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FUTEBOL
Do nada a lugar nenhum
FÁBIO VICTOR
DA REPORTAGEM LOCAL
Para mostrar o absurdo
que é a Copa João Havelange
não seria preciso lembrar que se
trata da competição mais inchada da história do país, com 116
participantes.
Poderia-se também esquecer
que os dirigentes do Clube dos 13
se aproveitaram do imbróglio jurídico que antecedeu o torneio
para virar mais uma vez a mesa
da bodega em que se transformou
o futebol nacional, incluindo na
primeira divisão seus sócios Fluminense e Bahia, além de Juventude e América-MG.
Desnecessário até enumerar as
aberrações da tabela, que privilegia alguns times em detrimento
de maratonas insanas de outros e
programa jogos para 22h, quase
pedindo ao torcedor: "Não vá ao
estádio, por favor, fique em casa
vendo o jogo pela TV".
Um simples olhar sobre o regulamento revela o que talvez seja o
maior ridículo entre os tantos ridículos do torneio, aquilo que o
torna fadado ao fracasso.
Na Copa JH, ninguém sobe e
ninguém desce: os times da segunda e terceira divisões não têm
possibilidade de galgar uma etapa no ano que vem, assim como
os da primeira e segunda estão livres da ameaça da degola.
Excluir o acesso e o descenso foi
a forma encontrada pelos modernos dirigentes brasileiros, assessorados pelos acadêmicos da Fundação Getúlio Vargas, para garantir a realização do ameaçado
Campeonato Brasileiro-2000 e,
ao mesmo tempo, preparar terreno para a realização da Liga de
Clubes no próximo ano.
Além, é claro, de livrar a pele de
alguns grandes clubes que, vigorando o regulamento do ano passado, estariam ameaçados pela
fórmula do rebaixamento, que
consideraria a performance acumulada dos três últimos torneios.
Seria lindo defender que essa
competitividade predatória é um
detalhe perto do espetáculo do futebol, que a histórica filosofia de
premiar e punir não pode ofuscar
os craques, suas jogadas, a disputa saudável pelo título de campeão, blablablá, blablablá...
Seria, não fosse isso uma das essências do futebol, um dos principais combustíveis da paixão do
torcedor.
Imagine seu time ocupando os
últimos lugares o Módulo Azul, a
primeira divisão do campeonato
arco-íris do Clube dos 13, nas últimas rodadas.
Num torneio decente, você,
mesmo morrendo de medo, faria
questão de estar em campo, carregando o seu time nas costas em
momento tão desesperador. E
desta vez, o que o motivará? A
certeza de que seu lugar na elite
está garantido em 2001?
A situação dos fanáticos do Módulo Amarelo é tão ou mais irritante. Lá está o seu time nas cabeceiras da segunda divisão, instantes finais do campeonato.
O que faz você? Convoca família, amigos, vizinhos, gato e cachorro para, juntos, empurrarem
o escrete à primeira divisão, olimpo de todo torcedor? Não, não na
Copa JH.
À guisa de esmola, o Clube dos
13 abriu quatro vaguinhas na segunda fase para os 91 pobres coitados da segunda e terceira divisões se estapearem pela chance de
ser campeão do torneio.
Mas o óbolo é pouco para esconder o óbvio: a Copa João Havelange é uma estrada que liga o
nada a lugar nenhum.
Programados para dissipar as
últimas dúvidas de Wanderley
Luxemburgo em relação ao grupo
de 18 convocados para Sydney, os
amistosos contra o Chile serviram
para dificultar ainda mais a vida
do treinador da seleção.
Testados pela primeira vez,
Geovanni, Roger e André Luís
saíram-se muito bem, obrigando
Luxemburgo a riscar do seu caderno alguns nomes que, por
também terem mostrado seu valor em outras oportunidades, já
pareciam garantidos na Olimpíada e demonstrando mais uma vez
que o Brasil, apesar de Euricos,
Teixeiras e Koffs, é um poço inesgotável de talentos.
Sem falar nas injustiças inerentes aos testes de última hora: o jovem Leandro, goleador nato, atacante que poderia ajudar muito a
seleção a conquistar o ouro, jogou
pouco e mal em Florianópolis e
diminuiu as suas chances de viajar para a Austrália.
Hoje, excepcionalmente, a coluna de José Geraldo Couto não é publicada.
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