São Paulo, segunda-feira, 14 de agosto de 2000


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FUTEBOL
Do nada a lugar nenhum

FÁBIO VICTOR
DA REPORTAGEM LOCAL

Para mostrar o absurdo que é a Copa João Havelange não seria preciso lembrar que se trata da competição mais inchada da história do país, com 116 participantes.
Poderia-se também esquecer que os dirigentes do Clube dos 13 se aproveitaram do imbróglio jurídico que antecedeu o torneio para virar mais uma vez a mesa da bodega em que se transformou o futebol nacional, incluindo na primeira divisão seus sócios Fluminense e Bahia, além de Juventude e América-MG.
Desnecessário até enumerar as aberrações da tabela, que privilegia alguns times em detrimento de maratonas insanas de outros e programa jogos para 22h, quase pedindo ao torcedor: "Não vá ao estádio, por favor, fique em casa vendo o jogo pela TV".
Um simples olhar sobre o regulamento revela o que talvez seja o maior ridículo entre os tantos ridículos do torneio, aquilo que o torna fadado ao fracasso.
Na Copa JH, ninguém sobe e ninguém desce: os times da segunda e terceira divisões não têm possibilidade de galgar uma etapa no ano que vem, assim como os da primeira e segunda estão livres da ameaça da degola.
Excluir o acesso e o descenso foi a forma encontrada pelos modernos dirigentes brasileiros, assessorados pelos acadêmicos da Fundação Getúlio Vargas, para garantir a realização do ameaçado Campeonato Brasileiro-2000 e, ao mesmo tempo, preparar terreno para a realização da Liga de Clubes no próximo ano.
Além, é claro, de livrar a pele de alguns grandes clubes que, vigorando o regulamento do ano passado, estariam ameaçados pela fórmula do rebaixamento, que consideraria a performance acumulada dos três últimos torneios.
Seria lindo defender que essa competitividade predatória é um detalhe perto do espetáculo do futebol, que a histórica filosofia de premiar e punir não pode ofuscar os craques, suas jogadas, a disputa saudável pelo título de campeão, blablablá, blablablá...
Seria, não fosse isso uma das essências do futebol, um dos principais combustíveis da paixão do torcedor.
Imagine seu time ocupando os últimos lugares o Módulo Azul, a primeira divisão do campeonato arco-íris do Clube dos 13, nas últimas rodadas.
Num torneio decente, você, mesmo morrendo de medo, faria questão de estar em campo, carregando o seu time nas costas em momento tão desesperador. E desta vez, o que o motivará? A certeza de que seu lugar na elite está garantido em 2001?
A situação dos fanáticos do Módulo Amarelo é tão ou mais irritante. Lá está o seu time nas cabeceiras da segunda divisão, instantes finais do campeonato.
O que faz você? Convoca família, amigos, vizinhos, gato e cachorro para, juntos, empurrarem o escrete à primeira divisão, olimpo de todo torcedor? Não, não na Copa JH.
À guisa de esmola, o Clube dos 13 abriu quatro vaguinhas na segunda fase para os 91 pobres coitados da segunda e terceira divisões se estapearem pela chance de ser campeão do torneio.
Mas o óbolo é pouco para esconder o óbvio: a Copa João Havelange é uma estrada que liga o nada a lugar nenhum.
Programados para dissipar as últimas dúvidas de Wanderley Luxemburgo em relação ao grupo de 18 convocados para Sydney, os amistosos contra o Chile serviram para dificultar ainda mais a vida do treinador da seleção.
Testados pela primeira vez, Geovanni, Roger e André Luís saíram-se muito bem, obrigando Luxemburgo a riscar do seu caderno alguns nomes que, por também terem mostrado seu valor em outras oportunidades, já pareciam garantidos na Olimpíada e demonstrando mais uma vez que o Brasil, apesar de Euricos, Teixeiras e Koffs, é um poço inesgotável de talentos.
Sem falar nas injustiças inerentes aos testes de última hora: o jovem Leandro, goleador nato, atacante que poderia ajudar muito a seleção a conquistar o ouro, jogou pouco e mal em Florianópolis e diminuiu as suas chances de viajar para a Austrália.


Hoje, excepcionalmente, a coluna de José Geraldo Couto não é publicada.


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