|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Expressões revelam traços peculiares
Compreensão de gírias e costumes ajuda na convivência com anfitriões
DE JOHANNESBURGO
Não se ofenda quando um
policial de cara feia fizer "top
top" no trânsito. Ele provavelmente está só dizendo que
a via está congestionada. O
que para nós é obsceno, para
os sul-africanos é corriqueiro. Até o sempre polido Carlos Alberto Parreira já foi filmado fazendo o gesto.
Brasileiros que estiverem
na África do Sul para a Copa
vão se cansar de ver "top
top", de ouvir "né?" e "howzit?" e de escutar a música
"Shosholozah" nos estádios.
A canção, tradicional de
trabalhadores em minas sul-
-africanas, compete com o
"Waka Waka" de Shakira nos
alto-falantes dos estádios.
Em jogos dos Bafana Bafana,
às vezes é cantada à capela,
silenciando momentaneamente as vuvuzelas.
Em zulu, "shosholozah"
significa "vamos em frente" e
é dançada com os braços dobrados junto ao corpo. Se tiver dúvida, vá ao YouTube e
procure algum vídeo de Nelson Mandela dançando-a.
Mandela, aliás, raramente
aparece em conversas de sul-africanos. Um tal "Madiba" é
muito mais famoso. Os dois
são a mesma pessoa -nome
do ex-presidente em sua tribo, os xhosa, tornou-se seu
apelido e aparece até em documentos oficiais.
Para quebrar o gelo de
uma conversa, nada como
um "howzit?", contração de
"how is it?", ou "como vai?".
É uma boa maneira de contar
com a boa vontade do interlocutor, especialmente para
quem tem inglês rudimentar.
Sul-africanos não gostam
de estranhos que já chegam
perguntando onde fica o estádio antes de um "howzit?".
Se tiver tempo, pergunte
também como está a família.
TRATAMENTO
Negros são chamados de
"chief", e brancos, em geral,
de "boss". Ambos significam
"chefe" e equivaleriam ao
nosso "amigo", endereçado
a desconhecidos. "Boss" é
resquício do apartheid,
quando negros eram obrigados a dispensar esse tratamento a brancos.
Ao final da conversa,
"ôráite" ("all right", ou tudo
bem) e "sharp-sharp" (pronuncia-se chapchap) são comuns e significam "ok",
"combinado" -"sharp" em
inglês significa "exato".
E se você identificar um
"né?" no meio de uma conversa, você não está louco. O
nosso "né?" existe na África
do Sul, igualzinho, com o
mesmo sentido. Sua origem é
um mistério: pode ter sido
trazida por moçambicanos
(que falam português) ou ser
uma variação de "nee?" (pronunciado "nié?"), o "não"
dos africâneres. Seja como
for, encaixa bem em qualquer final de frase.
(FZ)
Texto Anterior: Emissoras tentam abafar as cornetas Próximo Texto: Juan Pablo Varsky: Com a dívida paga Índice
|