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Custo, greve e até tribo desenham Mundial
Torneio terá arena com ar futurista e também campo centenário "maquiado'
África do Sul sofre com desvalorização da moeda frente ao dólar, mas deve cumprir cronograma de obras prometido à Fifa
FÁBIO ZANINI
ENVIADO ESPECIAL À ÁFRICA DO SUL
Apenas 70 km separam os estádios Soccer City, na entrada
do bairro do Soweto, em Johannesburgo, do Loftus Versfeld, no centro de Pretória, a capital da África do Sul.
Mas, em Soweto, as obras
aceleradas na fachada dão uma
ideia do ar futurista que fará do
estádio o maior e mais badalado de todo o continente africano, além de palco da abertura e
da decisão da Copa do Mundo
do ano que vem. Já o Loftus,
que completará 104 anos em
2010, viu bem menos operários: teve direito apenas a uma
rápida maquiagem.
Na tentativa de cortar custos
e respeitar os prazos prometidos à Fifa, os organizadores optaram por um mix do ultramoderno, característico das últimas duas Copas do Mundo,
com o arcaico. Foram aproveitados palcos tradicionais que
são um universo à parte em termos de sofisticação.
O número de estádios caiu,
de 12 na Alemanha-2006 para
10 na África do Sul-2010. Destes, cinco são novos, quatro receberam apenas retoques e um
(o Soccer City) teve direito a
uma reforma completa.
"Houve uma decisão de rebaixar custos e de não criar megaestádios para 100 mil pessoas
que depois, passada a competição, ficariam vazios. A estratégia mudou", diz Paul Singh, diretor do Departamento de Estudos em Esportes da Universidade de Johannesburgo.
O orçamento para os estádios
foi inicialmente estimado em
US$ 650 milhões, mas esse valor deve estourar em pelo menos US$ 300 milhões.
Parte da culpa, segundo os
organizadores, está na desvalorização do rand, a moeda local,
frente ao dólar, que encareceu
o custo de materiais importados. Ainda assim, será consideravelmente menos do que foi
gasto nos estádios na Alemanha (um total estimado, na
época, em US$ 1,4 bilhão).
O progresso nas obras em estádios costuma ser citado de
maneira orgulhosa pelo comitê
organizador, especialmente se
comparado aos problemas nos
planos para amenizar a deficiência em infraestrutura.
Todos os estádios devem ficar prontos até o final do ano,
de acordo com a atual previsão,
e depois de uma série de percalços. A primeira arena a ser finalizada, na cidade de Port Elizabeth, tem previsão de inauguração para este mês.
Dois dos novos estádios ainda levam alguma preocupação
ao comitê organizador: o Green
Point, da Cidade do Cabo, onde
será jogada uma das semifinais,
e o Mbombela, em Nelspruit
(cerca de 400 km a leste de Johannesburgo), que sediará jogos da primeira fase.
O Green Point, com capacidade para 70 mil espectadores,
enfrentou greves e a morte de
um operário num acidente de
trabalho, além de rajadas de
vento e chuva torrencial que
atrasaram sua construção.
Chegou-se a cogitar eliminá-lo
da competição, mas agora ele
está dentro do cronograma.
Já o Mbombela, além dos
mesmos problemas do Green
Point, enfrentou um especialmente delicado na África do
Sul: a ocupação de terras ancestrais de tribos, problema que
atravanca outras obras no país.
A construção do estádio para
45 mil pessoas ficou atrasada
em razão de uma disputa por
compensação à tribo matsafeni, que reivindicava propriedade sobre a terra na qual a obra
foi feita. O caso acabou sendo
resolvido pela Justiça, que, em
nome do cronograma e da Copa
do Mundo, autorizou a continuidade do projeto.
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