São Paulo, quinta-feira, 14 de maio de 2009

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Custo, greve e até tribo desenham Mundial

Torneio terá arena com ar futurista e também campo centenário "maquiado'

África do Sul sofre com desvalorização da moeda frente ao dólar, mas deve cumprir cronograma de obras prometido à Fifa


FÁBIO ZANINI
ENVIADO ESPECIAL À ÁFRICA DO SUL

Apenas 70 km separam os estádios Soccer City, na entrada do bairro do Soweto, em Johannesburgo, do Loftus Versfeld, no centro de Pretória, a capital da África do Sul.
Mas, em Soweto, as obras aceleradas na fachada dão uma ideia do ar futurista que fará do estádio o maior e mais badalado de todo o continente africano, além de palco da abertura e da decisão da Copa do Mundo do ano que vem. Já o Loftus, que completará 104 anos em 2010, viu bem menos operários: teve direito apenas a uma rápida maquiagem.
Na tentativa de cortar custos e respeitar os prazos prometidos à Fifa, os organizadores optaram por um mix do ultramoderno, característico das últimas duas Copas do Mundo, com o arcaico. Foram aproveitados palcos tradicionais que são um universo à parte em termos de sofisticação.
O número de estádios caiu, de 12 na Alemanha-2006 para 10 na África do Sul-2010. Destes, cinco são novos, quatro receberam apenas retoques e um (o Soccer City) teve direito a uma reforma completa.
"Houve uma decisão de rebaixar custos e de não criar megaestádios para 100 mil pessoas que depois, passada a competição, ficariam vazios. A estratégia mudou", diz Paul Singh, diretor do Departamento de Estudos em Esportes da Universidade de Johannesburgo.
O orçamento para os estádios foi inicialmente estimado em US$ 650 milhões, mas esse valor deve estourar em pelo menos US$ 300 milhões.
Parte da culpa, segundo os organizadores, está na desvalorização do rand, a moeda local, frente ao dólar, que encareceu o custo de materiais importados. Ainda assim, será consideravelmente menos do que foi gasto nos estádios na Alemanha (um total estimado, na época, em US$ 1,4 bilhão).
O progresso nas obras em estádios costuma ser citado de maneira orgulhosa pelo comitê organizador, especialmente se comparado aos problemas nos planos para amenizar a deficiência em infraestrutura.
Todos os estádios devem ficar prontos até o final do ano, de acordo com a atual previsão, e depois de uma série de percalços. A primeira arena a ser finalizada, na cidade de Port Elizabeth, tem previsão de inauguração para este mês.
Dois dos novos estádios ainda levam alguma preocupação ao comitê organizador: o Green Point, da Cidade do Cabo, onde será jogada uma das semifinais, e o Mbombela, em Nelspruit (cerca de 400 km a leste de Johannesburgo), que sediará jogos da primeira fase.
O Green Point, com capacidade para 70 mil espectadores, enfrentou greves e a morte de um operário num acidente de trabalho, além de rajadas de vento e chuva torrencial que atrasaram sua construção. Chegou-se a cogitar eliminá-lo da competição, mas agora ele está dentro do cronograma.
Já o Mbombela, além dos mesmos problemas do Green Point, enfrentou um especialmente delicado na África do Sul: a ocupação de terras ancestrais de tribos, problema que atravanca outras obras no país.
A construção do estádio para 45 mil pessoas ficou atrasada em razão de uma disputa por compensação à tribo matsafeni, que reivindicava propriedade sobre a terra na qual a obra foi feita. O caso acabou sendo resolvido pela Justiça, que, em nome do cronograma e da Copa do Mundo, autorizou a continuidade do projeto.


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