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Abertura carnavalizada empolga o Maracanã
Do lado de fora do estádio, os "excluídos" do Pan aproveitaram para protestar
A população atendeu à recomendação de utilizar
os transportes públicos
e não houve os grandes engarrafamentos esperados
MARIANA LAJOLO
ENVIADA ESPECIAL AO RIO
ITALO NOGUEIRA
RAPHAEL GOMIDE
SÉRGIO RANGEL
DA SUCURSAL DO RIO
Com impecável exibição ao
modo dos desfiles de Carnaval,
a festa de abertura dos Jogos
Pan-Americanos empolgou os
90 mil espectadores que lotaram o Maracanã e terminou
com uma apoteose ao som de
Daniela Mercury, após o ex-corredor Joaquim Cruz, campeão olímpico em Los Angeles-1984, e não Pelé, como chegou a
ser cogitado, acender a pira.
A cerimônia, produzida pelo
vice-presidente de entretenimento da Disney, Scott Givens,
e com direção da carnavalesca
Rosa Magalhães e do cenógrafo
Luiz Stein, teve como pontos
altos as apresentações de Céu,
que cantou "Wave" (de Tom
Jobim e Toquinho), enquanto
um balé com bandeiras azuis
imitava o mar de Copacabana, e
Adriana Calcanhotto, que fez o
estádio cantar em coro "Acalanto", música de ninar de Dorival Caymmi que remete ao
"Boi da Cara Preta".
A festa viu cinco atletas que
desfilaram receberem atendimento médico. No caso mais
grave, uma peruana (Suellen
Baylon) torceu o tornozelo e
pode ficar fora dos Jogos.
Do lado de fora
Os anti-Pan eram uma minoria, mas circundavam o Maracanã desfraldando suas bandeiras. O entorno do estádio tornou-se um palco de diferentes
manifestações dos que se consideram "excluídos" do Pan.
Punks, religiosos e moradores de favelas se misturaram
aos cerca de 90 mil espectadores e participantes do evento,
que aguardavam em longas filas e pequenas aglomerações.
Apesar dos insatisfeitos, prevaleceu a atmosfera de tranqüilidade. O temor de que o esquema de trânsito falhasse não se
concretizou. A população atendeu à recomendação de usar
transportes públicos e não houve grandes engarrafamentos.
Em lugar das queixas contra
o trânsito, restaram os protestos dos grupos, que condenavam desde o aborto à operação
no Complexo do Alemão. "O
Pan é o evento para uma minoria e expõe que não se traduz no
dia-a-dia. Queremos que esse
tipo de diferença social fizesse
parte dos Jogos", disse o missionário Leonardo Neryn, 35.
O Movimento Revolucionário Brasileiro, com cerca de 20
punks, rodou o estádio atacando o evento. "Não ficaremos calados em casa, assistindo pela
TV a essa merda do Pan. Quero
ver se, quando o Pan acabar, vai
ter policiamento ou se vão voltar todos aqueles carros sucateados! Isso é evento de burguês mesmo", afirmou Alexandre Billy, que se disse operário.
Grupos de três diferentes associações "em defesa da vida
humana" levavam faixas contra
o aborto. "Podemos matar hoje
os atletas de amanhã", disse o
zootecnista João Matias, 50.
Filas, desorientação, reclamações de falta de informação
a respeito de locais de entrada
foram as principais queixas do
público. Apesar da confusão,
causada pela falta de informações e pela passagem obrigatória pelos detectores de metais, a
espera raramente superou os
45 minutos para a entrada.
Não era permitida a entrada
de bebidas, alimentos, objetos
perfurantes e metálicos. Até canetas tiveram de ser descartadas. Dezenas de quilos de comida foram recolhidos.
A partir das 17h, meia hora
antes do início previsto, quase
todo o público já havia entrado,
e os portões já estavam vazios.
A grande quantidade de policiais, agentes da Força Nacional e da Guarda Municipal não
inibiu a ação de cambistas, que
abordavam as pessoas oferecendo ingressos por até R$ 100.
Ambulantes também agiram
no entorno do estádio, apesar
da fiscalização. O esquema de
trânsito aparentemente funcionou, beneficiado ainda pelo
ponto facultativo decretado
por prefeitura e governo do RJ,
e a liberação de funcionários de
muitas empresas ao meio-dia.
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