São Paulo, domingo, 14 de março de 2010

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PAULO VINICIUS COELHO

Eu sou você amanhã


Santos atual repete eficiência ofensiva do Palmeiras de 2009 e, para evitar fracasso igual, não pode se embriagar


ALGUMAS coincidências unem o Santos de 2010 ao Palmeiras de um ano atrás. Quando chegou à 14ª rodada, a mesma que o time de Robinho alcança hoje, o Palmeiras tinha o melhor ataque do campeonato, com 30 gols, e era líder com dez vitórias. A diferença é que o Santos perdeu uma vez e a sensação do Paulistão passado chegou invicto à metade do mês de março, com um ponto a mais.
Há um ano, o Palmeiras era treinado por Vanderlei Luxemburgo, sonho de consumo do presidente santista à época, Marcelo Teixeira. Sonho tão evidente que o treinador desembarcou na Vila Belmiro assim que demitido do Parque Antarctica. Hoje, o técnico palmeirense é Antônio Carlos Zago, mas a diretoria só não contratou Dorival Júnior porque não teve chance. "Conversamos com ele em julho, no hiato entre a recusa do Muricy e sua contratação", lembra o presidente Luiz Gonzaga Belluzzo. No Vasco, Dorival Júnior explicou na época que não poderia negociar.
Em dezembro, depois do fracasso na reta de chegada do Brasileirão, o vice-presidente palmeirense, Gilberto Cipullo, votava pela demissão imediata de Muricy Ramalho. Seu nome para substituí-lo era Dorival Júnior. Mas Belluzzo decidiu manter Muricy sem conversar com Dorival Júnior, já apalavrado com a nova diretoria do Santos.
Hoje, o Santos tem 44 gols e o melhor ataque do Brasil no ano -11 gols na Copa do Brasil, 33 no Paulistão. Há um ano, o Palmeiras somava 40 gols, com duas partidas disputadas a mais, por ter participado da fase preliminar da Libertadores da América, contra o Real Potosí. A troca Potosí por Naviraiense explica os quatro gols a mais, que fazem do Santos o melhor ataque do país.
Em 2009, o Palmeiras aprendeu que não adianta ser sensação do Paulistão em seus meses iniciais. O torneio se decide mesmo em abril, e a alegria das goleadas pode ser efêmera. Em fevereiro do ano passado, o Santos caiu por 4 a 1 diante do Palmeiras. Em abril, venceu dois clássicos por 2 a 1. Dirigido por Vagner Mancini, foi à decisão do Paulista e eliminou a sensação da temporada 2009, o time de Keirrison, Diego Souza, Cleiton Xavier e Vanderlei Luxemburgo.
Dorival Júnior foi espectador do Paulistão passado, mas carrega a ideia de que o Santos só não foi campeão porque faltou trabalhar melhor a final contra o Corinthians. Pensa isso com a autoridade de quem conquistou os Estaduais em CE, SC, PE e PR, nos últimos seis anos, sem contar o vice em SP em 2007, na direção do São Caetano. Vitórias que alavancaram sua carreira, mas que tinham uma singela diferença com o momento atual do Santos: o silêncio.
É impossível trabalhar sem alarde quando se dirige uma equipe como a do Santos atual. Os dribles de Robinho e Neymar gritam, e as tabelas em direção ao gol falam por si. O Santos é candidato a tudo o que disputar. Mas como candidato não é sinônimo de campeão... Nos anos 80, uma propaganda de vodca apresentava um homem que se olhava no espelho e via a imagem de si próprio no dia seguinte avisando: "Eu sou você amanhã". Para não ser o Palmeiras de amanhã, o Santos só não pode se embriagar.

pvc@uol.com.br


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