DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

Um dos garotos que entregaram a Silvio Araújo, mediante pagamento, a esperança de se tornar jogador de um clube profissional disse que o empresário lhe propôs "mudar a idade" para que pudesse ter uma chance maior de ser contratado para jogar em uma categoria inferior à que se enquadrava, a juvenil.
No jargão do futebol, os meninos que se submetem à redução da idade são chamados "gatos". O adolescente de 16 anos disse ter recebido a oferta de Araújo, mas recusado prontamente.
Essa foi uma das histórias que a Folha ouviu ao conversar com oito adolescentes e dois jogadores amadores com mais de 18 anos levados ao ginásio Mineirinho, após serem retirados da casa do empresário. As histórias convergem para um só sentimento: decepção.
Um grupo de garotos disse que eles eram "bem tratados". Dormiam em camas e faziam três refeições diárias. Fizeram os testes nos clubes de SP (Paulista, Santos e Ponte Preta), como prometido, e aguardavam testes nos clubes de BH (Cruzeiro, Atlético-MG e América).
"Não era mil maravilhas, era um barraco de fundo [onde vivia]. Mas não estava ruim, a comida era muito boa", disse um deles, zagueiro da cidade de Valparaíso de Goiás, filho de um policial militar que chegou ontem à capital mineira para levar o filho de volta, sem querer falar sobre o episódio.
"Eu não vou falar porque não sei o que aconteceu. O que o meu filho me dizia era uma coisa, chego aqui e a história é outra. Então tenho dúvida", disse o pai.
O outro grupo disse que a qualidade da comida era ruim e que o local em que dormiam era muito apertado. Por mais que a "tia", como chamavam a cozinheira das duas casas em que viviam, fosse boa pessoa, não tinha jeito de o feijão ficar bom.
O meia-esquerda de 14 anos, também de Valparaíso de Goiás, cujo pai acionou o Conselho Tutelar, reclamou das condições da casa, do ônibus lotado com 61 pessoas para os testes em São Paulo e da falta de testes para a categoria infantil -a que ele se enquadra.
"Acho que a gente foi enganado pelo Silvio. A casa era apertada. Era muita gente para pouco espaço. Ele falou que tínhamos 80% de chance de conseguir um clube. Agora queremos nosso dinheiro", disse o volante e lateral de Riacho Fundo (DF), um dos únicos maiores de 18 anos no grupo.
Alguns adolescentes disseram que estavam matriculados em escolas, embora não freqüentassem as aulas; outros, nem isso.0 (PP)


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