova lei a apertar as penas para o tráfico de seres humanos.
Hoje, no Texas, Pacquiao enfrenta António Margarito por mais um título mundial que, a acontecer, acrescentará ao seu impressionante currículo uma nova faixa de campeão em oito categorias de peso. Nos 15 anos de carreira profissional, o Pacman colecciona recordes em sete divisões -ele já ganhou nove títulos mundiais em sete categorias de peso.
Seguramente para aguçar o apetite dos espectadores e dos apostadores, os jornalistas americanos que seguem a carreira dele de perto têm alimentado a ideia de que a vitória não está garantida, que com tantos compromissos políticos Pacquiao não teve tempo para treinar e preparar-se devidamente para o combate.
Eu cá não tenho dúvidas que ele vai ganhar. O meu vizinho garante.


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