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"Se perdermos, que seja atacando", diz Dorival Jr.
Técnico do Santos, que hoje enfrenta o Palmeiras, defende o estilo de seu time
Treinador revela ter dado ordem a seus atletas para que fizessem mais gols no Naviraiense, mesmo com duelo decidido no 1º tempo
LUCAS REIS
ENVIADO ESPECIAL A SANTOS
O mais atrevido dos Meninos
da Vila não é Robinho, nem
Ganso, nem Neymar. Aos 47
anos, o ex-volante e hoje técnico Dorival Jr. se diz amante do
futebol ofensivo, agressivo.
Hoje, sua filosofia de jogo será posta à prova, quando o Santos recebe o Palmeiras, às 17h,
na Vila Belmiro. Líder do campeonato, o time de Dorival enfrenta um rival em oscilação.
Nesta entrevista à Folha, o
treinador defende suas convicções, elogia Dunga e diz que
não pensa em dirigir a seleção.
FOLHA - Atacar é uma obsessão?
DORIVAL JR. - O futebol deve ser
ofensivo, desde que seja coordenado e organizado. O problema é a falta de tempo para treinar. É como um artista, que
tem um espetáculo atrás do outro e não tem tempo de corrigir.
FOLHA - O Santos fez 6 a 0 no primeiro tempo contra o Naviraiense.
No segundo, fez mais quatro gols. O
que você falou no intervalo?
DORIVAL JR. - Falei para eles
irem para cima, jogarem como
se estivesse 0 a 0. Eu não queria
que eles parassem de fazer gols.
E eles não pararam. Foi uma
demonstração de respeito, de
que estávamos jogando sério.
FOLHA - Não teme ser criticado por
só atacar e defender pouco?
DORIVAL JR. - Se for criticado
por esse motivo, não ficaria
triste, não. Mesmo que venha
uma derrota, que nós percamos tentando, atacando. Futebol tem que ser ofensivo, tem
que ser criativo, tem que jogar
para a frente, tem que criar.
FOLHA - Por que o Santos caiu de
rendimento contra Portuguesa e
Paulista? Foi pelo calendário?
DORIVAL JR. - Muito. Pela sequência de jogos e pela falta de
treinamento. Claro que todas
as equipes fazem isso [jogar
duas vezes por semana]. E é
por isso que todas elas oscilam
dentro de um campeonato. Do
jeito que está o futebol no Brasil, não se pode abrir mão de
nenhum campeonato. Se abre
mão de um e não ganha o outro, é pior, você é aniquilado.
FOLHA - Este Santos é seu melhor
trabalho como treinador?
DORIVAL JR. - Pode vir a ser, sim.
Mas todo treinador complementa trabalhos. Alguém iniciou este trabalho, e não pode
deixar de ser reconhecido. No
caso do Santos, começou com o
[Vagner] Mancini, continuou
com o [Vanderlei] Luxemburgo, e estou chegando no terceiro momento desse trabalho.
FOLHA - Em quem se inspirou
quando virou treinador?
DORIVAL JR. - Fui tirando uma
coisa de um, outra coisa de outro, olhando, observando a postura. [Emerson] Leão, Nelsinho Batista, Muricy [Ramalho],
entre outros, me ajudaram bastante. E, principalmente, Luiz
Carlos Ferreira, com quem trabalhei e fui auxiliar.
FOLHA - Como é fazer parte de
uma nova geração de treinadores?
DORIVAL JR. - Não podemos generalizar nem criar rótulos. O
que eu vejo é que temos grandes e excepcionais treinadores
no futebol brasileiro, que fizeram um trabalho digno. São
exemplo a todos nós, que estamos aqui iniciando e que agora
temos a obrigação de tentar
manter esse trabalho ou melhorá-lo ao longo do tempo.
FOLHA - O Brasil está bem servido
de treinadores?
DORIVAL JR. - Está chegando
uma geração nova, que herdou
um legado deixado por esses
profissionais. O treinador brasileiro é o melhor do mundo.
Ele se adapta a qualquer situação, com todas as dificuldades,
e, mesmo assim, consegue fazer
grandes trabalhos.
FOLHA - Como avalia o Dunga?
DORIVAL JR. - Eu gosto do que
vejo. Sempre defendi a presença do Dunga quando muitos
questionamentos surgiram.
Tentaram culpá-lo em 90, e ele
deu a volta por cima. Era a pessoa mais preparada para ser
treinador da seleção, pois a conhecia como ninguém. É claro
que, se você perguntar se eu
queria mais esse [jogador], ou
menos esse, é natural. Um ou
outro jogador você tem uma
discordância. No todo, é um excelente trabalho.
FOLHA - Sonha treinar a seleção?
DORIVAL JR. - Sinceramente?
Não tenho a seleção como um
grande objetivo na minha vida.
Eu tinha como jogador profissional, isso eu tinha. Não consegui pela minha limitação.
Hoje não tenho essa obsessão
nem esse objetivo.
FOLHA - Por sua história no Palmeiras, enfrentá-lo é um gosto especial?
DORIVAL JR. - Não. Dos clubes
por que passei, só trago coisas
boas. Não tenho gosto especial
por jogar contra o Palmeiras.
Muito pelo contrário, porque
defendi o Palmeiras por alguns
anos, aprendi a gostar dele. Já
era um torcedor do clube antes
disso, porque meu tio [Dudu]
jogou no Palmeiras por mais de
12 anos. Sou profissional e defendo meu clube. Mas não tenho nada de diferente em relação a um jogo com o Palmeiras.
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