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Foco
"Panza", 75, ainda dobra os mantos palmeirenses antes do apito inicial
DA REPORTAGEM LOCAL
A camisa que o atacante
Keirrison poderá exibir para
seus fãs nas arquibancadas
hoje, caso marque gols diante
do Barueri, passou antes pelas
mãos de José Panzarini, 75.
No clube, tem sido assim desde os tempos de Mirandinha,
Edmundo, Evair, Viola e, mais
recentemente, Alex Mineiro.
Roupeiro do Palmeiras desde 1981, o senhor corcunda
que circula pelo CT do clube
de segunda a sábado já perdeu
até a mulher por conta da dedicação exigida pela rotina ingrata do futebol.
"O trabalho sempre me deixou mais preso ao serviço do
que à minha casa", diz o aposentado funcionário, separado de Francisca "há 30 anos",
segundo o próprio contou.
Panza, como é chamado por
todos no Palmeiras, não vai
mais para o campo. Hoje,
quando o líder do Estadual estiver disputando seu 13º jogo
no campeonato, ele provavelmente estará sentado com os
amigos do Butantã em alguma
praça, jogando dominó.
Mais jovens, João, 37, o
Joãozinho, e Nilson, 43, são os
responsáveis por acompanhar
a equipe palmeirense in loco,
quando precisam dar piques
durante as partidas, o que o
colega de trabalho já não tem
mais condições de fazer.
Enquanto isso, o goleiro
Bruno defenderá a invencibilidade palmeirense na competição com a camisa 45 dobrada pelo velho amigo de clube.
"Quando cheguei aqui, em
1997, ele já era velhinho e corcunda, com o cabelinho branco. O Marcos brinca que o
Panza já estava assim quando
ele chegou também", afirma o
atual titular da meta, enquanto Marcos, 17 anos de Palmeiras, ainda se recupera de uma
lesão na coxa direita.
No rachão disputado ontem
pela manhã, Panza caminhava
lentamente pela lateral do
campo com um saco de bolas
nas costas, sem se importar
em ser atingido por alguma.
"Cuidado com a bola aí, seu
Panza", grita Bruno, enquanto o roupeiro passa pelo meio
do gol. "Vou tomar bolada se
ficar lá fora. Aqui dentro os caras não acertam uma", devolve, em tom gozador, o ex-garçom, profissão que exerceu
por cerca de 19 anos.
"É mais difícil ser roupeiro.
Ontem [quinta-feira], entrei
no CT para trabalhar às 6h e
só fui sair às 20h."
Além de preparar as roupas
que os atletas vão utilizar hoje, contra o sétimo colocado
do Paulista, Panza também
limpa as chuteiras de todos,
enche as bolas e faz as medidas para verificar se estão
dentro dos padrões.
"É importante ter respeito
por quem vivencia o clube intensamente. No Fluminense,
tinha o Ximbica, que ficou
marcado na história do clube", recorda o meia Diego
Souza, citando o roupeiro do
time carioca que morreu em
2002 aos 55 anos, 36 deles dedicados ao clube.
Panza já até pensou em parar de trabalhar e ir para o interior, esquecer o futebol.
Dois pedidos, um de um diretor e outro de um médico, o fizeram mudar de ideia.
"O médico me aconselhou e
disse que, se eu parasse, seria
pior. Poderia me acomodar e
ter um infarto", diz o pai de
dois filhos e avô de três netos,
que trabalhou como roupeiro
do arquirrival São Paulo de
1972 a 1981.
(RC)
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