São Paulo, sexta-feira, 14 de março de 2008

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roubada

Polícia retira 22 meninos de casas de empresário

Atletas disseram viver em más condições em alojamentos de Belo Horizonte

Silvio Luiz Araújo, que recebia até R$ 1.500 para agendar testes em clubes, é preso sob suspeita de maus-tratos e estelionato


PABLO SOLANO
DA AGÊNCIA FOLHA

PAULO PEIXOTO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

Um grupo de 22 jogadores amadores (sendo uma criança, 19 adolescentes e dois jovens de 18 anos) foi retirado anteontem de duas casas em Belo Horizonte. Eles foram agenciados para testes em equipes de futebol e, em depoimento, alguns declararam viver sob más condições de alojamento e com alimentação de baixa qualidade.
A ação foi realizada pelo Conselho Tutelar da Pampulha. O órgão constatou que as famílias dos garotos pagavam até R$ 1.500 para que eles tivessem a oportunidade de passar por testes em clubes, o que, para vários deles, não aconteceu.
De acordo com a Polícia Civil, Silvio Luiz Araújo, que está preso sob suspeita de estelionato e maus-tratos, é o responsável pelos alojamentos. Ele não aparece no site da Fifa como agente credenciado.
"Eles estão chateados porque ainda não passaram por testes. Para eles, o senhor Silvio era uma pessoa que os estava ajudando", afirmou a conselheira Hedmê Márcia de Abreu.
A relação de Silvio Araújo com os adolescentes de Bahia, Distrito Federal, Goiás e Minas Gerais começou em janeiro, quando vários times amadores do país se encontraram na cidade mineira de Porteirinha, no norte de Minas, para um torneio. Ele atuou como olheiro e fez a proposta para os garotos.
A reportagem não teve acesso ao empresário.
Segundo relato dos meninos, em 1º de março um ônibus lotado de adolescentes foi para São Paulo. Eram 61 pessoas para um número insuficiente de assentos. Foram dois dias dormindo em uma casa pequena em Santos e três no ônibus.
Na ocasião, fizeram testes no Paulista de Jundiaí, no Santos e na Ponte Preta.
O Conselho Tutelar chegou às duas casas mantidas por Araújo após um garoto ter sido expulso de uma delas e um pai ter ido até uma das casas buscar o filho de volta, inconformado com as condições em que os adolescentes estavam.
Depois que o empresário colocou para fora da casa o menino, anteontem, sem lhe devolver o dinheiro que cobrava, o adolescente de 17 anos ligou para a Polícia Militar.
O pai de outro garoto, de 14 anos, que presenciou as más condições dos jovens atletas, também procurou ajuda.
Para o procurador do Trabalho Genderson Lisboa, os clubes mineiros estimulam o aliciamento para testes ao não estabelecer regras para o recebimento de adolescentes.
O procurador é responsável por investigação do Ministério Público do Trabalho sobre a situação das crianças e adolescentes que jogam pelos quatro principais clubes da capital mineira: Cruzeiro, Atlético, América e Vila Nova.
O procedimento é repetido pelo Ministério do Trabalho na maioria dos Estados do país, numa ação coordenada.
O procurador afirmou que em um clube de grande porte como o Cruzeiro passam por peneiras anualmente 4.000 crianças e adolescentes.
A investigação, de acordo com Lisboa, tem como objetivo obrigar os clubes a cumprir a Lei Pelé. Na interpretação dele, a lei proíbe o esporte de alto rendimento para menores de 14 anos e exige bolsa-aprendizagem para adolescentes.
Reportagem da Folha no final do ano passado revelou que o Ministério Público do Trabalho desencadeou investigações pelo país para desvendar a rotina nada glamourosa dos aspirantes a craques após denúncias similares a essa.


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