São Paulo, domingo, 14 de março de 2010

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"Se perdermos, que seja atacando", diz Dorival Jr.

Técnico do Santos, que hoje enfrenta o Palmeiras, defende o estilo de seu time

Treinador revela ter dado ordem a seus atletas para que fizessem mais gols no Naviraiense, mesmo com duelo decidido no 1º tempo

LUCAS REIS
ENVIADO ESPECIAL A SANTOS

O mais atrevido dos Meninos da Vila não é Robinho, nem Ganso, nem Neymar. Aos 47 anos, o ex-volante e hoje técnico Dorival Jr. se diz amante do futebol ofensivo, agressivo. Hoje, sua filosofia de jogo será posta à prova, quando o Santos recebe o Palmeiras, às 17h, na Vila Belmiro. Líder do campeonato, o time de Dorival enfrenta um rival em oscilação. Nesta entrevista à Folha, o treinador defende suas convicções, elogia Dunga e diz que não pensa em dirigir a seleção.

 


FOLHA - Atacar é uma obsessão?
DORIVAL JR. - O futebol deve ser ofensivo, desde que seja coordenado e organizado. O problema é a falta de tempo para treinar. É como um artista, que tem um espetáculo atrás do outro e não tem tempo de corrigir.

FOLHA - O Santos fez 6 a 0 no primeiro tempo contra o Naviraiense. No segundo, fez mais quatro gols. O que você falou no intervalo?
DORIVAL JR. - Falei para eles irem para cima, jogarem como se estivesse 0 a 0. Eu não queria que eles parassem de fazer gols. E eles não pararam. Foi uma demonstração de respeito, de que estávamos jogando sério.

FOLHA - Não teme ser criticado por só atacar e defender pouco?
DORIVAL JR. - Se for criticado por esse motivo, não ficaria triste, não. Mesmo que venha uma derrota, que nós percamos tentando, atacando. Futebol tem que ser ofensivo, tem que ser criativo, tem que jogar para a frente, tem que criar.

FOLHA - Por que o Santos caiu de rendimento contra Portuguesa e Paulista? Foi pelo calendário?
DORIVAL JR. - Muito. Pela sequência de jogos e pela falta de treinamento. Claro que todas as equipes fazem isso [jogar duas vezes por semana]. E é por isso que todas elas oscilam dentro de um campeonato. Do jeito que está o futebol no Brasil, não se pode abrir mão de nenhum campeonato. Se abre mão de um e não ganha o outro, é pior, você é aniquilado.

FOLHA - Este Santos é seu melhor trabalho como treinador?
DORIVAL JR. - Pode vir a ser, sim. Mas todo treinador complementa trabalhos. Alguém iniciou este trabalho, e não pode deixar de ser reconhecido. No caso do Santos, começou com o [Vagner] Mancini, continuou com o [Vanderlei] Luxemburgo, e estou chegando no terceiro momento desse trabalho.

FOLHA - Em quem se inspirou quando virou treinador?
DORIVAL JR. - Fui tirando uma coisa de um, outra coisa de outro, olhando, observando a postura. [Emerson] Leão, Nelsinho Batista, Muricy [Ramalho], entre outros, me ajudaram bastante. E, principalmente, Luiz Carlos Ferreira, com quem trabalhei e fui auxiliar.

FOLHA - Como é fazer parte de uma nova geração de treinadores?
DORIVAL JR. - Não podemos generalizar nem criar rótulos. O que eu vejo é que temos grandes e excepcionais treinadores no futebol brasileiro, que fizeram um trabalho digno. São exemplo a todos nós, que estamos aqui iniciando e que agora temos a obrigação de tentar manter esse trabalho ou melhorá-lo ao longo do tempo.

FOLHA - O Brasil está bem servido de treinadores?
DORIVAL JR. - Está chegando uma geração nova, que herdou um legado deixado por esses profissionais. O treinador brasileiro é o melhor do mundo. Ele se adapta a qualquer situação, com todas as dificuldades, e, mesmo assim, consegue fazer grandes trabalhos.

FOLHA - Como avalia o Dunga?
DORIVAL JR. - Eu gosto do que vejo. Sempre defendi a presença do Dunga quando muitos questionamentos surgiram. Tentaram culpá-lo em 90, e ele deu a volta por cima. Era a pessoa mais preparada para ser treinador da seleção, pois a conhecia como ninguém. É claro que, se você perguntar se eu queria mais esse [jogador], ou menos esse, é natural. Um ou outro jogador você tem uma discordância. No todo, é um excelente trabalho.

FOLHA - Sonha treinar a seleção?
DORIVAL JR. - Sinceramente? Não tenho a seleção como um grande objetivo na minha vida. Eu tinha como jogador profissional, isso eu tinha. Não consegui pela minha limitação. Hoje não tenho essa obsessão nem esse objetivo.

FOLHA - Por sua história no Palmeiras, enfrentá-lo é um gosto especial?
DORIVAL JR. - Não. Dos clubes por que passei, só trago coisas boas. Não tenho gosto especial por jogar contra o Palmeiras. Muito pelo contrário, porque defendi o Palmeiras por alguns anos, aprendi a gostar dele. Já era um torcedor do clube antes disso, porque meu tio [Dudu] jogou no Palmeiras por mais de 12 anos. Sou profissional e defendo meu clube. Mas não tenho nada de diferente em relação a um jogo com o Palmeiras.


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