São Paulo, sexta-feira, 14 de julho de 2000


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FUTEBOL
O mais triste dos torcedores

JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA

Os quatro eram velhos amigos e se encontravam no Bar Rigão: Lino, o são-paulino, Maria Batista, a santista, Marciano, o corintiano, e Papagaio, o palmeirense, que tinha esse apelido pois só se vestia de verde. Os quatro estavam abatidos e com olheiras.
Por um tempo ninguém falou nada, mas depois do terceiro chope Marciano ergueu o copo e disse em tom solene: ""Nada é mais triste do que ser corintiano. Em dez dias saímos do Paulista, da Copa do Brasil e da Libertadores"."
""Ai, a Libertadores!", emendou Papagaio. ""Nem me fale nessa maldita Libertadores!""
Enquanto tomava seu remédio para o coração com um gole de cerveja preta, Maria Batista suspirou: ""Libertadores... Um paulistinha já me deixava feliz"."
""Você não sabe o que está falando", contestou Lino, que usava uma tarja preta no braço. ""Não adianta nada ganhar o Paulista e perder a Copa do Brasil em seguida. A Copa do Brasil é o maior sonho que um time pode desejar!"
Pediram mais uma rodada, ficaram mais um tempo em silêncio e depois recomeçaram a se lamentar. Lino foi o primeiro.
""É muita dor. Por que aquele chute do Geovanni tinha que desviar na barreira!? E por que o Cléber tinha que tirar aquela bola em cima da linha?"
""Mas vocês ganharam o Paulista", contestou Marciano. ""Duro é fazer os investimentos que nós fizemos, montar um time caro e não ganhar nem um vicezinho."
""Que adianta ganhar?", resmungou Papagaio. ""Nós ganhamos o Rio-São Paulo, e aí? Agora não temos nem time pra jogar!""
""Vocês são uns chorões de primeira!", protestou, enérgica, Maria Batista. ""Queria ver vocês 16 anos sem um título importante!"
Novas rodadas de chope vieram, e a procissão de lamentos seguiu. Teriam chorado a noite inteira se não fosse a chegada de Mariana, a lusitana, que, toda sorridente, pediu um vinho e se juntou a eles. Ao vê-la tão de bem com a vida, os quatro secaram as lágrimas.
E Mariana, a lusitana, fez mais: os encorajou e falou sobre aprender com as derrotas. Deu certo. Logo eles reabriram sorrisos e voltaram a falar de suas esperanças.
""Acho que vamos ser tri no Brasileiro, pois, pensando bem, o Corinthians tem o melhor elenco!", bradou Marciano. ""Alto lá! O São Paulo está mais entrosado!", contestou Lino. ""É, mas o Santos vai trazer o Viola e vai ficar ainda mais forte!", frisou Maria Batista. ""E o Palmeiras vai ser um time... voluntarioso!", orgulhou-se Papagaio.
Todos então olharam para Mariana, e ela, que até ali parecia tão forte, desabou.
""Não contratamos ninguém, e vão vender o Leandro, ai!""
Cada um dos quatro tentou dizer alguma coisa, um comentário de esperança, uma mensagem da Seicho-no-iê, um versículo bíblico sobre as virtudes do sofrimento. Nada. O máximo que conseguiram foi um silêncio respeitoso.
Só o que restava era pedir mais uma rodada de chope.

E continuam me mandando seleções absurdas. Essa, de Wellington Ramalhoso, é uma seleção brasileira que mais parece da ONU: Germano (Santos); Japinha (São Caetano), Turcão (ex-Palmeiras), Mongol (ex-Botafogo) e Russo (ex-Sport); Tcheco (ex-Paraná), Alemão (ex-Botafogo e Napoli), China (ex-Grêmio) e Chinesinho (ex-Palmeiras); França (São Paulo) e Somália (ex-América-MG). O técnico seria Luxemburgo, e o hino seria composto por Chico Buarque de Hollanda. Ou pelo Beto Jamaica.

Já Rafael Portugal, que pelo nome deveria estar na seleção acima, escala um time estadual: o goleiro seria Paraíba (Náutico), e a zaga, baiana, com Baiano (Santos), Júnior Baiano (Vasco), Edinho Baiano (Paraná) e Gil Baiano (Inter). O meio-campo seria interestadual, com Goiano (Guarani), Gil Sergipano (Vitória) e, para completar, um Marcelinho, que poderia ser o Carioca, o Paulista ou o Paraíba. O ataque seria um feudo gaúcho. Na direita ficaria Renato Gaúcho, no meio, Gaúcho (ex-Flamengo), e na esquerda, Ronaldinho Gaúcho. Na reserva, Gauchinho, do Santos.
E-mail torero@uol.com.br


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