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MOTOR
Tapa com luva de piloto
FÁBIO SEIXAS
DA REPORTAGEM LOCAL
Danica gosta de patinar, assiste a "Sex and the City" , é
fã de Alanis Morissette, torra parte de seu dinheiro com grifes moderninhas como BCBG e Arden B
e hoje pode fazer história.
Aos 23 anos, tem tudo para dar
um tapa na cara de muita gente.
É favorita a conquistar a pole das
500 Milhas de Indianápolis, que
compõe com Mônaco e Le Mans o
"Grand Slam" do automobilismo.
Em outra analogia, é mais ou
menos como se a Fifa permitisse
times mistos em campo e Marta
ou Cristiane resolvessem um jogo
decisivo das eliminatórias contra
a Argentina. (Pensando bem, elas
jogam muito pra frente, e talvez
Parreira preferisse o Zé Roberto.)
Mas voltemos às pistas de corrida.
Quando Danica Patrick foi
anunciada pela Rahal para correr na IRL, esta coluna lembrou
que, sim, ela é muito bonita. Cabelos negros, olhos castanhos, sorriso que faz a festa dos fotógrafos.
Mas ressaltou: ela conquistou essa vaga no braço. E que braço.
Em sua primeira experiência no
kart, aos 10 anos, a menina sofreu. Terminou a prova, em sua
Phoenix, seis voltas atrás do vencedor. Mas não se intimidou.
Continuou treinando, ralando e,
quatro anos depois, já era uma
pequena estrela: em 1996, ganhou
39 das 49 corridas que disputou.
Foi então para a Europa. Tentou alguma coisa na Inglaterra,
correu de F-Ford, F-Vauxhall,
mas voltou aos EUA em 2002 com
a nítida sensação de que o velho
continente ainda não está preparado para mulheres de capacete.
Em 2003, foi sexta na F-Atlantic. Em 2004, terceira, sendo a
única a completar todas as voltas
do campeonato e marcando a primeira pole de uma mulher na categoria, uma das escolas da IRL.
Mas o auge da carreira veio nesta semana. Danica foi a mais rápida nos dois dias do "cursinho"
para os estreantes, batendo sujeitos que ainda estão na mira da F-1, como Bourdais e Briscoe.
Na terça, já com todo mundo na
pista, foi a 12ª. Terminou a quarta em segundo lugar. E na quinta
foi a mais rápida, marcando o
melhor tempo do mês, a uma média de, tente imaginar, 366 km/h.
Acontece que hoje é o Pole Day.
E, pelo que se viu nos últimos
dias, apenas Kanaan e Wheldon
têm chances de barrar a primeira
pole de uma mulher no superoval.
Não, um eventual primeiro lugar no grid não vai promovê-la a
pop star ou jogá-la para a F-1.
Mas já será uma bofetada naqueles que proclamam que automobilismo é "esporte para homem".
Será o tapa mais forte. Outros já
foram desferidos por heroínas como Sarah Fisher, Lella Lombardi,
Maria Teresa de Filippis, Michele
Mouton, Fabrizia Pons e por
"nossas" Juzy Fittipaldi, Débora
Rodrigues e Bia Figueiredo.
De golpe em golpe, um dia elas
chegam lá. Como já chegaram a
tantos lugares, por merecimento.
Qual é o argumento por trás do
preconceito? Não vejo nenhum.
No passado, talvez, os carros exigissem força demais das madames. Mas hoje as máquinas são
outras, e as madames sumiram
de vista. Num braço de ferro entre
Danica e, digamos, Heidfeld, colocaria meu dinheiro nela. Numa
disputa de freada, também.
Que não demore a acontecer.
A caminho
Outro que luta contra o preconceito, Lewis Hamilton venceu a F-3
européia com folga. Apoiado pela McLaren, deve se tornar, em dois
ou três anos, o primeiro piloto negro a correr de F-1.
Pressão
Depois do humilhante pedido de perdão da BAR, a bola da vez é a
Toyota, que pode perder os pontos dos quatro primeiros GPs por um
problema na papelada. Enquanto o novo Pacto de Concórdia não for
assinado por todo mundo, essa chatice vai continuar.
Derrapada
De Castro Neves, em Indianápolis: "A gente tentou uma coisa maluca no carro e depois a gente viu que a coisa maluca era muito doida."
E-mail: fseixas@folhasp.com.br
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