São Paulo, sábado, 14 de maio de 2005

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MOTOR

Tapa com luva de piloto

FÁBIO SEIXAS
DA REPORTAGEM LOCAL

Danica gosta de patinar, assiste a "Sex and the City" , é fã de Alanis Morissette, torra parte de seu dinheiro com grifes moderninhas como BCBG e Arden B e hoje pode fazer história.
Aos 23 anos, tem tudo para dar um tapa na cara de muita gente. É favorita a conquistar a pole das 500 Milhas de Indianápolis, que compõe com Mônaco e Le Mans o "Grand Slam" do automobilismo.
Em outra analogia, é mais ou menos como se a Fifa permitisse times mistos em campo e Marta ou Cristiane resolvessem um jogo decisivo das eliminatórias contra a Argentina. (Pensando bem, elas jogam muito pra frente, e talvez Parreira preferisse o Zé Roberto.) Mas voltemos às pistas de corrida.
Quando Danica Patrick foi anunciada pela Rahal para correr na IRL, esta coluna lembrou que, sim, ela é muito bonita. Cabelos negros, olhos castanhos, sorriso que faz a festa dos fotógrafos. Mas ressaltou: ela conquistou essa vaga no braço. E que braço.
Em sua primeira experiência no kart, aos 10 anos, a menina sofreu. Terminou a prova, em sua Phoenix, seis voltas atrás do vencedor. Mas não se intimidou. Continuou treinando, ralando e, quatro anos depois, já era uma pequena estrela: em 1996, ganhou 39 das 49 corridas que disputou.
Foi então para a Europa. Tentou alguma coisa na Inglaterra, correu de F-Ford, F-Vauxhall, mas voltou aos EUA em 2002 com a nítida sensação de que o velho continente ainda não está preparado para mulheres de capacete.
Em 2003, foi sexta na F-Atlantic. Em 2004, terceira, sendo a única a completar todas as voltas do campeonato e marcando a primeira pole de uma mulher na categoria, uma das escolas da IRL.
Mas o auge da carreira veio nesta semana. Danica foi a mais rápida nos dois dias do "cursinho" para os estreantes, batendo sujeitos que ainda estão na mira da F-1, como Bourdais e Briscoe.
Na terça, já com todo mundo na pista, foi a 12ª. Terminou a quarta em segundo lugar. E na quinta foi a mais rápida, marcando o melhor tempo do mês, a uma média de, tente imaginar, 366 km/h.
Acontece que hoje é o Pole Day. E, pelo que se viu nos últimos dias, apenas Kanaan e Wheldon têm chances de barrar a primeira pole de uma mulher no superoval.
Não, um eventual primeiro lugar no grid não vai promovê-la a pop star ou jogá-la para a F-1. Mas já será uma bofetada naqueles que proclamam que automobilismo é "esporte para homem".
Será o tapa mais forte. Outros já foram desferidos por heroínas como Sarah Fisher, Lella Lombardi, Maria Teresa de Filippis, Michele Mouton, Fabrizia Pons e por "nossas" Juzy Fittipaldi, Débora Rodrigues e Bia Figueiredo.
De golpe em golpe, um dia elas chegam lá. Como já chegaram a tantos lugares, por merecimento.
Qual é o argumento por trás do preconceito? Não vejo nenhum. No passado, talvez, os carros exigissem força demais das madames. Mas hoje as máquinas são outras, e as madames sumiram de vista. Num braço de ferro entre Danica e, digamos, Heidfeld, colocaria meu dinheiro nela. Numa disputa de freada, também.
Que não demore a acontecer.

A caminho
Outro que luta contra o preconceito, Lewis Hamilton venceu a F-3 européia com folga. Apoiado pela McLaren, deve se tornar, em dois ou três anos, o primeiro piloto negro a correr de F-1.

Pressão
Depois do humilhante pedido de perdão da BAR, a bola da vez é a Toyota, que pode perder os pontos dos quatro primeiros GPs por um problema na papelada. Enquanto o novo Pacto de Concórdia não for assinado por todo mundo, essa chatice vai continuar.

Derrapada
De Castro Neves, em Indianápolis: "A gente tentou uma coisa maluca no carro e depois a gente viu que a coisa maluca era muito doida."


E-mail: fseixas@folhasp.com.br

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