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Seleção usa receita da Copa e bate de longe
No Mundial, 25% dos gols saíram de chutes de fora da área, como o de Kaká
Vitórias de ontem foram construídas com tiros de longa distância, propensão
deste torneio, que ostenta piora nas conclusões certas
LUÍS FERRARI
DA REPORTAGEM LOCAL
Fazia tempo que chutar de
longe não funcionava tão bem.
Sorte do Brasil que Kaká ilustrou isso ontem. Na Copa da
Alemanha, uma tendência que
vinha desde 1994 -o encolhimento da fatia dos gols de longa
distância- foi abandonada na
rodada inicial, que hoje tem seu
encerramento. Nada menos
que um quarto dos 31 gols marcados até agora surgiram de
chutes de fora da área.
As duas partidas de ontem
que tiveram vencedores viveram a situação. Tanto o triunfo
brasileiro sobre a Croácia pelo
placar mínimo quanto a virada
sul-coreana sobre a seleção do
Togo (por 2 a 1) foram definidas
com chutes de longa distância.
E isso acontece justamente
no ano em que o Mundial vê
uma queda no aproveitamento
das conclusões. Até ontem, de
acordo com o Datafolha, menos
de um terço das finalizações foram precisas, 124 de 381 (ou
32,5%). Na Copa anterior, a
marca foi 36,2%, bem próxima
dos 36,6% de 1998 e inferior aos
37,8% do Mundial dos EUA.
A estréia da equipe de Carlos
Alberto Parreira diante da
Croácia aponta que o Brasil seguiu a propensão desta Copa,
deixando de lado a tradição de
anotar pouco de longe. Nas últimas duas Copas, a equipe foi à
final marcando só três vezes de
fora da área em cada uma.
Além da bem sucedida tentativa de Kaká, a seleção arriscou
outros 12 arremates de longa
distância (ou 86,7% do total de
finalizações), contra inexpressivas duas conclusões de dentro da área -um cabeceio de
Ronaldinho e um chute de
Adriano, no segundo tempo.
Com menos chutes precisos
e com mais gols saindo de longa
distância em 2006, muitos atletas -principalmente goleiros-
apontam a bola como responsável pela situação atual.
Um deles, o norte-americano
Kasey Keller, único veterano
da Copa de 1990 e que também
integrou sua seleção em 1998 e
2002, antes mesmo de estrear
já desconfiava da bola.
Quando entrou em campo,
sofreu um tento de fora da área
em chute de Rosicky, na derrota por 3 a 0 para a República
Tcheca, anteontem.
O inglês Paul Robinson -cuja seleção venceu o Paraguai
por 1 a 0, com gol contra do zagueiro Gamarra, que tentou
afastar a bola da área após cobrança de falta de Beckham-
foi outro que esbravejou antes
de jogar. "A bola não é boa para
os goleiros. Não há costuras, ela
é toda colada e, na realidade, se
parece mais com uma bola de
pólo aquático ou de vôlei."
Até mesmo o titular da meta
alemã, Jens Lehmann, cuja seleção é patrocinada pela Adidas, parceira da Fifa e fornecedora oficial do torneio, reclamou. Para ele, a bola da Copa é
mais escorregadia que as outras quando usada na chuva.
O maior número de gols de
fora da área aconteceu justamente no grupo do Brasil. Além
do gol de Kaká, na vitória da
Austrália por 3 a 1 sobre o Japão foram dois tentos assim,
anteontem (um de cada time).
Mas é outra equipe asiática, a
Coréia do Sul, que, até o momento, detém o recorde de gols
de longa distância.
Ontem, o Togo anotou contra
os quartos colocados de 2002,
que viraram com dois gols de
longe. O do empate, feito por
Lee Chun-soo foi o primeiro e
único gol de falta desta Copa.
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