São Paulo, quarta-feira, 14 de novembro de 2001

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Em clima de festa e com a perspectiva de apagar boa parte de seus problemas, a seleção brasileira responde hoje à noite contra a Venezuela, no Maranhão, se e como irá para a Copa de 2002

Todos juntos vamos?

Ormuzd Alves/Folha Imagem
Com Emerson à frente, atletas da seleção descansam, na véspera do jogo decisivo contra a Venezuela, em hotel de São Luís


FÁBIO VICTOR
JOSÉ ALBERTO BOMBIG
SÉRGIO RANGEL
ENVIADOS ESPECIAIS A SÃO LUÍS

Sem um salvador da pátria, sem moral, sem perspectiva, sem um time de verdade e sem a confiança plena da torcida, a seleção brasileira tenta hoje se classificar, no último jogo das eliminatórias da Copa-2002, para seu 17º Mundial.
Com uma presidenciável nas tribunas, com caciques de um partido que pode decidir o futuro da CPI do Futebol, com quase todos os presidentes de federações estaduais e com executivos de todas as matizes de calculadora na mão, a seleção precisa hoje promover a festa da classificação.
No meio de tudo isso, 75 mil torcedores nas arquibancadas do estádio Castelão e milhões pela TV aguardam a resposta para algo que nunca se imaginou: se é real a chance de o Brasil, o país do futebol, a pátria de chuteiras, a terra de Pelé, não se classificar para uma Copa pela primeira vez.
A chance é pequena, mas real. Como a Venezuela, o adversário da noite, país sem tradição no futebol que resolveu jogar bola de uma hora para outra -venceu seus últimos quatro jogos nas eliminatórias, a despeito de não ter mais chances de classificação.
A chance é pequena, mas real. O Brasil está na Copa se vencer. Se empatar, terá que torcer para o concorrente direto Uruguai não ganhar da já classificada Argentina em Montevidéu. Se perder, terá que acompanhar o também já classificado Paraguai contra a outra concorrente direta, a Colômbia. A combinação desses três resultados define o quarto classificado da América do Sul e o quinto na tabela, que disputará a repescagem contra a Austrália na próxima semana. A pior dessas três seleções estará fora da Copa.
Sim, pode ser a brasileira.
A matemática é grande para que isso aconteça. Mas, após derrotas para o Equador, pelas eliminatórias, para a Austrália, pela Copa das Confederações, e para Honduras, pela Copa América, a atual seleção brasileira de futebol não permite mais apelos à tradição ou à lógica. Faz as contas e, se não se imagina fora de uma Copa, pelo menos já planeja como seria a repescagem contra a Austrália.
Situação vexatória para um time que deveria se classificar com facilidade na mais longa eliminatória já realizada, todos contra todos, ida e volta, durante dois anos. Período em que a seleção consumiu três técnicos -Luiz Felipe Scolari está na bica-, a paciência do torcedor e grande parte da reputação do futebol nacional.
Em 17 partidas, 8 vitórias, 3 empates, 6 derrotas, 28 gols marcados, 17 sofridos, 59 jogadores utilizados, ausência total de padrão tático. Até aí seria apenas mau futebol. Só que, no mesmo espaço de tempo, vieram uma chuva de escândalos, casos de polícia, duas CPIs no Congresso, uma infinidade de acusações, da exportação ilegal de jovens jogadores ao uso impróprio de recursos da CBF.
Para completar, um campeonato nacional barrado por um time da segunda divisão, um torneio organizado por clubes, uma final que por pouco não vira tragédia, intromissão direta da TV e a desvalorização do produto futebol.
Efeitos do mau futebol? Ou as causas do mau futebol?
Jogando bem ou não, o Brasil enfrenta a Venezuela a partir das 21h40, em São Luís, no Maranhão, com TV e sem racionamento de energia. Com direito a festa por uma eventual classificação, uso político do futebol e uma provável varrição completa dos problemas.
Não há script para a derrota, muito menos para uma até aqui improvável não-classificação à Copa. O país do futebol não está preparado para não sê-lo.


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