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FUTEBOL
O mais triste dos torcedores
JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA
Os quatro eram velhos amigos e se encontravam no Bar
Rigão: Lino, o são-paulino, Maria
Batista, a santista, Marciano, o
corintiano, e Papagaio, o palmeirense, que tinha esse apelido pois
só se vestia de verde. Os quatro estavam abatidos e com olheiras.
Por um tempo ninguém falou
nada, mas depois do terceiro chope Marciano ergueu o copo e disse
em tom solene: ""Nada é mais triste do que ser corintiano. Em dez
dias saímos do Paulista, da Copa
do Brasil e da Libertadores"."
""Ai, a Libertadores!", emendou
Papagaio. ""Nem me fale nessa
maldita Libertadores!""
Enquanto tomava seu remédio
para o coração com um gole de
cerveja preta, Maria Batista suspirou: ""Libertadores... Um paulistinha já me deixava feliz"."
""Você não sabe o que está falando", contestou Lino, que usava
uma tarja preta no braço. ""Não
adianta nada ganhar o Paulista e
perder a Copa do Brasil em seguida. A Copa do Brasil é o maior sonho que um time pode desejar!"
Pediram mais uma rodada, ficaram mais um tempo em silêncio e depois recomeçaram a se lamentar. Lino foi o primeiro.
""É muita dor. Por que aquele
chute do Geovanni tinha que desviar na barreira!? E por que o Cléber tinha que tirar aquela bola
em cima da linha?"
""Mas vocês ganharam o Paulista", contestou Marciano. ""Duro é
fazer os investimentos que nós fizemos, montar um time caro e
não ganhar nem um vicezinho."
""Que adianta ganhar?", resmungou Papagaio. ""Nós ganhamos o Rio-São Paulo, e aí? Agora
não temos nem time pra jogar!""
""Vocês são uns chorões de primeira!", protestou, enérgica, Maria Batista. ""Queria ver vocês 16
anos sem um título importante!"
Novas rodadas de chope vieram, e a procissão de lamentos seguiu. Teriam chorado a noite inteira se não fosse a chegada de
Mariana, a lusitana, que, toda
sorridente, pediu um vinho e se
juntou a eles. Ao vê-la tão de bem
com a vida, os quatro secaram as
lágrimas.
E Mariana, a lusitana, fez mais:
os encorajou e falou sobre aprender com as derrotas. Deu certo.
Logo eles reabriram sorrisos e voltaram a falar de suas esperanças.
""Acho que vamos ser tri no Brasileiro, pois, pensando bem, o Corinthians tem o melhor elenco!",
bradou Marciano. ""Alto lá! O São
Paulo está mais entrosado!", contestou Lino. ""É, mas o Santos vai
trazer o Viola e vai ficar ainda
mais forte!", frisou Maria Batista.
""E o Palmeiras vai ser um time...
voluntarioso!", orgulhou-se Papagaio.
Todos então olharam para Mariana, e ela, que até ali parecia
tão forte, desabou.
""Não contratamos ninguém, e
vão vender o Leandro, ai!""
Cada um dos quatro tentou dizer alguma coisa, um comentário
de esperança, uma mensagem da
Seicho-no-iê, um versículo bíblico
sobre as virtudes do sofrimento.
Nada. O máximo que conseguiram foi um silêncio respeitoso.
Só o que restava era pedir mais
uma rodada de chope.
E continuam me mandando seleções absurdas. Essa, de Wellington Ramalhoso, é uma seleção
brasileira que mais parece da
ONU: Germano (Santos); Japinha
(São Caetano), Turcão (ex-Palmeiras), Mongol (ex-Botafogo) e
Russo (ex-Sport); Tcheco (ex-Paraná), Alemão (ex-Botafogo e
Napoli), China (ex-Grêmio) e
Chinesinho (ex-Palmeiras); França (São Paulo) e Somália (ex-América-MG). O técnico seria Luxemburgo, e o hino seria composto por Chico Buarque de Hollanda. Ou pelo Beto Jamaica.
Já Rafael Portugal, que pelo nome deveria estar na seleção acima, escala um time estadual: o
goleiro seria Paraíba (Náutico), e
a zaga, baiana, com Baiano (Santos), Júnior Baiano (Vasco), Edinho Baiano (Paraná) e Gil Baiano (Inter). O meio-campo seria
interestadual, com Goiano (Guarani), Gil Sergipano (Vitória) e,
para completar, um Marcelinho,
que poderia ser o Carioca, o Paulista ou o Paraíba. O ataque seria
um feudo gaúcho. Na direita ficaria Renato Gaúcho, no meio,
Gaúcho (ex-Flamengo), e na esquerda, Ronaldinho Gaúcho. Na
reserva, Gauchinho, do Santos.
E-mail torero@uol.com.br
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