São Paulo, quinta-feira, 13 de dezembro de 2001

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FUTEBOL

Os passageiros e os motores

SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA

O longo (looongo) pronunciamento do senador Gilvan Borges na CPI do Futebol, na quinta-feira passada, deve ter desanimado muitos espectadores.
Assim como o futebol é famoso por seus chavões, a política tem a cultura do falar rebuscado, e os discursos empolados aumentam o desinteresse do público pelo trabalho dos políticos (ou seja, entediar é só uma parte do estrago).
Gilvan produziu algumas frases exemplares do que é a cultura brasileira em relação a "autoridades", "doutores" e "professores" (as aspas são importantes -os professores de verdade têm sido tratados como "coitados"...).
Segundo o próprio senador, Ricardo Teixeira foi citado 1.500 vezes no relatório da CPI. Em defesa do (ainda!) presidente da CBF, ele destacou: "Falam de limusines alugadas em Nova York, mas ele não poderia chegar de carroça".
Então é assim que se divide o mundo para o senador pelo Amapá: em limusines e carroças. Para os bacanas, nada menos que uma limusine -carro vistoso, impressionante e algo anacrônico. Não se trata de um veículo para um simples deslocamento, mas para um desfile. Serve bem às noivas em sua noite de gala e glória, mas é o mais indicado para um executivo a trabalho?
Para o senador, é o único indicado. Porque, tirando as limusines, sobram as carroças. Para o populacho, a ralé, os comuns.
É especialmente bizarro que isso se aplique ao mundo do futebol. Eu já acho estranho -digo mais, deselegante- que se use terno e gravata à beira do campo. A ocasião -um jogo de futebol, às vezes sob o sol inclemente dos trópicos- não combina. Quanto mais pensar em uma limusine para os dirigentes!
Futebol é uma paixão popular. Quem vê um joguinho em um canteiro esburacado e fedido da marginal, em uma faixa torta e úmida da praia, em uma encosta coberta de mato, sabe que o povão faz qualquer coisa por um bate-bola. Muitos dos craques de hoje estouraram os dedos do pé em "campinhos" assim; muitos que poderiam ser craques ainda o fazem. Limusine pode ser o nome dado de brincadeira à carroça que eles usam -não como passageiros, mas como o próprio motor. Ainda há muitos brasileiros puxando carroça por aí, recolhendo o lixo que os bacanas, às vezes, jogam pela janela do carro.
Não é a limusine usada em Nova York a culpada pela pobreza do futebol (embora seu aluguel tenha custado mais que o normal, e por isso ela tenha aparecido no relatório). A causa da pobreza não é nem a falta de dinheiro...
É a indigência moral, a pobreza cultural dos caros (sem aspas!) dirigentes. Será que eles jogaram futebol com amigos? (Será que se lembram disso?) Será que enfrentariam a fila na bilheteria, o cimento da arquibancada, o banheiro sujo para ver um jogo do seu time? Acho que não.
Futebol, para eles, é um bom motivo para andar de limusine.

Corrigindo o que eu disse na semana passada: o PSDB abriu mesmo um processo de expulsão contra o senador Álvaro Dias por ele não querer retirar sua assinatura do pedido de abertura da CPI da Corrupção.
Dias conseguiu barrar o processo na Justiça mas, diante de outras pressões (como a intervenção no diretório do PSDB no Paraná), decidiu deixar o partido. Quer dizer, não foi expulso, mas não por falta de tentativa.

Prazos
Kléber e Alex Mineiro, do Atlético-PR, foram expulsos no dia 25 de novembro, no penúltimo jogo da primeira fase, e só foram julgados pelo STJD 20 dias depois. A demora é normal e inevitável?

Tamanhos
Para definir a capacidade de um estádio, a CBF mede a sua arquibancada. Espero que não fique só nisso. Deveriam ser levadas em conta também as entradas e saídas, o número de funcionários, banheiros, bebedouros, telefones públicos, enfermarias...

Memória
No "SP TV" de ontem, Chico Pinheiro brincou com Adãozinho do São Caetano: "É mais difícil colher gols e vitórias do que trabalhar na roça, não?" Mas o jogador não esqueceu e não quis renegar o passado: "Não, Chico, colher milho é bem mais duro".
E-mail: soninha.folha@uol.com.br


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