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Nem magia salva a baderna do Togo
Mesmo com feiticeiro na Alemanha, equipe perde, ameaça técnico e segue como mais atrapalhada da Copa do Mundo
Organização esqueceu até hino do país africano, que mergulha de vez em crise após a derrota de ontem por 2 a 1 para a Coréia do Sul
GUILHERME ROSEGUINI
ENVIADO ESPECIAL A FRANKFURT
Quem via o sorriso de Youssif
Katakpadu na chegada ao Estádio de Frankfurt não imaginava
o calvário que a seleção do seu
país, o Togo, vive.
Membro de uma comunidade de togoleses que moram na
Alemanha, ele distribuía palpites otimistas antes do duelo de
ontem, contra a Coréia do Sul.
Havia motivo para a alegria.
"O ritual vodu está feito. Algumas aves perderam a vida, já
que é preciso oferecer algo em
sacrifício quando pedimos uma
graça. Estamos protegidos."
Duas horas depois, Katakpadu dava dó. A princípio, pediu
para não comentar a derrota de
virada para os asiáticos -2 a 1.
Depois, desabafou. "Nada salva
esse time. Nada."
Nem poderes místicos, esperança derradeira evocada pela
torcida de um país que viveu a
história mais conturbada até
aqui neste Mundial.
Os atletas vestem uniforme
verde-e-amarelo, mas nem de
longe se comparam aos pentacampeões mundiais. Onze dos
23 jogadores do grupo não
atuam nas divisões principais
dos Nacionais que disputam
-nenhuma outra seleção tem
tantos integrantes fora da elite.
Nos bastidores, a situação
não é muito melhor. Otto Pfister, alemão que comanda o time desde janeiro, abandonou o
Togo na última sexta-feira.
Alegou não suportar uma
disputa entre os jogadores e a
federação por prêmios. Os atletas pediam 155 mil (R$ 443
mil), cada um, para disputar a
Copa, além de bônus por eventuais vitórias ou empates.
Após negociações, Pfister retornou e comandou a seleção
ontem. Só que, a julgar por sua
aparência após o revés, deve ter
se arrependido. "O problema
com o Togo e com os outros
africanos é que entram em
campo achando que o jogo já
está ganho. Aí deixam acontecer o que vocês viram aí."
Ele ficou sentado no banco
de reservas por cinco minutos
após o final. "Fiquei lá lembrando todas as chances que
perdemos", afirma.
A bagunça é tanta que seu
emprego está novamente em
risco. O destino do técnico será
definido hoje em uma reunião
entre dirigentes togoleses.
Não é por acaso, portanto,
que torcedores como Katakpadu, que abre esta reportagem,
apegavam-se apenas ao sobrenatural. A própria seleção,
aliás, trouxe um feiticeiro para
a Alemanha. Togbui Assiogbo
Gnagblondjro 3º, sacerdote do
vodu, previa vitória ontem. Por
seu prognóstico, o Togo, que
participa de seu primeiro Mundial, avançaria aos mata-matas.
Uma amostra de que sua antevisão estava errada veio antes
do apito inicial. A organização
repetiu o hino coreano duas vezes. Depois, ao perceber a gafe,
obrigou os jogadores a continuarem em formação para tocar o da nação africana.
Em campo, o Togo saiu na
frente-gol de Kader -, mas
depois degringolou. Teve um
atleta expulso (o capitão Abalo)
e outro que tropeçou no chão
sozinho e se contundiu (Assemoassa). Levou também dois
gols, dando seqüência a uma
rodada desastrosa para a África
-os quatro representantes do
continente que já jogaram perderam. A Tunísia estréia hoje
contra a Arábia Saudita.
Para os torcedores togoleses,
a impressão é de que a situação
ainda pode piorar. Nas palavras
de Katakpadu: "Sempre que diziam que nosso time era o pior
desta Copa, eu brigava. Dizia
que poderíamos ganhar até do
Brasil. Agora, já não sei mais.
Não conseguimos ganhar nem
de nós mesmos."
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