São Paulo, quinta-feira, 14 de maio de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

China importa mão de obra, mas basquete "piora"

Liga local abre mercado, traz 34 ex-jogadores da NBA com salários compensadores e gera polêmica entre especialistas

Para alguns, forasteiros que atuam no campeonato são individualistas, o que não contribui para aprimorar o nível dos jogadores do país


RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM

A China importou 34 atletas de basquete da NBA para tentar tirar da modorra a liga do país. Neste ano, cada time pode até ter dois estrangeiros em quadra. O problema é que os forasteiros se saíram muito bem.
"Agora são quatro americanos jogando e encestando, e os chineses ficam assistindo, sem fazer nada", reclama Yang Yi, 33, o mais famoso comentarista de basquete da CCTV, a rede estatal que transmite os jogos.
"Alguns são um câncer, não jogam em equipe e não elevam o nível dos chineses. Se exibem e vão embora", completa.
Desde 1996, clubes chineses importam jogadores. A partir de 2005, começaram a vir treinadores. "A ideia era aprimorar a técnica da China em contato com os melhores do mundo. O problema é que na NBA vale ser fominha e agressivo. Os chineses trabalham em equipe."
Dos 18 times da liga, 17 se reforçaram com estrangeiros. O único que não capitulou foi o Bayi Rockets, o time do Exército de Libertação do Povo, que só tem militares em seu elenco.
Após vencer oito Nacionais nos últimos 13 anos, o 100% chinês Bayi só ocupa posições intermediárias na atual temporada, que termina neste mês.
Por vários anos o pior time da liga, o Shanxi disputa as primeiras posições graças ao talentoso grupo de forasteiros. Ex-jogadores da NBA, como William Parker e Bonzi Wells, fazem mais de 40 pontos por duelo.
"A China tem importado jogadores classe C e D dos EUA, mas eles são muito melhores do que os nossos", admite Yang.
A temporada chinesa é bom negócio para os americanos sem contrato na NBA. Eles ganham até US$ 100 mil ao mês -o torneio dura uns seis meses.
Todos os gastos -viagens, hospedagem, alimentação, benefícios para a família- são pagos pelos clubes. Os locais ganham, em média, um quinto do salário dos estrangeiros.
Até Yao Ming, astro chinês da NBA, já criticou a falta de agressividade e de corpo a corpo de seus conterrâneos.
Em 1996, o capitão da Lituânia, Stombergas, jogou no Shanghai Sharks, mas abandonou a liga após o primeiro ano, dizendo que "era fácil demais".
O esporte das cestas atrai multidões. Alguns dos jogos da NBA comentados por Yang Yi, como LA Lakers x Houston, que decidem vaga na final da Conferência Oeste, têm até 400 milhões de espectadores.
Em média, os jogos de basquete da NBA têm o dobro dos espectadores do campeonato de futebol inglês na CCTV.
Yang conta que, mesmo que vários times sejam privados, a liga é do governo, dirigida pelo Ministério dos Esportes.
"Os times e a liga têm responsabilidade de formar quadros para nossa seleção. Mas, neste ano, os mais jovens mal tiveram oportunidade de brilhar."
A polêmica é alimentada pelo despeito dos jogadores e pelos nacionalistas comentaristas. O público, porém, aprovou a mudança. A audiência média pulou de 5 milhões para 15 milhões nesta temporada.
"Os americanos são performáticos. Para a audiência e os patrocinadores, vale ter os estrangeiros. Mas, a longo prazo, não sei o que o basquete chinês ganha com isso", critica Yang.


Texto Anterior: Mundial: Atlante é campeão e tem vaga no torneio
Próximo Texto: Vôlei: Com Giovane, Sesi banca time fechado em SC
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.