São Paulo, sábado, 14 de julho de 2007

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Abertura carnavalizada empolga o Maracanã

Do lado de fora do estádio, os "excluídos" do Pan aproveitaram para protestar

A população atendeu à recomendação de utilizar os transportes públicos e não houve os grandes engarrafamentos esperados


MARIANA LAJOLO
ENVIADA ESPECIAL AO RIO

ITALO NOGUEIRA
RAPHAEL GOMIDE
SÉRGIO RANGEL
DA SUCURSAL DO RIO

Com impecável exibição ao modo dos desfiles de Carnaval, a festa de abertura dos Jogos Pan-Americanos empolgou os 90 mil espectadores que lotaram o Maracanã e terminou com uma apoteose ao som de Daniela Mercury, após o ex-corredor Joaquim Cruz, campeão olímpico em Los Angeles-1984, e não Pelé, como chegou a ser cogitado, acender a pira.
A cerimônia, produzida pelo vice-presidente de entretenimento da Disney, Scott Givens, e com direção da carnavalesca Rosa Magalhães e do cenógrafo Luiz Stein, teve como pontos altos as apresentações de Céu, que cantou "Wave" (de Tom Jobim e Toquinho), enquanto um balé com bandeiras azuis imitava o mar de Copacabana, e Adriana Calcanhotto, que fez o estádio cantar em coro "Acalanto", música de ninar de Dorival Caymmi que remete ao "Boi da Cara Preta".
A festa viu cinco atletas que desfilaram receberem atendimento médico. No caso mais grave, uma peruana (Suellen Baylon) torceu o tornozelo e pode ficar fora dos Jogos.

Do lado de fora
Os anti-Pan eram uma minoria, mas circundavam o Maracanã desfraldando suas bandeiras. O entorno do estádio tornou-se um palco de diferentes manifestações dos que se consideram "excluídos" do Pan.
Punks, religiosos e moradores de favelas se misturaram aos cerca de 90 mil espectadores e participantes do evento, que aguardavam em longas filas e pequenas aglomerações.
Apesar dos insatisfeitos, prevaleceu a atmosfera de tranqüilidade. O temor de que o esquema de trânsito falhasse não se concretizou. A população atendeu à recomendação de usar transportes públicos e não houve grandes engarrafamentos.
Em lugar das queixas contra o trânsito, restaram os protestos dos grupos, que condenavam desde o aborto à operação no Complexo do Alemão. "O Pan é o evento para uma minoria e expõe que não se traduz no dia-a-dia. Queremos que esse tipo de diferença social fizesse parte dos Jogos", disse o missionário Leonardo Neryn, 35.
O Movimento Revolucionário Brasileiro, com cerca de 20 punks, rodou o estádio atacando o evento. "Não ficaremos calados em casa, assistindo pela TV a essa merda do Pan. Quero ver se, quando o Pan acabar, vai ter policiamento ou se vão voltar todos aqueles carros sucateados! Isso é evento de burguês mesmo", afirmou Alexandre Billy, que se disse operário.
Grupos de três diferentes associações "em defesa da vida humana" levavam faixas contra o aborto. "Podemos matar hoje os atletas de amanhã", disse o zootecnista João Matias, 50.
Filas, desorientação, reclamações de falta de informação a respeito de locais de entrada foram as principais queixas do público. Apesar da confusão, causada pela falta de informações e pela passagem obrigatória pelos detectores de metais, a espera raramente superou os 45 minutos para a entrada.
Não era permitida a entrada de bebidas, alimentos, objetos perfurantes e metálicos. Até canetas tiveram de ser descartadas. Dezenas de quilos de comida foram recolhidos.
A partir das 17h, meia hora antes do início previsto, quase todo o público já havia entrado, e os portões já estavam vazios.
A grande quantidade de policiais, agentes da Força Nacional e da Guarda Municipal não inibiu a ação de cambistas, que abordavam as pessoas oferecendo ingressos por até R$ 100. Ambulantes também agiram no entorno do estádio, apesar da fiscalização. O esquema de trânsito aparentemente funcionou, beneficiado ainda pelo ponto facultativo decretado por prefeitura e governo do RJ, e a liberação de funcionários de muitas empresas ao meio-dia.


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