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roubada
Polícia retira 22 meninos de casas de empresário
Atletas disseram viver em más condições em alojamentos de Belo Horizonte
Silvio Luiz Araújo, que recebia até R$ 1.500 para agendar testes em clubes,
é preso sob suspeita de
maus-tratos e estelionato
PABLO SOLANO
DA AGÊNCIA FOLHA
PAULO PEIXOTO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE
Um grupo de 22 jogadores
amadores (sendo uma criança,
19 adolescentes e dois jovens de
18 anos) foi retirado anteontem
de duas casas em Belo Horizonte. Eles foram agenciados para
testes em equipes de futebol e,
em depoimento, alguns declararam viver sob más condições
de alojamento e com alimentação de baixa qualidade.
A ação foi realizada pelo Conselho Tutelar da Pampulha. O
órgão constatou que as famílias
dos garotos pagavam até R$
1.500 para que eles tivessem a
oportunidade de passar por
testes em clubes, o que, para vários deles, não aconteceu.
De acordo com a Polícia Civil,
Silvio Luiz Araújo, que está
preso sob suspeita de estelionato e maus-tratos, é o responsável pelos alojamentos. Ele não
aparece no site da Fifa como
agente credenciado.
"Eles estão chateados porque
ainda não passaram por testes.
Para eles, o senhor Silvio era
uma pessoa que os estava ajudando", afirmou a conselheira
Hedmê Márcia de Abreu.
A relação de Silvio Araújo
com os adolescentes de Bahia,
Distrito Federal, Goiás e Minas
Gerais começou em janeiro,
quando vários times amadores
do país se encontraram na cidade mineira de Porteirinha, no
norte de Minas, para um torneio. Ele atuou como olheiro e
fez a proposta para os garotos.
A reportagem não teve acesso ao empresário.
Segundo relato dos meninos,
em 1º de março um ônibus lotado de adolescentes foi para São
Paulo. Eram 61 pessoas para
um número insuficiente de assentos. Foram dois dias dormindo em uma casa pequena
em Santos e três no ônibus.
Na ocasião, fizeram testes no
Paulista de Jundiaí, no Santos e
na Ponte Preta.
O Conselho Tutelar chegou
às duas casas mantidas por
Araújo após um garoto ter sido
expulso de uma delas e um pai
ter ido até uma das casas buscar
o filho de volta, inconformado
com as condições em que os
adolescentes estavam.
Depois que o empresário colocou para fora da casa o menino, anteontem, sem lhe devolver o dinheiro que cobrava, o
adolescente de 17 anos ligou para a Polícia Militar.
O pai de outro garoto, de 14
anos, que presenciou as más
condições dos jovens atletas,
também procurou ajuda.
Para o procurador do Trabalho Genderson Lisboa, os clubes mineiros estimulam o aliciamento para testes ao não estabelecer regras para o recebimento de adolescentes.
O procurador é responsável
por investigação do Ministério
Público do Trabalho sobre a situação das crianças e adolescentes que jogam pelos quatro
principais clubes da capital mineira: Cruzeiro, Atlético, América e Vila Nova.
O procedimento é repetido
pelo Ministério do Trabalho na
maioria dos Estados do país,
numa ação coordenada.
O procurador afirmou que
em um clube de grande porte
como o Cruzeiro passam por
peneiras anualmente 4.000
crianças e adolescentes.
A investigação, de acordo
com Lisboa, tem como objetivo
obrigar os clubes a cumprir a
Lei Pelé. Na interpretação dele,
a lei proíbe o esporte de alto
rendimento para menores de
14 anos e exige bolsa-aprendizagem para adolescentes.
Reportagem da Folha no final do ano passado revelou que
o Ministério Público do Trabalho desencadeou investigações
pelo país para desvendar a rotina nada glamourosa dos aspirantes a craques após denúncias similares a essa.
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