São Paulo, quarta-feira, 14 de junho de 2006

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Nem magia salva a baderna do Togo

Mesmo com feiticeiro na Alemanha, equipe perde, ameaça técnico e segue como mais atrapalhada da Copa do Mundo

Organização esqueceu até hino do país africano, que mergulha de vez em crise após a derrota de ontem por 2 a 1 para a Coréia do Sul


GUILHERME ROSEGUINI
ENVIADO ESPECIAL A FRANKFURT

Quem via o sorriso de Youssif Katakpadu na chegada ao Estádio de Frankfurt não imaginava o calvário que a seleção do seu país, o Togo, vive.
Membro de uma comunidade de togoleses que moram na Alemanha, ele distribuía palpites otimistas antes do duelo de ontem, contra a Coréia do Sul.
Havia motivo para a alegria. "O ritual vodu está feito. Algumas aves perderam a vida, já que é preciso oferecer algo em sacrifício quando pedimos uma graça. Estamos protegidos."
Duas horas depois, Katakpadu dava dó. A princípio, pediu para não comentar a derrota de virada para os asiáticos -2 a 1. Depois, desabafou. "Nada salva esse time. Nada."
Nem poderes místicos, esperança derradeira evocada pela torcida de um país que viveu a história mais conturbada até aqui neste Mundial.
Os atletas vestem uniforme verde-e-amarelo, mas nem de longe se comparam aos pentacampeões mundiais. Onze dos 23 jogadores do grupo não atuam nas divisões principais dos Nacionais que disputam -nenhuma outra seleção tem tantos integrantes fora da elite.
Nos bastidores, a situação não é muito melhor. Otto Pfister, alemão que comanda o time desde janeiro, abandonou o Togo na última sexta-feira.
Alegou não suportar uma disputa entre os jogadores e a federação por prêmios. Os atletas pediam 155 mil (R$ 443 mil), cada um, para disputar a Copa, além de bônus por eventuais vitórias ou empates.
Após negociações, Pfister retornou e comandou a seleção ontem. Só que, a julgar por sua aparência após o revés, deve ter se arrependido. "O problema com o Togo e com os outros africanos é que entram em campo achando que o jogo já está ganho. Aí deixam acontecer o que vocês viram aí."
Ele ficou sentado no banco de reservas por cinco minutos após o final. "Fiquei lá lembrando todas as chances que perdemos", afirma.
A bagunça é tanta que seu emprego está novamente em risco. O destino do técnico será definido hoje em uma reunião entre dirigentes togoleses.
Não é por acaso, portanto, que torcedores como Katakpadu, que abre esta reportagem, apegavam-se apenas ao sobrenatural. A própria seleção, aliás, trouxe um feiticeiro para a Alemanha. Togbui Assiogbo Gnagblondjro 3º, sacerdote do vodu, previa vitória ontem. Por seu prognóstico, o Togo, que participa de seu primeiro Mundial, avançaria aos mata-matas.
Uma amostra de que sua antevisão estava errada veio antes do apito inicial. A organização repetiu o hino coreano duas vezes. Depois, ao perceber a gafe, obrigou os jogadores a continuarem em formação para tocar o da nação africana.
Em campo, o Togo saiu na frente-gol de Kader -, mas depois degringolou. Teve um atleta expulso (o capitão Abalo) e outro que tropeçou no chão sozinho e se contundiu (Assemoassa). Levou também dois gols, dando seqüência a uma rodada desastrosa para a África -os quatro representantes do continente que já jogaram perderam. A Tunísia estréia hoje contra a Arábia Saudita.
Para os torcedores togoleses, a impressão é de que a situação ainda pode piorar. Nas palavras de Katakpadu: "Sempre que diziam que nosso time era o pior desta Copa, eu brigava. Dizia que poderíamos ganhar até do Brasil. Agora, já não sei mais. Não conseguimos ganhar nem de nós mesmos."


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