São Paulo, sábado, 14 de março de 2009

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Foco

"Panza", 75, ainda dobra os mantos palmeirenses antes do apito inicial

DA REPORTAGEM LOCAL

A camisa que o atacante Keirrison poderá exibir para seus fãs nas arquibancadas hoje, caso marque gols diante do Barueri, passou antes pelas mãos de José Panzarini, 75. No clube, tem sido assim desde os tempos de Mirandinha, Edmundo, Evair, Viola e, mais recentemente, Alex Mineiro.
Roupeiro do Palmeiras desde 1981, o senhor corcunda que circula pelo CT do clube de segunda a sábado já perdeu até a mulher por conta da dedicação exigida pela rotina ingrata do futebol.
"O trabalho sempre me deixou mais preso ao serviço do que à minha casa", diz o aposentado funcionário, separado de Francisca "há 30 anos", segundo o próprio contou.
Panza, como é chamado por todos no Palmeiras, não vai mais para o campo. Hoje, quando o líder do Estadual estiver disputando seu 13º jogo no campeonato, ele provavelmente estará sentado com os amigos do Butantã em alguma praça, jogando dominó.
Mais jovens, João, 37, o Joãozinho, e Nilson, 43, são os responsáveis por acompanhar a equipe palmeirense in loco, quando precisam dar piques durante as partidas, o que o colega de trabalho já não tem mais condições de fazer.
Enquanto isso, o goleiro Bruno defenderá a invencibilidade palmeirense na competição com a camisa 45 dobrada pelo velho amigo de clube.
"Quando cheguei aqui, em 1997, ele já era velhinho e corcunda, com o cabelinho branco. O Marcos brinca que o Panza já estava assim quando ele chegou também", afirma o atual titular da meta, enquanto Marcos, 17 anos de Palmeiras, ainda se recupera de uma lesão na coxa direita.
No rachão disputado ontem pela manhã, Panza caminhava lentamente pela lateral do campo com um saco de bolas nas costas, sem se importar em ser atingido por alguma.
"Cuidado com a bola aí, seu Panza", grita Bruno, enquanto o roupeiro passa pelo meio do gol. "Vou tomar bolada se ficar lá fora. Aqui dentro os caras não acertam uma", devolve, em tom gozador, o ex-garçom, profissão que exerceu por cerca de 19 anos.
"É mais difícil ser roupeiro. Ontem [quinta-feira], entrei no CT para trabalhar às 6h e só fui sair às 20h."
Além de preparar as roupas que os atletas vão utilizar hoje, contra o sétimo colocado do Paulista, Panza também limpa as chuteiras de todos, enche as bolas e faz as medidas para verificar se estão dentro dos padrões.
"É importante ter respeito por quem vivencia o clube intensamente. No Fluminense, tinha o Ximbica, que ficou marcado na história do clube", recorda o meia Diego Souza, citando o roupeiro do time carioca que morreu em 2002 aos 55 anos, 36 deles dedicados ao clube.
Panza já até pensou em parar de trabalhar e ir para o interior, esquecer o futebol. Dois pedidos, um de um diretor e outro de um médico, o fizeram mudar de ideia.
"O médico me aconselhou e disse que, se eu parasse, seria pior. Poderia me acomodar e ter um infarto", diz o pai de dois filhos e avô de três netos, que trabalhou como roupeiro do arquirrival São Paulo de 1972 a 1981. (RC)


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