São Paulo, segunda-feira, 14 de junho de 2010

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Expressões revelam traços peculiares

Compreensão de gírias e costumes ajuda na convivência com anfitriões

DE JOHANNESBURGO

Não se ofenda quando um policial de cara feia fizer "top top" no trânsito. Ele provavelmente está só dizendo que a via está congestionada. O que para nós é obsceno, para os sul-africanos é corriqueiro. Até o sempre polido Carlos Alberto Parreira já foi filmado fazendo o gesto.
Brasileiros que estiverem na África do Sul para a Copa vão se cansar de ver "top top", de ouvir "né?" e "howzit?" e de escutar a música "Shosholozah" nos estádios.
A canção, tradicional de trabalhadores em minas sul- -africanas, compete com o "Waka Waka" de Shakira nos alto-falantes dos estádios. Em jogos dos Bafana Bafana, às vezes é cantada à capela, silenciando momentaneamente as vuvuzelas.
Em zulu, "shosholozah" significa "vamos em frente" e é dançada com os braços dobrados junto ao corpo. Se tiver dúvida, vá ao YouTube e procure algum vídeo de Nelson Mandela dançando-a.
Mandela, aliás, raramente aparece em conversas de sul-africanos. Um tal "Madiba" é muito mais famoso. Os dois são a mesma pessoa -nome do ex-presidente em sua tribo, os xhosa, tornou-se seu apelido e aparece até em documentos oficiais.
Para quebrar o gelo de uma conversa, nada como um "howzit?", contração de "how is it?", ou "como vai?". É uma boa maneira de contar com a boa vontade do interlocutor, especialmente para quem tem inglês rudimentar.
Sul-africanos não gostam de estranhos que já chegam perguntando onde fica o estádio antes de um "howzit?". Se tiver tempo, pergunte também como está a família.

TRATAMENTO
Negros são chamados de "chief", e brancos, em geral, de "boss". Ambos significam "chefe" e equivaleriam ao nosso "amigo", endereçado a desconhecidos. "Boss" é resquício do apartheid, quando negros eram obrigados a dispensar esse tratamento a brancos.
Ao final da conversa, "ôráite" ("all right", ou tudo bem) e "sharp-sharp" (pronuncia-se chapchap) são comuns e significam "ok", "combinado" -"sharp" em inglês significa "exato".
E se você identificar um "né?" no meio de uma conversa, você não está louco. O nosso "né?" existe na África do Sul, igualzinho, com o mesmo sentido. Sua origem é um mistério: pode ter sido trazida por moçambicanos (que falam português) ou ser uma variação de "nee?" (pronunciado "nié?"), o "não" dos africâneres. Seja como for, encaixa bem em qualquer final de frase. (FZ)


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