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FUTEBOL
Os passageiros e os motores
SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA
O longo (looongo) pronunciamento do senador Gilvan
Borges na CPI do Futebol, na
quinta-feira passada, deve ter desanimado muitos espectadores.
Assim como o futebol é famoso
por seus chavões, a política tem a
cultura do falar rebuscado, e os
discursos empolados aumentam
o desinteresse do público pelo trabalho dos políticos (ou seja, entediar é só uma parte do estrago).
Gilvan produziu algumas frases
exemplares do que é a cultura
brasileira em relação a "autoridades", "doutores" e "professores" (as aspas são importantes
-os professores de verdade têm
sido tratados como "coitados"...).
Segundo o próprio senador, Ricardo Teixeira foi citado 1.500 vezes no relatório da CPI. Em defesa
do (ainda!) presidente da CBF, ele
destacou: "Falam de limusines
alugadas em Nova York, mas ele
não poderia chegar de carroça".
Então é assim que se divide o
mundo para o senador pelo Amapá: em limusines e carroças. Para
os bacanas, nada menos que uma
limusine -carro vistoso, impressionante e algo anacrônico. Não
se trata de um veículo para um
simples deslocamento, mas para
um desfile. Serve bem às noivas
em sua noite de gala e glória, mas
é o mais indicado para um executivo a trabalho?
Para o senador, é o único indicado. Porque, tirando as limusines, sobram as carroças. Para o
populacho, a ralé, os comuns.
É especialmente bizarro que isso se aplique ao mundo do futebol. Eu já acho estranho -digo
mais, deselegante- que se use
terno e gravata à beira do campo.
A ocasião -um jogo de futebol,
às vezes sob o sol inclemente dos
trópicos- não combina. Quanto
mais pensar em uma limusine para os dirigentes!
Futebol é uma paixão popular.
Quem vê um joguinho em um
canteiro esburacado e fedido da
marginal, em uma faixa torta e
úmida da praia, em uma encosta
coberta de mato, sabe que o povão faz qualquer coisa por um bate-bola. Muitos dos craques de
hoje estouraram os dedos do pé
em "campinhos" assim; muitos
que poderiam ser craques ainda o
fazem. Limusine pode ser o nome
dado de brincadeira à carroça
que eles usam -não como passageiros, mas como o próprio motor. Ainda há muitos brasileiros
puxando carroça por aí, recolhendo o lixo que os bacanas, às
vezes, jogam pela janela do carro.
Não é a limusine usada em Nova York a culpada pela pobreza
do futebol (embora seu aluguel
tenha custado mais que o normal,
e por isso ela tenha aparecido no
relatório). A causa da pobreza
não é nem a falta de dinheiro...
É a indigência moral, a pobreza
cultural dos caros (sem aspas!) dirigentes. Será que eles jogaram futebol com amigos? (Será que se
lembram disso?) Será que enfrentariam a fila na bilheteria, o cimento da arquibancada, o banheiro sujo para ver um jogo do
seu time? Acho que não.
Futebol, para eles, é um bom
motivo para andar de limusine.
Corrigindo o que eu disse na semana passada: o PSDB abriu
mesmo um processo de expulsão
contra o senador Álvaro Dias por
ele não querer retirar sua assinatura do pedido de abertura da
CPI da Corrupção.
Dias conseguiu barrar o processo na Justiça mas, diante de outras pressões (como a intervenção
no diretório do PSDB no Paraná),
decidiu deixar o partido. Quer dizer, não foi expulso, mas não por
falta de tentativa.
Prazos
Kléber e Alex Mineiro, do
Atlético-PR, foram expulsos
no dia 25 de novembro, no
penúltimo jogo da primeira
fase, e só foram julgados pelo
STJD 20 dias depois. A demora é normal e inevitável?
Tamanhos
Para definir a capacidade de
um estádio, a CBF mede a sua
arquibancada. Espero que
não fique só nisso. Deveriam
ser levadas em conta também
as entradas e saídas, o número de funcionários, banheiros, bebedouros, telefones
públicos, enfermarias...
Memória
No "SP TV" de ontem, Chico
Pinheiro brincou com Adãozinho do São Caetano: "É
mais difícil colher gols e vitórias do que trabalhar na roça,
não?" Mas o jogador não esqueceu e não quis renegar o
passado: "Não, Chico, colher
milho é bem mais duro".
E-mail: soninha.folha@uol.com.br
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