São Paulo, domingo, 14 de fevereiro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

PAULO VINICIUS COELHO

O craque e o monstro


Além de entender a posição de Dunga com Ronaldinho, é preciso ver quanto ele arrisca com quem está mal nos clubes

SE KAKÁ se machucar na Copa do Mundo, Dunga só terá uma alternativa: Júlio Baptista.
Essa observação, feita meses depois de Ronaldinho Gaúcho deixar de ser convocado e de Diego sair completamente dos planos de Dunga, causa certa indignação ao reserva de Kaká. "E qual é o problema?", pergunta Júlio Baptista.
Bem, o problema óbvio está na ideia preconcebida de que Ronaldinho é capaz de mudar a história de um jogo num lance. E na certeza de que Júlio Baptista é incapaz disso.
É?
Ronaldinho não faz um gol pela seleção desde outubro de 2007.
Júlio Baptista fez gols decisivos nas semifinais e na final da Copa América da Venezuela, torneio em que também fez gol e foi o melhor em campo nas quartas de final, contra o Chile.
Em 29 de março do ano passado, Ronaldinho vestia a camisa 10 do Brasil em Quito, contra o Equador.
A seleção de Dunga passava sufoco e só não perdeu de goleada porque Júlio César fez milagres. Lembra?
Todo mundo se lembra disso, mas nem todos se recordam de que, ao olhar para o banco de reservas, Dunga só viu Júlio Baptista. Ele entrou no lugar de Ronaldinho Gaúcho, aos 25min do segundo tempo. Aos 26min, gol do Brasil. Júlio Baptista.
Por mais que o Brasil queira Ronaldinho na seleção -eu cobrei isso há um mês-, é necessário olhar para a história dos dois na seleção.
Não é por gratidão aos campeões da Copa América que Júlio Baptista está entre os convocados e Ronaldinho não está. Se você tem a impressão de que Ronaldinho decide jogos e Júlio Baptista não, Dunga pensa exatamente o contrário. Ou melhor:
Dunga sabe que, na seleção, a verdade é exatamente o oposto desse nosso pensamento padrão.
Mas não, Júlio Baptista, não é verdade que não exista problema nenhum em você ser o único reserva de Kaká. O problema é que falta habilidade. O Brasil é um dos favoritos da Copa porque formou uma equipe coesa, prática, objetiva. Como em 1994, tem um time sério, não habilidoso. É a seleção brasileira mais alemã da história dos Mundiais.
"Em 2006, o Brasil tinha quatro dos jogadores mais habilidosos do mundo e não ganhou a Copa", retruca Júlio Baptista.
Tem razão.
Mais importante do que a disputa Ronaldinho x Júlio Baptista -que na prática não existe, porque os dois podem ir à Copa-, é entender até que ponto Dunga corre risco ao apostar em jogadores que não estão bem nos clubes. Felipe Melo, Doni e o próprio Júlio Baptista são exemplos. "Perdi a posição porque me machuquei e, quando voltei, o novo técnico tinha a equipe definida. Mas estou jogando mais vezes, e isso me ajuda", diz o meia da Roma, que ontem entrou no intervalo e marcou.
O Brasil tem Felipe Melo, Doni, Júlio Baptista, Robinho e Nilmar, que não brilham em seus clubes, mas formam um bom time quando se vestem de amarelo. A Argentina possui Messi, Higuaín, Verón, Tevez e Mascherano brilhando em seus torneios nacionais, mas Maradona não consegue montar uma equipe.
Você já sabe que, na seleção, Júlio Baptista decide mais do que Ronaldinho. A Copa dirá se um grande time decide mais do que Messi.

pvc@uol.com.br


Texto Anterior: Estadual do Rio: Vasco elimina Flu está na final do primeiro turno
Próximo Texto: Palmeiras reage, mas não ganha
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.